Hora de admitir: essa moeda está destruindo o meio ambiente

Se o título acima te fez pensar no bitcoin — antes da moeda do Tio Sam — este texto foi escrito pra você.

Já sabemos: o bitcoin é anti-verde, anti-meio-ambiente, anti-governo — no melhor dos casos, um “desperdício” de energia que contribui diretamente com o aquecimento global.

A essa altura, a força de uma narrativa tem menos a ver com a verdade, e mais com a capacidade de seduzir mentes. E a trama do “bitcoin é mau pro meio ambiente” tem feito a cabeça de muita gente. Esta é a verdade.

Paradigma resolveu desnudá-la. Fez e publicou uma pesquisa pra te te ajudar a repensar como as suas escolhas monetárias afetam a situação do planeta. São 17 páginas e mais de 20 gráficos, que você pode ler aqui.

Abaixo, estão os principais pontos do relatório, endereçando 3 das críticas mais comuns à criptomoeda.

Uma charge dos anos 1900 sobre o perigo dos postes de luz; uma matéria de 1999 sobre PCs e a necessidade de se minerar mais carvão; uma manchete de 2017 fazendo projeções chocantes para o Bitcoin.Forbes/Divulgação

1. O bitcoin consome energia demais — mais que um país inteiro

Costuma-se comparar a demanda elétrica do bitcoin à de certos países.

Primeiro, é preciso notar que a eletricidade usada pela rede se origina de muitos países diferentes. Abaixo, você vê quanto de fato essa demanda representa, aproximadamente, dentro do total que cada país já produz e gasta de eletricidade.

Consumo energético do bitcoin por paísCoinDesk/Divulgação

Ou seja: não há uma grande Argentina em algum canto do mundo dedicando todos os seus recursos à criptomoeda. Pelo contrário: cada país decide independentemente onde incentivar o dispêndio de seu capital, alguns acabam hospedando empreendedores que investem mais em bitcoin, outros acabam não investindo nada.

Segundo, é preciso apontar que essa comparação não constitui um argumento em si, mas sim uma figura de linguagem, um ponto de exclamação. O consumo de eletricidade na mineração vira computação e calor. O processo não libera gás carbônico na atmosfera. É a produção dessa eletricidade (cujo método depende da sua origem) que tem impactos ambientais mensuráveis.

2. O bitcoin polui o planeta — e vai esquentar a Terra

Sim, o bitcoin demanda eletricidade. A produção desta envolve processos que emitem dióxido de carbono. E este é um dos gases responsáveis pelas mudanças climáticas induzidas por humanos.

O grosso da emissão de CO2 envolvendo eletricidade está na sua produção. A eletricidade usada pelo Bitcoin vem de fontes limpas numa porcentagem maior que a dos EUA, da China, e a média mundialCBECI/FriarMcHass/Divulgação

Nenhuma atividade praticada em escala industrial depende exclusivamente de uma única fonte de energia. O conceito do “Mix Energético” (ou “Matriz Energética“) surge da necessidade de se auferir de onde vem a eletricidade usada por cada indústria ou país, para, então, atribuir uma pegada de carbono aproximada para o processo de produção dessa eletricidade. Eletricidade originada da queima de combustíveis fósseis tem uma pegada maior que eletricidade originada de fontes “renováveis”, como de hidrelétricas.

Primeiro, é preciso dizer que a mineração de bitcoin tem um Mix Energético mais limpo que o dos EUA, da China e do que a média mundial entre países. Perto de metade da eletricidade alimentando a criptomoeda vem de hidrelétricas ou usinas nucleares—e isto se usarmos a faixa inferior das estimativas atuais (não há uma forma de estabalecer o número preciso, e ele é altamente sazonal). No mais, a tendência é de crescimento da representatividade de fontes “verdes”, nos últimos anos, em detrimento do carvão.

Segundo, é preciso reconhecer que toda a atividade humana (até um simples respiro) emite CO2.

Num extremo, nós podemos dedicar esforços a tentar moralizar cada alocação individual de recurso. No outro extremo, focamos em fomentar sistemas que nos levem a, simplesmente, consumir menos.

Se escolhermos a primeira rota, há outras indústrias que demandam mais eletricidade e servem menos pessoas (que o bitcoin)— merecendo, pela mesma lógica, prioridade no escrutínio. Comparações com estes casos evidenciam o absurdo contido no alarmismo sobre o bitcoin.

Máquinas de secar roupa, só nos EUA, consomem mais eletricidade que o bitcoin no mundo inteiro. O mesmo vale para luzes de Natal — só nos EUA, pelo período do ano em que ficam ligadas, demandam mais que a criptomoeda.

Se estas atividades não estão na pauta dos anti-coiners com pelo menos a mesma ênfase dada ao bitcoin, a motivação da crítica provavelmente não é só a pegada de carbono.

<span class=”hidden”>-</span>Fred Moon/Divulgação

3. O bitcoin é socialmente inútil

O bitcoin é um fenômeno novo. A seguir, te convidamos a conhecer 3 consequências potencialmente positivas da proliferação da criptomoeda.

3.1 Incentivo ao Desenvolvimento de Fontes “Verdes” de Eletricidade

Um problema das fontes renováveis é que elas possuem um output variável. Usinas eólicas e hidrelétricas produzem conforme o ritmo das estações ou intempéries, não necessariamente em sincronia com padrões de demanda das populações vizinhas. Ainda por cima, costumam ficar afastadas do grid — o que torna seu produto mais caro, dados os custos de transporte.

Não é intuitivo, mas a eletricidade não é fungível. 1 TW/h produzido na periferia de Xangai não é equivalente a 1 TW/h produzido nas planícies isoladas da Mongólia. Isto porque não dá pra simplesmente “armazenar” eletricidade indefinidamente. Quando uma represa está cheia, e produzindo mais do que lhe está sendo demandado, a água é desviada, e a energia potencial é “desperdiçada”. Quando está seca, e há mais demanda do que oferta, não há o que fazer, se não buscar eletricidade em outras fontes (geralmente fósseis).

Essa dinâmica faz com que usinas “verdes” sejam subdimensionadas em relação à sua demanda potencial, de modo a evitar que deem prejuízo em boa parte do ano.

A colocação de mineradoras portáteis (containeres) de bitcoin em usinas hidrelétricas, eólicas, solares e geotérmicas garante ao operador um nível mínimo de retornos, que se traduz em estabilidade e previsibilidade. Funciona quase como uma “bateria virtual” —fungibiliza a eletricidade ao permitir a armazenagem da produção excedente em tempos de sobredemanda, e dá à operação a possibilidade de “balancear a carga” de acordo com a pressão exercida pelo grid a qualquer momento, redirecionando até 100% do output para o consumo imediato.

Mineradoras portáteis de bitcoin

Faz sentido dizer que o bitcoin acelera o crescimento da demanda elétrica da humanidade, como toda tecnologia moderna adotada em massa.

Por outro lado, é desonesto ignorar que o bitcoin fomenta o desenvolvimento de usinas “verdes” em locais onde outrora a exploração não era comercialmente viável. Isto é, contribui para a transição rumo a um Mix Energético mais sustentável.

3.2 Liberdade Monetária

O bitcoin tem uma oferta monetária que não obedece aos caprichos das elites políticas. Não se pode criar novas unidades de moeda arbitrariamente, e distribuí-las como se julgar “correto”. Não se pode triplicar o valor do fundo eleitoral se não tiver de onde tirar a grana. Não dá pra contratar obras sem ter os recursos para bancá-las. Muito menos financiar guerras com o dinheiro das próximas gerações.

No fundo, suspeitamos que seja isso que a maioria dos críticos teme — mais que qualquer catástrofe climática. A ascensão de um fenômeno que, em última instância, não lhes reserva nem um pingo de controle.

Te desafiamos a encontrar um cidadão que viva sob uma ditadura e ataque a criptomoeda, em contraponto aos anti-coiners que se proliferam dentro dos setores bancário e público.

<span class=”hidden”>-</span>Divulgação/Divulgação

O Brasil não tem a moeda mais forte do mundo, mas também está longe de ter a mais desprivilegiada. Sabia, por exemplo, que 15 países africanos (mais de 180 milhões de pessoas) têm independência política, mas não monetária? Isto é: a França é quem dita o quanto a moeda deles deve apreciar ou depreciar?

3.3 Um novo paradigma

A maneira mais direta de se preservar o planeta é domando o imperativo do consumismo.

É viajando menos, gastando menos gasolina. Comprando menos plástico. Gerando menos lixo. Abdicando de frivolidades. Por mais que isso doa nos ouvidos de muitos.

A pergunta que fica é: a sociedade humana não está casada ao imperativo do crescimento? Existe alguma tecnologia que possa frear o consumismo sem nos afundar num abismo de retrocesso? Que ajude nossa espécie a se coordenar para preservar melhor a Terra — sem abrir mão da liberdade, ou sucumbir eternamente às ordens de uma ditadura qualquer?

É difícil imaginar uma sociedade cujo sistema financeiro seja baseado em um dinheiro programado para se valorizar com o tempo. Dinheiros assim te fazem pensar duas vezes antes de gastar. Vide a história famosa das pizzas compradas com bitcoin.

<span class=”hidden”>-</span>Divulgação/Divulgação

São a antítese das moedas inflacionárias por design, como o real e o dólar. Dinheiros desse tipo nos propelem a gastar logo, pra satisfazer anseios materiais imediatistas. Tomar dívidas, já que o denominador dela tende a valer menos, amanhã. Dinheiros assim nos acostumam a privar gerações futuras em prol da nossa.

E se tivesse algo como o bitcoin… mas menos custoso?

Basta persuadirem mais de 100 milhões de usuários da criptomoeda a adotar um meio alternativo de pagamentos e armazenagem de valor. Basta que alguém conceba um sistema ainda mais seguro, privado e resistente à censura do que a criptomoeda de Satoshi — tudo isso sem usar as infames provas de trabalho (proof-of-work).

Um sistema assim seria miraculoso. E nenhum usuário hesitaria em usar.

Enquanto não surge, eles seguem esperando. Confiantes de que ~0.5% da eletricidade produzida anualmente é um preço barato a se pagar por uma das poucas esperanças concretas que despontam no horizonte para preservar o meio ambiente e o futuro da vida na Terra.

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