Governos ainda resistem às criptomoedas, mas já estão marcando presença no metaverso
A adoção e a regulação de criptomoedas ainda é um tema controverso para a maioria dos governos hoje no poder, mas a possibilidade de expandir a administração pública sobre ambientes virtuais tem despertado o interesse de administradores de diversas regiões do mundo.
Justamente na semana em que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD-RJ), revelou planos para lançar o Crypto Rio, uma criptomoeda carioca, adicionar ativos digitais às reservas do município e a possibilidade de abater impostos de cobtribuintes que optarem por quitar suas obrigações em Bitcoin (BTC), um estudo da firma de investimentos norte-americana Fidelity Digital Assets afirmou que os países que possuírem alguma porção de seu tesouro em BTC estarão em vantagem em relação àqueles que insistirem em ignorar ou reprimir o criptoativo.
A criação de um grupo de estudos para propor ideias e soluções para aumentar a adoção e expandir o ecossistema de criptomoedas a partir da capital fluminense é o primeiro movimento efetivo de um governante brasileiro de abordar o tema sob um ponto de visto propositivo.
Ainda não está claro de que forma a iniciativa será recebida pelos moradores da cidade ou mesmo se a prefeitura levará à cabo as promessas encampadas durante a Rio Innovation Week na semana passada. Porém, a inciativa da administração de Paes pode acabar colocando o Rio de Janeiro na vanguarda de um movimento global que no ano passado ganhou um forte impulso com a adoção do Bitcoin como moeda de curso legal em El Salvador.
Se em âmbito nacional, a repercussão ficou restrita aos adeptos das criptomoedas, sem maior repercussão imediata, o Rio de Janeiro tornou-se assunto da comunidade cripto mundial. A partir de agora, espera-se ao menos que o debate sobre ativos digitais possam ir além dos plenários e comissões do Congresso que atualmente discutem o estabelecimento de um marco regulatório possivelmente restritivo – ao menos sob o ponto de vista de outro político brasileiro adepto das criptomoedas, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP).
O relatório da Fidelity opõe a experiência salvadorenha à repressão e banimento em curso na China como parâmetros decisivos para a adoção de criptoativos por administradores públicos:
“Acreditamos que [esses] dois desdobramentos observados neste ano não poderiam ser mais opostos. O tempo certamente dirá qual caminho será mais bem-sucedido”.
Um caminho amplamente restritivo como o escolhido pela China e outros oito países, “é difícil de ser implementado, na melhor das hipóteses e, caso seja bem-sucedido, acarretará uma perda significativa de riqueza e oportunidades”, diz o relatório.
Em oposição, à medida que a adoção se torna mais ampla, com iniciativas como a de países como El Salvador ou mesmos cidades como Miami, Nova York e, possivelmente, o Rio de Janeiro, outros governantes serão forçados a seguir caminho semelhante, adicionando ao menos uma pequena quantia de Bitcoins às suas reservas. Mesmo que estejam em desacordo com sua lógica econômica e tecnológica, conclui o relatório:
“Também achamos que há apostas muito altas na teoria dos jogos em disputa aqui, segundo a qual, se a adoção do bitcoin aumentar, os países que garantem alguns bitcoins hoje estarão em melhor situação competitiva do que seus pares. Em outras palavras, há um pequeno custo a ser desembolsado hoje como hedge em comparação com um custo potencialmente muito maior no futuro.”
Para corroborar a tese acima, uma pesquisa com investidores institucionais de ativos digitais da Fidelity relevou que 71% dos investidores institucionais dos EUA e da Europa entrevistados pelo estudo pretendem alocar parte dos seus portfólios em ativos digitais no futuro.
Governos no metaverso
Se os governantes chineses são totalmente avessos às criptomoedas, não se pode dizer o mesmo do metaverso. Segundo reportagem do site Quartz, autoridades de Xangai incluíram o metaverso em seu plano quinquenal para a indústria de tecnologia, indicando que o conceito deve ser explorado em áreas como serviços públicos, entretenimento e manufatura em benefício dos 26,3 milhões de habitantes da megalópole.
A província de Zhejiang, sede da gigante de comércio eletrônico Alibaba, também anunciou no começoo deste ano que o desenvolvimento de recursos tecnológicos com foco no metaverso está nos planos da administração local.
Por fim, nesta semana as cidades de Anhui e Wuhan divulgaram seus planejamentos anuais fazendo referência ao desenvolvimento do metaverso. O governo da província de Hefei, onde está localizada Anhui, promete criar um grupo de pioneiros de tecnologia de ponta chineses para promover recursos tecnológicos para a criação do metaverso. Enquanto isso, a administração de Wuhan revelou disposição para acelerar a integração da economia online ao dia a dia dos cidadãos, incluindo o metaverso, big data, computação em nuvem e teconologia blockchain.
Mas não são apenas os governantes que estão focados no desenvolvimento do metaverso. Em novembro, a China estabeleceu sua primeira associação de empresas focadas no metaverso, sob a supervisão estatal da China Mobile Communications Association (CMCA). Gigantes chineses do setor de tecnologia, como Tencent e Baidu, qualificaram-se para desenvolvimento de ambientes virtuais imersivos e registraram marcas de produtos relacionadas ao metaverso.
Tanto os movimentos do setor público quanto das empresas privadas chinesas apontam para uma versão do metaverso centralizada, como a que a Meta está desenvolvendo no Ocidente, apesar da divulgação de notícias de que haveria disposição da empresa para incorporar recursos e princípios de descentralização da Web3, e possivelmente monitorada pelo aparato estatal em uma materialização dos piores elementos de distopias futuristas antecipadas pela ficção científica.
Outras abordagens de integração incluem Barbados, cujo governo anunciou disposição para abertura de uma embaixada em Decentraland (MANA), cujos custos de implantação foram estimados em US$ 50.000. Em um primeiro momento, o espaço vai servir para ofereceimento de serviços diplomáticos a pessoas de qualquer lugar do mundo.
Na Indonésia, o plano diretor da capital Jacarta agora inclui uma réplica virtual a ser construída nos próximos quatro meses. Já o governo da Coreia do Sul, cujo país tem a quarta maior população gamer do mundo, estabeleceu uma aliança para o metaverso que inclui o Ministértio da Ciência e da Tecnologia e a iniciativa privada.
Na Europa, o governo da Catalunha, região autônoma que inlcui as províncias de Girona, Lérida e Tarragona, inaugurou sua “República Digital” com o objetivo de “promover a cultura e alíngua catalãs” em uma plataforma intitulada CatVers, de acordo com uma reportagem do El Mundo.
O projeto que teria custado US$ 450.000 sofreu inúmeras críticas por parte dos usuários por apresentar comandos em inglês e se restringir a um único espaço: uma sala virtual simples com uma disposição arquitetônica que remete a um museu de arte contemporânea no meio das montanhas de Montserrat, o símbolo mais tradicional da Catalunha, além de opções reduzidas de avatares para que os usuários possam interagir no espaço virtual.
Apesar da queda generalizada do mercado, terreno virtual no metaverso custa no mínimo R$ 58.000
Conforme Pedro e Paulo Markun escreveram em uma coluna no portal Tilt, do UOL, “essas novas geografias virtuais também podem servir para criar e reforçar identidades nacionais, ou, ainda, propor novas cidadanias transnacionais”, como fez a pioneira Estônia. Considerada a nação mais digitalizada do mundo, a antiga república soviética permite que pessoas de qualquer lugar do mundo tornem-se cidadãs virtuais da Estônia, tornando-se aptos a trabalhar para empresas locais ou mesmo cirando serviços digitais que podem ser oferecidos no país.
Pedro e Paulo Markun ainda lamentam o corte de 92% das verbas do Ministério de Ciência e Tecnologia pelo Governo Federal e o desinteresse das autoridades brasileiras pelo metaverso, ressaltando que a tendência é que o país fique à margem do desenvolvimento destes novos ambientes virtuais e que os brasileiros participem deste novo estágio de evolução tecnológica como meros consumidores.
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