Como as medidas de El Salvador para o Bitcoin vão mudar as criptomoedas?

A aprovação do Congresso de El Salvador reconheceu o Bitcoin como moeda oficial no país e pode levar outras nações do continente à mesma iniciativa.

Um projeto apresentado pelo presidente de El Salvador e aprovado nesta semana pelo congresso do país com ampla maioria estremeceu o mercado de criptomoedas ao reconhecer o Bitcoin como moeda legal, em iniciativa pioneira no mundo.

Como noticiou o Cointelegraph Brasil, a aprovação do Bitcoin como moeda oficial em um país pode ter um impacto profundo nos planos de regulação de criptomoedas em países de todo mundo.

Com o Bitcoin como moeda legal em El Salvador pelo presidente Nayib Bukele, a criptomoeda pode ganhar status de moeda estrangeira em qualquer um dos países que tem relações diplomáticas e comerciais com a nação caribenha, entre eles o Brasil e os Estados Unidos.

Nesta quinta-feira, o presidente de El Salvador se reúne com o Fundo Monetário Internacional para agilizar os trâmites legais para o reconhecimento da criptomoeda, incluindo o lançamento de uma carteira oficial de BTC e o investimento de US$ 150 milhões em Bitcoin para assumir os riscos dos comerciantes na negociação da criptomoeda.

Além disso, os estrangeiros que investirem pelo o menos 3 BTC em El Salvador têm direito a residência permanente no país. O presidente, porém, não tem planos ainda de tornar o Bitcoin a moeda de reserva oficial do país:

“Não sei se isso está evoluindo muito rápido. Não estamos descartando ter Bitcoin em nossas reservas em um futuro próximo”.

A iniciativa de El Salvador já desencadeou uma reação em cadeia em outras nações em desenvolvimento no mundo. Autoridades no Paraguai, Panamá, Argentina, Colômbia, México, Brasil e Equador se pronunciaram a favor do reconhecimento da criptomoeda como uma moeda legal, apesar das intenções dos políticos neste sentido ainda não estejam totalmente claras.

O governo de El Salvador também está de olho na mineração de Bitcoin, estudando formas de minerar a criptomoeda através da energia dos vulcões espalhados pelo país.

O que podemos dizer mesmo, como afirma um post do Medium sobre o tema, é que o reconhecimento do Bitcoin por um estado-nação é um marco que já mudou o potencial e o status legal da criptomoeda em todo o mundo.

O post elencou três mudanças profundas para o criptomercado a partir do momento em que o Bitcoin for oficialmente a moeda oficial de El Salvador. Vamos a elas.

1. A ideia de que governos podem proibir o Bitcoin está oficialmente descartada

Claro, alguns ditadores – e projetos de ditadores – podem inventar um motivo para criminalizar a propriedade e o uso do Bitcoin exemplos para proteger seus regimes autoritários (ou encontrar um bode expiatório), mas agora temos pelo menos um país que considera o Bitcoin legal. Os detratores do mercado cripto vão certamente apontar fatos como El Salvador ser uma nação pequena, ou o fato de que os funcionários do governo podem ser corruptos. Mas hoje temos mais uma confirmação de que o Bitcoin é uma proteção financeira e até algumas nações estão começando a reconhecer isso. Mesmo que não tenhamos um grande número de nações que reconheça o Bitcoin como moeda legal, a adoção e a regulação agora devem levar proprietários e empresas de Bitcoin a uma relação muito mais amigável com o Bitcoin.

2. A ideia de que o Bitcoin não é uma moeda por conta da volatilidade foi por água abaixo

O países que comandam o mundo ocidental vai precisar rever seus privilégios financeiros em relação à adoção do dólar e do ouro como moedas-base, enquanto muitos países do mundo sofrem para manter paridade com essas moedas no comércio internacional. Já temos uma nação escolheu o Bitcoin para operar em um sistema alheio ao dólar e os políticos latino-americanos estão apenas começando a debater esta ideia. Os americanos do centro e do sul do continente já debatem a opção de comandar suas vidas e trabalho em Bitcoin. Além disso, é importante destacar como o projeto de lei aprovado no Congresso salvadorenho era todo baseado no Bitcoin. O país deu status de legalidade ao Bitcoin, mas não para qualquer outra criptomoeda, nem mesmo stablecoins de dólares americanos, moedas digitais do banco central (CBDC) ou moedas digitais supranacionais (como créditos do FMI ou do BIS, por exemplo), independentemente da volatilidade. Bitcoin é uma moeda porque as pessoas estão dispostas a usá-lo e negociá-lo e, por causa disso, outras nações agora estarão dispostas a classificá-lo como moeda legal.

O Bitcoin não é arriscado para uma nação por sua volatilidade de preço em termos de dólares, pelo contrário: em vez disso, moedas fiduciárias como o dólar americano são arriscadas para uma nação sem sua própria moeda como El Salvador, especialmente dado o peso fiscal e monetário dos Estados Unidos na economia global. Os salvadorenhos não têm qualquer direito sobre o dólar, mesmo tendo a moeda como moeda-base da economia. Com o Bitcoin, a política é baseada em um algoritmo, nivelando o campo de jogo monetário contra as nações mais poderosas e que usam o peso econômico por interesses políticos.

3. Bitcoin é, mais do que nunca, uma força geopolítica

O projeto de lei do Bitcoin de El Salvador e as potenciais as nações latino-americanas que podem embarcar na mesma onda reforçam um aspecto crucial da atual revolução monetária do Bitcoin. Muitas nações da América Latina têm uma relação de amor e ódio com o dólar americano. El Salvador, Equador e Panamá são economias completamente dolarizadas e, portanto, têm economias e taxas de inflação que estão sujeitas a ações políticas aplicadas ao norte do continente. Eles, no entanto, dependem em grande parte do consumidor americano e das relações comerciais americanas para uma economia saudável.

A legislação salvadorenha nos lembra que as nações latino-americanas não ficarão para sempre na sombra dos Estados Unidos. Não é novidade para ninguém que os Estados Unidos construiu seu poder econômico e militar explorando vizinhos, financiando e comandando golpes de Estado e usando o FMI para agiotagem, mesmo que as elites continentais torçam o nariz para a realidade.

A adoção do Bitcoin em todo o mundo, porém, não é ruim para os Estados Unidos ou mesmo para o dólar americano como moeda internacional: a população e as empresas estadunidenses podem se beneficiar de uma revolução do Bitcoin, porque uma parte considerável do dinheiro investido em Bitcoin já está atrelada aos Estados Unidos. Porém, os EUA devem tomar uma posição e moldar sua própria política pública em torno do Bitcoin. Caso contrário, os bitcoiners e empresas de criptomoedas estarão de malas prontas para economias que reconhecem a força do Bitcoin para a economia e geopolítica globais.

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