Como montar um portfólio de criptomoedas para atravessar tempos de incerteza no mercado

É fundamental traçar objetivos claros para administrar um portfólio com ativos diversos, levando em conta a tolerância ao risco e o horizonte temporal do investimento.

Há apenas uma certeza quando se trata dos ciclos de mercado. Após uma temporada de alta segue-se uma temporada de baixa e assim sucessivamente. Os ciclos do mercado de criptomoedas até hoje se estruturaram em torno do halving do Bitcoin (BTC), um evento periódico que acontece mais ou menos de quatro em quatro anos quando a taxa de emissão de novos BTCs é reduzida pela metade, provocando, em tese, uma escassez de novas moedas.

À medida que a demanda permanecer no mínimo a mesma anterior ao evento, a redução tende a catalisar a alta do mercado. Isso, sem contar o aumento crescente da adoção verificada desde que o Bitcoin entrou em circulação. Mais, sendo o Bitcoin a principal criptomoeda do mercado, respondendo por aproximadamente 40% da capitalização total de todos os criptoativos em circulação, o BTC é a força dominante no que diz respeito aos movimentos do mercado.

Em geral o preço do Bitcoin corrige até 80% em relação à sua máxima histórica para então retomar o crescimento até atingir um novo recorde. Até 2021, a “teoria” dos ciclos do mercado de criptomoedas baseada no halving funcionara perfeitamente.

No entanto, durante o mais recente ciclo de alta, cujo ápice foi alcançado em novembro do ano passado, quando o Bitcoin chegou a valer US$ 69.000, começaram a surgir novas teorias sugerindo que o ciclo de quatro anos pode ter chegado ao fim.

Seus defensores argumentam que já neste exato momento estamos vivendo uma nova era do comportamento do mercado de criptomoedas, caracterizado fundamentalmente por correções menos severas e altas igualmente menos exponenciais do Bitcoin.

Diante desta nova narrativa, associada a um começo de ano que até agora foi negativo para o mercado como um todo, com o Bitcoin e o Ethereum (ETH), a segunda maior criptomoeda em termos de capitalização de mercado, registrando variações anuais negativas de 9% e 12%, respectivamente, sequer há unanimidade entre os analistas sobre estarmos atravessando um ciclo de baixa, cujo final ainda não aparece no horizonte, ou apenas um movimento de lateralização natural em ciclos de alta, antes da retomada do crescimento.

Some-se a essa dúvida um cenário geopolítico extremamente tensionado pela oposição entre a Rússia e as potências ocidentais e a guinada macroeconômica do Banco Central dos EUA (Fed) em direção a um aperto monetário que promete secar a abundante liquidez dos mercados financeiros globais e os riscos para o investidor apresentam-se imprevisíveis.

A verdade é que há muitas coisas acontecendo nos mercados – e não apenas no de criptomoedas – que nunca aconteceram antes. Ao mesmo tempo que isso torna as coisas interessantes e pode abrir novas oportunidades, também há perigo no ar.

Nos EUA, o Fed nunca teve um balanço tão grande para reduzir ou manteve as taxas de juros tão abaixo da inflação. Além disso, a instituição ainda tem o desafio de tentar consertar um choque de oferta global com instrumentos domésticos de política monetária.

Seja do ponto de vista geopolítico, financeiro ou social, estamos atravessando um período sem precedentes. Assim, não há razão para pensar que o passado pode servir de guia para o futuro. Pensando exclusivamente em seus investimentos em criptomoedas, os investidores devem montar uma estratégia para atravessar esses tempos turbulentos sem perdas, minimizando riscos, para estar pronto para potencializar os lucros quando o ciclo de alta for retomado.

Sob esta perspectiva, o Cointelegraph Brasil apresenta algumas estratégias para montagem de portfólios 100% baseados em criptoativos.

Montando uma equipe

A montagem de um portfólio é similar à formação de uma equipe de trabalho. Cada posição a ser preenchida deve ter o seu objetivo específico. Assim, deve-se entender que basicamente há quatro tipos de ativos a serem levados em conta na composição de uma carteira equilibrada. Abaixo, uma breve descrição de cada um deles e suas respectivas funções:

Blue Chips: Baixo risco e boa perspectiva de valorização no longo prazo. Bitcoin e Ethereum são unanimidades nesta categoria. Dependendo das convicções do investidor, outros ativos do top 10 podem ser enquadrados aqui, como por exemplo Solana (SOL), Polkadot (DOT), Terra (LUNA) e Avalanche (AVAX);

Risco Médio: caracterizam-se por um equilíbrio interessante de risco-retorno na medida em que ainda não estão no top 10 e portanto têm espaço para crescer, mas ao mesmo tempo estão desenvolvidas suficientemente para não correrem o risco de tornarem-se irrelevantes.

Enquadram-se nesta categoria protocolos que fornecem serviços de infraestrutura à redes blockchain e plataformas de contratos inteligentes de camada 1 alternativas: Cosmos (ATOM), Near Protocol (NEAR), Algorand (ALGO), Fantom (FTM), Moonbeam (GLMR) e Chainlink (LINK), Aave (AAVE), Polygon (MATIC), The Graph (GRT), Helium (HNT) são alguns dos exemplos;

Alto Risco: posições em que os investidores apostam com vistas a obter retornos exponenciais entre 10 e 100 vezes os valores inicialmente aportados. Trata-se de uma categoria ampla, haja visto a quantidade de criptomoedas existentes hoje no mercado. Uma boa forma de se guiar nesse universo praticamente ilimitado é investigando e descobrindo as melhores oportunidades por nicho de mercado.

Por exemplo, tokens relacionados ao metaverso, como The Sandbox (SAND) e Decentraland (MANA); de games, como Axie Infinity (AXS), DeFi Kingdoms (JEWEL) e Pegaxy (PGX); de concorrentes de plataformas da web 2.0 que prentendem oferecer os mesmos serviços, porém de formas descentralizadas, como Theta Network (THETA), Audius (AUDIO) e Filecoin (FIL);

Enfim, faça a sua própria pesquisa e procure opções de investimento naqueles nichos nos quais você tem mais interesse, pois suas chances de sucesso serão maiores.

Stablecoins: fundamentais para a preservação do capital e para manter a liquidez necessária para aproveitar oportunidades de compra sempre que elas aparecerem. Também podem ser utilizadas em protocolos de poupança como forma de obter rendimentos entre 2% e 20% ao ano com baixo risco.

Alocação

A partir destas quatro categorias, também são inúmeras as possibilidades de alocação dependendo do perfil de cada investidor. Em destaque, abaixo, o Cointelegraph Brasil apresenta cinco estratégias de alocação.

1. Maximalistas do Bitcoin

Mais do que uma opção financeira, por trás desta estratégia há um imperativo filosófico. O Bitcoin é a única criptomoeda verdadeiramente descentralizada e está destinada a se tornar o padrão monetário internacional no futuro. Caso isso de fato aconteça, qualquer previsão a respeito de sua potencial valorização não passa de um exercício de imaginação e aqueles que se mantiverem fiéis aos ideais de Satoshi Nakamoto serão devidamente recompensados.

A verdade é que, hoje, tal cenário não passa de mera especulação e nada indica que possa se materializar num horizonte próximo. A verdade é que a fase de valorização exponencial do Bitcoin, capaz de fazer um investidor milionário a partir de um aporte modesto parece ter ficado no passado. Por outro lado, a solidez do Bitcoin é incontestável e sem dúvida ele é o criptoativo que oferece maior proteção contra a volatilidade do mercado.

2.  Conservador

Uma estratégia conservadora é interessante para aqueles que não têm interesse em gastar seu tempo tentando descobrir o próximo hype do mercado de criptomoedas, o que na verdade pode ser bastante exaustivo e pouco compensador, podem optar por um portfólio baseado nos dois principais ativos do mercado: Bitcoin e Ethereum.

Em termos proporcionais, quanto mais Bitcoin, mais conservador o portfólio. Atualmente, às vésperas do The Merge, atualização que vai fazer com que o Ethereum abandone a Prova-de-Trabalho (PoW) como mecanismo de consenso para adotar a Prova-de-Participação (PoS), uma proporção de 50%-50% pode ser a mais adequada em termos de risco-retorno.

Outra opção neste caso é manter algo entre 20% e 25% em stablecoins para se beneficiar das oportunidades pontuais do mercado.

3. Ousado

Esta estratégia evita ativos de risco médio através de um equilíbrio entre o alto risco de altcoins de pequena capitalização de mercado e a máxima segurança de Bitcoin, Ethereum e stablecoins. Como não se trata de uma opção isenta de riscos, a alocação depende do perfil do investidor.

Em um portfólios desta natureza, as stablecoins cumprem um papel importante na manutenção do equilíbrio das posições, uma vez que as altcoins são mais suscetíveis à volatilidade do mercado. Elas serão utilizadas para a realização de lucros quando os ativos atingirem os alvos de valorização determinados pelo investidor e também servirão para aproveitar eventuais baixas do mercado. Portanto, elas devem responder por 20% a 30% da carteira.

4. Equilibrado

Um portfólio verdadeiramente equilibrado exclui ativos de alto risco e concentra-se em blue chipsstablecoins e ativos de médio risco. Não havendo preocupações exacerbadas com os riscos do mercado, a alocação suegerida prevê 25% em stablecoins e algo entre 40% a 60% em blue chips, com o restante em ativos de médio risco.

Trata-se da composição ideal para investidores que fazem um acompanhamento recorrente do mercado e são capazes de identificar tendências quando elas ainda estão em fase inicial, mesmo não sendo especialistas no assunto.

5. Diversificado

 Um portfólio diversificado deve buscar exposição aos principais setores da indústria de criptomoedas, com 60% dedicado a blue chips e ativos de risco médio, de 15% a 20% alocados em stablecoins e o restante em ativos de alto risco.

No entanto, é importante não exagerar na diversificação pulverizando pequenas alocações em diferentes criptomoedas, pois um investidor dedicado deve manter-se atualizado sobre os ativos que possui. Além disso, mesmo que alguma das moedas se valorize de forma substancial, os lucros serão pequenos, uma vez que o investimento inicial não foi significativo.

Observações gerais

É fundamental traçar objetivos claros para conseguir administrar um portfólio com ativos diversos, levando em conta a tolerância ao risco e o horizonte temporal do investimento.

Adotar posturas muito agressivas e a exagerar na diversificação são os erros mais comuns de investidores inexperientes. É prudente evitá-los para obter sucesso.

Portfólios em mercados de alta ou de baixa devem ter perfis diferentes, sendo que o primeiro favorece operações mais agressivas enquanto o segundo recomenda cautela.

O rebalanceamento das posições é um instrumento fundamental para maximização dos lucros e proteção do patrimônio. Basicamente, o investidor deve definir a participação de cada ativo na composição de seu portfólio junto com suas metas de retorno. Rebalanceá-lo significa comprar e vender ativos para manter as alocações dentro dos limites estabelecidos.

Quando algum ativo ultrapassa em 5% o total da sua alocação, seja em caso de perdas ou ganhos, talvez seja hora de fazer um reposicionamento. Se uma posição de alto risco obtém uma valorização exponencial a ponto de tornar-se 10% do total do seu portfólio é hora de realizar os lucros. Assim como em caso de prejuízo é melhor desfazer-se da posição do que potencializar as perdas.

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