Predominância de FTT no balanço da Alameda Research gera temores de crise de liquidez nas empresas de SBF

Documentos da Alameda Research, empresa irmã da exchange de criptomoedas FTX, revelam que a empresa tem US$ 14,6 bilhões em ativos contra US$ 8 bilhões em passivos, sendo que mais da metade de suas reservas é composta por ativos de liquidez reduzida.

As reservas financeiras da Alameda Research, gestora de criptoativos irmã da exchange FTX do multibilionário Sam Bankman-Fried (SBF), estariam concentradas em tokens FTT – o token nativo da FTX. Além disso, grande parte das garantias que constam no balanço patrimonial da Alameda também estão denominadas em FTT.

Em números, de acordo com uma reportagem publicada pela Coindesk em 2 de novembro, de um total de US$ 14,6 bilhões em ativos, US$ 3,66 bilhões estão denominados em FTT, US$ 2,16 bilhões em “garantias de FTT”, US$ 3,37 bilhões em altcoins diversas (US$ 292 milhões em SOL, US$ 863 milhões em “locked SOL”), US$ 134 milhões em dólares e US$ 2 bilhões em ações. Em contrapartida, a Alameda tem US$ 8 bilhões em passivos.

O balanço mostra que a gestora fundada por SBF depende em grande parte por uma moeda emitida pela FTX, suscetível às oscilações do mercado e ao estado dos negócios do empresário – e não em ativos independentes como moedas fiduciárias ou mesmo criptomoedas com maior capitalização de mercado.

Reações da comunidade

O fundador da 21st Paradigm e colaborador da Bitcoin Magazine, Dylan LeClair, destacou em um thread no Twitter que a situação da Alameda “não parece nada boa.”

Não parece nada bom, pessoal. A FTX/Alameda inflaram o peito em grande estilo no final da desalavancagem do verão…

Eles estavam realmente nadando nus esse tempo todo?

Não sei, mas são perguntas que merecem ser feitas.

Ativos relatados no balanço da Alameda:
US$ 5,82 bilhões de FTT

Valor de mercado atual do FTT: US$ 3,35 bilhões

Garotos firmes

— Dylan LeClair (@DylanLeClair_) 

Diante destas evidências, outras personalidades do mercado também mostraram-se preocupadas com o potencial risco sistêmico que poderia ser desencadeado por uma crise de liquidez da Alameda nos moldes da que vitimou o fundo de capital de risco Three Arrows Capital em junho deste ano. A crise de liquidez e insolvência da 3AC teve impactos negativos duradouros sobre todo o ecossistema de criptomoedas.

“É fascinante ver que a maior parte do patrimônio líquido da Alameda é, na verdade, o próprio token da FTX, controlado centralmente e impresso do nada”, disse Cory Klippsten, CEO da plataforma de investimento Swan Bitcoin, que é reconhecido na indústria por sua visão crítica de que qualquer criptomoeda que não seja o Bitcoin (BTC).

A reação evasiva dos executivos da Alameda e do próprio SBF após a divulgação do estado das finanças da gestora é um fator adicional de preocupação, afirmam membros da comunidade. Ao mesmo, muitos clamam para que tanto a Alameda quanto a FTX adotem maior transparência na gestão de seus negócios.

LeClair, destacou ainda que não se sabe se o passivo da Alameda está denominado em dólares ou em criptomoedas – e que esta é uma questão importante a ser considerada: 

“Se estiver denominada principalmente em USD, a Alameda está com SÉRIOS problemas. Os ativos de seu balanço comercial são totalmente ilíquidos. Se forem empréstimos denominados em ‘cripto’, a situação é melhor, mas ainda não pode ser considerada ótima.”

 O cofundador da Binance, Yi He, aproveitou para alfinetar a rival, afirmando que “a Binance não concede empréstimos não garantidos, não participa de transações, não compra empresas cegamente e não gasta dinheiro cegamente em patrocínios.”

O pesquisador pseudônimo da incubadora da exchange de criptomoedas Huobi, 0xLoki delineou um cenário em que a Alameda poderia eventualmente tornar-se insolvente:

“A composição do balanço da Alameda é muito perigosa e se o mercado cair mais de 50% a Alameda enfrentará uma situação de insolvência. (1) A Alameda tem sérios problemas com alta alavancagem. (2) As fontes e os fundos da FTX e da Alameda são muito suspeitos. (3) A concentração excessiva de SOL/FTT representa um risco colateral para os ecossistemas Defi/Cefi, que os utilizam como garantia.”

O sócio da Cinneamhain Ventures, Adam Cochran, destacou a razão por trás do interesse da FTX na aquisição das plataformas de empréstimos falidas Voyager Digital e Celsius:

“A Alameda tinha US$ 8 bilhões em empréstimos contra seus ativos, dos quais US$ 5,82 bilhões eram FTT, e há todos os SRM e SOL bloqueados. Isso é muita alavancagem apoiada em tokens ilíquidos. Quem está emprestando a alguém US$ 8 bilhões contra esse tipo de garantia? Faz sentido que eles tenham atuado agressivamente para comprar as plataformas de empréstimos falidas, pois se algum desses FTT tivesse sido liquidado, causaria um estrago nesses empréstimos.”

Conflito de interesses 

SBF já esteve à frente da Alameda Research e da FTX simultaneamente, mas em outubro de 2021 o empresário concedeu o controle da Alameda Research a Caroline Ellison e Sam Trabucco. Estava cada vez mais evidente que havia um conflito de interesse, pois a Alameda tem o papel de atuar como formador de mercado, investidor e trader.

Os investidores do varejo da exchange temiam encher os bolsos da Alameda enquanto negociavam um novo token, ou pior, encontrarem-se do outro lado da mesa em uma negociação contra a Alameda.

Muitos usuários da FTX começaram a manifestar um certo incômodo pelo fato de SBF liderar ambas as empresas. Em agosto, houve uma reaproximação entre ambas as empresas quando o braço de investimento da FTX absorveu as operações de capital de risco da Alameda Research em resposta às atuais condições do mercado. Na mesma época, Trabucco anunciou que estava deixando o posto de CEO da Alameda, função exercida solitariamente por Ellison desde então.

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