Guardiões do dinheiro já desafiam nova moeda digital do Facebook
Horas antes do Facebook fazer o anúncio formal de sua ambiciosa incursão em serviços financeiros, o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, já deixava claro seu descontentamento.
“Está fora de questão” que o dinheiro digital da gigante das redes sociais concorra com moedas soberanas, disse Le Maire.
Foi apenas o primeiro ataque em uma torrente de críticas e ceticismo de políticos em todo o mundo. A presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA, Maxine Waters, prometeu uma resposta contundente do Congresso. E o ex-vice-presidente do Banco Central Europeu, Vitor Constancio, chamou a iniciativa de “pouco confiável e perigosa”.
Liderado pela rede social com mais usuários do que a população combinada da China e dos Estados Unidos, o projeto representa um provável desafio que os guardiões do dinheiro nunca enfrentaram: uma moeda global que não controlam e tampouco administram. E, embora os megabancos e seus reguladores não enfrentem nenhuma ameaça de curto prazo em seu comando das finanças, os defensores da criptomoeda dizem que o futuro chegou e que não há como voltar atrás.
“É o começo de um novo sistema financeiro em que os atuais guardiões são substancialmente menos relevantes”, disse Joey Krug, diretor de investimentos da Pantera Capital, fundada em 2013 como a primeira empresa de investimento dos EUA focada em Bitcoin.
Chamada de Libra, a nova moeda do Facebook será lançada já no ano que vem. Inicialmente será usada para enviar dinheiro entre amigos, familiares e empresas por meio dos serviços Messenger e WhatsApp. Depois, o plano é habilitar a moeda para transações do dia a dia.
Ao decidir entrar no altamente regulado setor de serviços financeiros por meio das criptomoedas, que são vistas por muitas autoridades como apenas mais um canal para financiar atividades ilícitas, o Facebook não se mostra muito preocupado em amenizar seu confronto com os reguladores.
“O Facebook está sendo atacado por reguladores de todo o mundo por uma série de questões específicas e, no geral, por ser poderoso demais”, disse Kevin Werbach, professor de estudos jurídicos e de ética nos negócios e especialista em blockchain na Wharton School, da Universidade da Pensilvânia. “Uma ampla iniciativa em um setor totalmente novo, serviços financeiros, que são fundamentais para a economia global, não é a ação de uma empresa humilde. Aos reguladores dá a impressão de uma agressiva desconsideração em relação às preocupações regulatórias, seja ou não o caso. ”