Head de research do MB aponta 7 erros comuns que traders cometem ao investir em criptomoedas
André Franco identificou os sete erros mais lamentados por investidores de criptomoedas através de uma enquete no Instagram.
Ciclos de baixa do mercado oferecem os pontos de entrada para o mercado de criptomoedas perfeitos para investidores pouco experientes. No entanto, o medo extremo e o sentimento negativo acerca da indústria estão no ápice e podem acabar inibindo aqueles investidores que desconhecem as dinâmicas próprias do mercado da classe nascente de ativos digitais.
Pensando nisso, o head de research do MB, André Franco, gravou um vídeo para apresentar e comentar os sete erros mais comuns dos investidores, desmistificando o pessimismo que costuma se abater sobre o mercado de criptomoedas durante os “bear markets”, mas também relativizando a euforia que é comum durante os ciclos de alta.
A ideia é que os investidores que ainda não se aventuraram nesse mercado, ou mesmo aqueles que saíram machucados da queda acentuada que se seguiu ao pico de novembro do ano passado, possam se sentir seguros para estarem bem posicionados e aptos a a fazer as melhores escolhas quando o próximo ciclo de alta começar.
1. Investir todo capital em um único projeto
A diversificação é a melhor estratégia quando se trata de investimentos financeiros. E isso vale também para o mercado de criptomoedas. Investidores mais conservadores podem optar por investir todas as suas economias nas duas principais criptomoedas do mercado – Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH). Talvez seja uma boa estratégia para minimizar os riscos. Ao mesmo tempo, limita o potencial assimétrico de risco-retorno desta classe de ativos.
Perigo maior, no entanto, é o investidor se ver seduzido por um projeto com alto potencial de mercado e proposta tecnológica inovadora, porém ainda não devidamente testado. Nesse caso, o risco é ver o seu patrimônio reduzido a zero ou algo próximo disso.
Embora este tipo de aposta seja um dos principais atrativos do mercado de criptomoedas, é preciso entender que casos bem sucedidos a partir desta estratégia são exceção e não a regra, como explica o head de research do MB:
“Você precisa entender que vez ou outra você vai ver histórias de milionários ou até bilionários que fizeram uma aposta desse tipo e acabou ficando realmente rico com uma única posição. Mas o que você tem que ter em mente é que para cada uma daquelas histórias de grande vitória , existem centenas e até milhares de pessoas que viram seus investimentos irem a zero ou perder grande parte do seu valor com essa estratégia.”
Segundo Franco, as criptomoedas devem ser entendidas como um investimento multiplicador de patrimônios de natureza assimétrica. Deve-se investir apenas aquilo que se pode ou se está disposto a perder, levando em consideração que os ganhos podem ser exponenciais.
“Você só deve buscar se desfazer de uma posição depois de atingir ao menos 100% de lucro”, diz Franco, ao referir-se a investimentos em criptomoedas. “E não é difícil encontrar pessoas que multiplicaram 100 vezes, 200 vezes e até 1.000 vezes o capital investido”, conclui.
2. Transferir dinheiro para um endereço errado
Trata-se de um erro mais comum do que se pensa, e não necessariamente está vinculado a golpes ou roubos. Normalmente, os usuários utilizam endereços corretos, mas enviam seus ativos para uma blockchain de destino não compatível com a blockchain de origem dos recursos.
Em 2017, isso se tornou muito comum depois do hard fork do Bitcoin que criou o Bitcoin Cash (BCH), diz Franco. Os endereços em ambas as redes eram muito parecidos. Caso os investidores enviassem seus fundos de uma rede para a outra, eles seriam definitivamente perdidos.
Para evitar esse tipo de problema, a solução é simples:
“Por mais que você tenha confiança no endereço, saiba que está tudo correto, envie uma parcela bem pequena, o mínimo possível que você puder enviar como teste. Por mais que você pague uma taxa alta relativa ao valor que você está transferindo, isso vai te dar segurança de você estar transferindo para o endereço certo.”
3. Demorar para começar a investir
“É natural que investidores iniciantes tenham receios e inseguranças sobre quando e onde realizar seus primeiros aportes e cada vez adiem mais e mais a decisão de dar o primeiro passo”, afirma Franco.
Nesse caso, os investidores passam a acompanhar o dia a dia do mercado, mas se limitam à realização do que Franco chama de “trades mentais”. Segundo o head de research do MB, essa atitude cria um círculo vicioso de procrastinação, pois os investidores acabam referendando sua opção por não investir em função dos movimentos do mercado:
“Quando o preço sobe, você não se beneficia da alta e então fica pensando que o ativo já não se valorizou demais e então alimenta a dúvida sobre investir ou não. Isso se torna um círculo vicioso. Se o preço do ativo cai, o efeito é semelhante. Você fica pensando, ainda bem que eu não comprei, já que caiu, e segue adiando sua decisão de investir.”
Para evitar este tipo de armadilha, Franco sugere uma estratégia de investimento cuja eficácia foi validado pelo histórico de preço do Bitcoin: o Dollar Cost Average (Custo médio em dólares, em tradução livre). O DCA, como também é conhecido, consiste em dividir o aporte a ser investido em no mínimo 12 parcelas para fazer aportes mensais.
Até hoje, as estatísticas mostram que o investidor acabará tendo maiores probabilidades de acumular lucros do que prejuízos, diz o analista:
“Estatisticamente, na história do Bitcoin, se você fizer compras recorrentes durante 12 meses, a chance de você ter lucro é de 72%. Se você diluir ainda mais, para 24 meses, as chances aumentam e, logicamente, o potencial de retorno também.”
4. Comprar Dogecoin (DOGE) e Shiba Inu (SHIB)
As memecoins ou “moedas caninas” surgiram como uma piada, mas durante o ciclo de alta do mercado do ano passado acabaram se tornando um investimento com alto grau de rentabilidade para aqueles que fizeram seus aportes e realizaram os lucros decorrentes no momento correto.
No entanto, o head de research do MB chama atenção para os suprimentos em circulação destas moedas para afirmar que seus fundamentos econômicos são frágeis, além de os caso de uso serem limitados:
“Se o Shiba Inu chegasse ao patamar próximo de US$ 1, ele representaria basicamente todo o PIB mundial em um único ativo que não tem muita utilidade.”
Franco conclui seu raciocínio sobre as memecoins dizendo que o fato de DOGE e SHIB estarem entre os ativos de maior capitalização de mercado atualmente é revelador do quão imaturo o espaço cripto ainda é nos dias de hoje.
5. Virar torcedor de projeto
O mercado de criptomoedas organiza-se em torno de diversas comunidades vinculadas a diferentes projetos ou ecossistemas. Esta característica particular torna propício que os traders transformem suas paixões em investimentos financeiros.
Maximalistas do Bitcoin reduzem todo o restante do mercado a shitcoins. Etherinos são hostilizados pelos seguidores de Charles Hoskinson, o fundador da Cardano (ADA), e os próprios adeptos das já citadas memecoins preferem ignorar outras classes de criptoativos em função de suas paixões.
O grande perigo, diz Franco, é que os investidores se tornem apegados aos ativos, perdendo oportunidades de venda em momentos de alta, ou amargando prejuízos durante quedas acentuadas. Também é comum, diz o analista, que esses investidores consumam apenas conteúdos que validem suas ideias pré-concebidas sobre os ativos, limitando seu discernimento crítico e a possibilidade de tomarem as melhores decisões de investimento:
“O investidor tem que entender que por mais que ele goste do ativo, entenda o projeto e enxergue seu potencial futuro, o mercado é muito cruel no curto prazo – principalmente em se tratando de criptoativos. Se você tiver a oportunidade de se desfazer de um ativo que caiu entre 30% e 90%, mas que ainda poderá cair mais, você está defendendo o seu dinheiro.”
Durante os ciclos de alta, tal atitude pode não ser exatamente prejudicial, visto que o mercado de criptomoedas tende a se mover de forma homogênea. Porém, em ciclos de baixa, a “torcida” por projetos alternativos aos ativos que constituem o benchmark do mercado potencializa os riscos dos investidores. “A posição defensiva é a melhor posição quando o mercado não te favorece”, afirma Franco.
Em contrapartida, ele sugere uma estratégia de minimização de riscos até que as condições de mercado voltem a se tornar propícias a investimentos em ativos de potencial ainda não inteiramente realizado:
“Em um momento de ‘bear market’ como agora é muito mais interessante ter posições em Bitcoin, Ethereum e stablecoins atreladas ao dólar. Todos aqueles outros projetos nos quais a gente confia devem ficar aguardando aquele momento, que eu chamo a virada de mão, para serem colocados na carteira. E, assim, não sofrer com eles durante as quedas.”
6. Não investir em projetos que garantem rentabilidade
“Esse é um dos erros mais comuns do investidor de criptomoedas, mas mesmo assim ele segue sendo um erro recorrente”, diz Franco.
Sem fazer referências explícitas a projetos ou plataformas específicas, parece óbvio que o head de research do MB está se referindo a protocolos como o Anchor (ANC), que foi o principal responsável por gerar demanda artificial pela stablecoin do Terra Classic (LUNC), ao oferecer rendimentos fixos de 20% ao ano para depósitos em USTC. Ou a plataformas de empréstimos centralizadas como a Celsius e a BlockFi, que oferecem aos usuários rendimentos acima dos padrões do mercado às custas de operações de alto risco que muitas vezes podem utilizar os ativos dos próprios clientes.
Franco alerta que, no longo prazo, estratégias como as descritas acima inevitavelmente revelam-se insustentáveis:
“Os golpes ficaram mais sofisticados à medida que os desenvolvedores de projetos dessa natureza conseguiram manter rendimentos fixos por um ano ou mais com consistência frente a um mercado que é extremamente volátil. Isso acaba suscitando uma ideia nas pessoas de que esses caras encontraram o Santo Graal das negociações de cripto.”
O atual ciclo de baixa do mercado deixou muito clara essa lição: promessas de dinheiro fácil acabam prejudicando especialmente investidores do varejo que acreditam na ilusão de ganhar muito dinheiro correndo poucos riscos, diz Franco. E conclui:
“Desconfie de empresas que garantam rentabilidade fixa. Não existe a possibilidade de você ganhar muito dinheiro sem ter corrido muito risco em função da alta volatilidade desta classe de ativos, que é representada pela variação extrema de preços ao longo do tempo.”
7. Não realizar os lucros na alta do mercado
Muitas vezes a valorização exponencial dos criptoativos podem criar a ilusão de que existe “alta infinita”. Geralmente, investidores resistem a realizar lucros por acreditarem que os preços dos ativos continuarão a subir, diz Franco. Segundo ele, não há nenhum problema nisso caso estes investidores mantenham o foco no longo prazo.
O problema é não ter realizado os lucros durante o ciclo de alta e liquidar suas posições devido ao pânico que toma conta do mercado em momentos de quedas acentuadas. “Infelizmente, esse tipo de comportamento é o que mais acontece”, diz Franco.
Por conta da natureza humana, os momentos mais apropriados para a venda de ativos com lucro serão os momentos mais difíceis para o investidor se desfazer dos ativos. E o contrário também é verdadeiro: as melhores oportunidades de compra serão as mais difíceis para entrar no mercado, explica Franco.
A principal lição, diz Franco, é não tentar buscar topos e fundos, mas sim saber interpretar corretamente os sinais do mercado:
“O investidor precisa saber que não existe ponto exato de venda e de compra, e sim momentos que são mais propícios, ou assimetricamente positivos para ganhar dinheiro e botar os lucros no bolso.”
LEIA MAIS