Controles financeiros da FTX eram executados com uma ‘miscelânea’ de aplicativos, revelam documentos judiciais

Um documento do processo judicial da exchange alega que aplicativos como planilhas do Excel e mensagens do Slack foram usados para gerenciar os ativos e passivos da FTX e de suas entidades relacionadas.

A FTX era comandada por três pessoas inexperientes “que recém tinham saído da faculdade” e que contavam com “uma miscelânea” de documentos e ferramentas de comunicações on-line compartilhadas em uma série de aplicativos diferentes para gerenciar um império multibilionário, de acordo com o CEO da FTX, John Ray III.

Em um documento do processo da ação judicial arquivado em 9 de abril no Tribunal de Falências de Delaware, John J Ray III fez seu primeiro relato detalhado das falhas de controle financeiro da FTX.

Ray afirmou que sua equipe de reestruturação havia “identificado extensas deficiências nos controles do Grupo FTX” desde a falta de controles financeiros e contábeis apropriados até uma estrutura de gerenciamento de grupo e processo de manutenção de registros inadequados.

Aparentemente, a FTX “contava com uma miscelânea de documentos do GoogleDocs, comunicações via Slack, unidades compartilhadas e planilhas do Excel” para gerenciar seus ativos e passivos, diz o documento.

A FTX usava também o software de contabilidade QuickBooks, que Ray disse ter sido projetado para “pequenas e médias empresas” e não para uma empresa que opera em “vários continentes e plataformas”, como a FTX.

Foi relatado que a contabilidade da FTX foi negligenciada, pois cerca de 80.000 transações foram deixadas como entradas contábeis não processadas em “contas abrangentes do QuickBooks intituladas ‘Pergunte ao meu contador’.”

Ray enfatizou que os cofundadores Sam Bankman-Fried e Gary Wang, junto com o ex-diretor de engenharia Nishad Sing, tinham a “última plavra em todas as decisões importantes”, apesar da experiência muito limitada.

“Esses três indivíduos, recém-saídos da faculdade e sem experiência em gerenciamento de riscos ou administração de negócios, controlavam quase todos os aspectos significativos do Grupo FTX.”

O controle significativo de Wang e Singh sobre a FTX foi observado por um executivo não identificado da exchange, que afirmou que “se Nishad [Singh] fosse atropelado por um ônibus, toda a empresa estaria morta. O mesmo vale para Gary [Wang].”

Observou-se que a empresa não possuía uma lista completa de funcionários no momento em que deu entrada ao pedido de falência em novembro.

A FTX falhou em arquivar suas finanças no prazo no final dos períodos de apresentação de relatórios financeiros e não realizou verificações de back-end para identificar e corrigir erros materiais.

Brett Harrison, presidente da FTX.US, demonstrou preocupação com o comportamento de Bankman-Fried e Singh em relação à “falta de delegação apropriada de autoridade, estrutura formal de gerenciamento e contratações importantes na FTX.US.”

Em resposta, o bônus de Harrison foi significativamente reduzido e ele foi instruído a se desculpar com Bankman-Fried pelo conselho interno da empresa, o que ele se recusou a fazer. Foi relatado que Harrison renunciou após o desacordo.

Não tenho certeza de que nada disso é “novo”, já que escrevi e falei publicamente sobre as circunstâncias de minha renúncia da FTX US várias vezes desde janeiro.

— Brett Harrison (@BrettHarrison88)

Ray declarou em um documento do processo judicial arquivado em 6 de fevereiro que, quando assumiu o controle da FTX em novembro, não havia “uma única lista de qualquer coisa” relacionada a contas bancárias, renda, seguro ou pessoal, causando uma “enorme confusão para obtenção de informações.”

Ele recuou contra a moção para designar um examinador independente para o caso de falência por temer que “erros inadvertidos” pudessem resultar na destruição de “centenas de milhões de dólares” dos credores da exchange falida.

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