Corretora usava “coach que chora em palco” para convencer pessoas a investirem no negócio
Para convencer investidores a acreditarem no negócio, o Grupo Tree Part – dono da GenBit e da antiga Zero10 Club – investia pesado em seu time de embaixadores e líderes. Um deles era o coach Robson Martins, conhecido na região de Campinas (SP).
Martins, que é fundador de uma escola de coaching que leva seu nome, afirma em seu site que seus principais valores são “Deus, família e relacionamento”. Diz também que, em sua jornada pela vida, já leu 500 livros, palestrou na Europa, México e Estados Unidos e que, graças a tudo isso e mais um pouco, desenvolveu um método que pode ajudar as pessoas a realizarem seus sonhos.
No entanto, essa bagagem toda e esse método – que até pode ter sido usada em benefício de outras pessoas – levou outras centenas para um tremendo pesadelo. Isso porque desde o final do ano passado a GenBit, empresa que Martins divulgava como “estruturada”, deixou de pagar todo mundo. A Justiça inclusive determinou o bloqueio de R$ 800 milhões do negócio.
Investidor diz que acreditou em coach, que chorava no palco
Um investidor, que pediu para não ter o nome revelado, disse à reportagem que colocou dinheiro no negócio porque acreditou nas palavras do coach.
“Ele dizia que a GenBit tinha vida útil de mais de 100 anos e que era para nós largarmos tudo o que tínhamos com outros trabalhos para nos dedicarmos 100% à empresa. Ele ficava emocionado e até chorava no palco dizendo isso”, falou.
O investidor, que depositou R$ 27 mil na GenBit, disse que hoje está tentando se reerguer, mas está com dívidas e não consegue pagar parcelas do carro e nem do cartão de crédito.
Ele falou que acredita que Martins, assim como ele, pode ter sido enganado pela empresa.
De dentista a mestre em comportamento humano
Em uma entrevista concedida ao SBT, Martins contou que estudou odontologia e é de uma família de dentistas, mas decidiu mudar de carreira quando percebeu que se enquadraria melhor na área de psicologia.
“Desde quando me formei, percebi que existia uma lacuna na faculdade, pois não se ensinava sobre gente, mas sim sobre dente. Então fui começar a estudar sobre comportamento humano já no segundo ano do curso”.
Em seu site, afirma que estuda o ser humano há cerca de 20 anos e diz ter feito vários cursos na área, como um mestrado em Neuromarketing na Florida Christian University, nos Estados Unidos, e uma especialização em Relações Humanas e Apresentações Estratégicas de Alto Impacto pelo Instituto Dale Carnegie, também no país norte-americano.
Martins, em seu site, também diz que já formou mais de 3 mil profissionais de todo o Brasil no centro de formação de coaches fundado por ele.
Internautas criticam relação de GenBit e coach
Em sua página no Facebook, Robston Martins costuma divulgar frases motivacionais, como é de praxe entre os profissionais que trabalham na área de coaching.
Ele também tem um canal no YouTube, com 786 seguidores, onde publica vídeos sobre produtividade, negócios etc. Em um deles, em que cita a GenBit – que na época era a Zero10 Club – os internautas criticaram a relação dele com a empresa.
A reportagem contatou o coach por meio do Facebook, mas até agora não obteve resposta. Caso Martins queira dar uma entrevista, a matéria será atualizada.
Quem indica pirâmide também pode ser punido pela Justiça?
Em grupos de conversa, alguns clientes lesados pela GenBit relataram que nos processos judiciais que moveram contra a empresa, também estão citando os líderes do negócio.
Em casos anteriores envolvendo pirâmides financeiras, a Justiça reconheceu a culpa de quem aliciou novos integrantes pelos crimes de ato ilicito civil e estelionato.
O Juízo da Vara Única da Comarca do Bujari, no Acre, por exemplo, condenou um divulgador da Telexfree – pirâmide financeira de telefonia via internet – a pagar de R$ 9,3 mil para um vítima que ele atraiu para o negócio fraudulento.
Qual a situação da GenBit?
O Grupo Tree Part (Gensa Serviços Digitais), dono da GenBit, responde a mais de 400 processos judiciais somente em São Paulo. São ações de pessoas que acreditam no no negócio, que até o ano passado prometia rendimentos fixos de 15% ao mês por meio da Zero10 Club.
O grupo também foi alvo de uma ação civil pública do Ministério Público de São Paulo, que pediu o fechamento do negócio e o bloqueio de R$ 1 bilhão. A Justiça, em resposta ao processo, manteve o conglomerado aberto, mas determinou o bloqueio de R$ 800 milhões.
Mesmo no meio desse turbilhão jurídico, a empresa tenta fomentar o uso de seu Treep Token (TPK), uma “criptomoeda” com pouco valor de mercado. Com ela, é possível apenas comprar produtos e aimentos – a exemplo de sushis ou sapatos – com desconto de até 30%.
Confira o histórico da GenBit:
Genbit começa atrasar pagamentos
Genbit começa ser processada na justiça
Ministério Publico entra com ação contra Genbit, ação de 1 Bi
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