‘Para quem acredita nos fundamentos da criptoeconomia, esse é o momento certo de comprar’, diz CEO da Mercado Bitcoin
Executivo da exchange brasileira defendeu educação financeira e disse que não é contra concorrentes estrangeiras, mas sim à concorrência desleal.
Em entrevista concedida ao editor-chefe do Cointelegraph Brasil, Lucas Caram, o CEO da exchange brasileira Mercado Bitcoin, Reinaldo Rabelo, salientou alguns pontos do mercado de baixa das criptomoedas e disse que há chance de ganho no longo prazo porque, na avaliação dele, o pessimismo em relação ao cenário macroeconômico é exagerado. Ele também frisou a importância da educação financeira e disse que o ingresso de instituições bancárias no ecossistema de criptomoedas vai trazer um novo público e aumentar o mercado, mas lembrou que estas instituições, de maneira geral, promoveram um ambiente hostil às exchanges no Brasil em um passado recente. Ele também avaliou os dispositivos regulatórios importantes para proporcionar condições de igualdade entre as exchanges e disse não ser contra as concorrentes estrangeiras, mas sim à concorrência desleal.
“A gente toca no tema da educação financeira e a educação financeira é um passo além da educação lato sensu, a gente vive em um país que não oferece condição de educação massiva, então há muita gente com pouca educação no nosso país. Então falar em educação financeira como um passo além, a gente ainda vai ter menos pessoas com compreensão de como controlar sua poupança, criar reservas e investir adequadamente. Esse momento é de comprar, não de vender, é contraintuitivo, mas você sempre deve comprar na queda e vender na alta e não o contrário, a gente se desespera na queda e vende tudo e quando está na alta a gente se empolga e compra um monte.
Pra quem conhece, acredita nos fundamentos da criptoeconomia, esse é o momento certo de comprar… a gente vê os aspectos macroeconômicos, com um pouco de esperança na minha fala, parecem exagerados no aspecto negativo. A gente vê muitos analistas falando em até três anos de crise grave, isso parece um pouco exagerado, a gente começa a ver uma ou outra reação de mercado contestando esse tipo de análise.”
Rabelo também foi questionado a respeito do avanço das exchanges internacionais no Brasil ao longo dos últimos anos e sobre o Projeto de Lei que trata da regulamentação das criptomoedas no Brasil, proposta em tramitação na Câmara dos Deputados.
“ A gente, que está há mais tempo no mercado, viveu alguns anos atrás, uma exchange brasileira que declarava ter um volume maior do que o dobro da segunda maior exchange do mundo, então você consegue informar, reportar, mesmo movimentar um volume de operação que não necessariamente é o volume transacional.
O Mercado Bitcoin não tem nada contra exchanges estrangeiras. O que a gente contesta são exchanges piratas, estrangeiras ou brasileiras, o mundo digital também permite a pirataria, então, se a gente está atuando e está sendo cobrado pelo reguladores pra pagar impostos, reportar informações à Receita Federal, colaborar com os mecanismos de combate e prevenção de lavagem de dinheiro e terrorismo, é natural que essa exigência deva acontecer para todos e não só para uns, principalmente se a gente tiver falando de favorecimento que agrega risco ao mercado… gerando uma competição desleal”, justificou.
Caram também questionou o executivo a respeito de como a exchange encara os bancos e fintechs lançando opções em criptomoedas, no que diz respeito ao possível de novos concorrentes. Para Rabelo, a entrada de novos atores, embora aumente a concorrente, também faz crescer o mercado, embora ele acredite que os fundos sofrerão mais com o crescimento do setor. Ele lembrou ainda o ambiente hostil proporcionado por estes mesmos atores contra as exchanges de criptomoedas, em um passado recente.
“Em 2018, todos estes bancos e todos estes incumbentes eram totalmente contrários ao desenvolvimento da criptoeconomia, do ecossistema cripto, cancelando contas, não só das empresas como o Mercado Bitcoin, como também dos sócios das exchanges, dos familiares dos sócios, dos colaboradores, então era um cenário hostil de atuação. Neste sentido, quando a gente vê uma virada do pensamento desses incumbentes, é muito melhor você conviver num ambiente que tá todo mundo tentando por as aplicações para aquela tecnologia nova, os modelos de negócio que vêm surgindo em cima daquela tecnologia.
O segundo aspecto é que, apesar de a gente ter hoje no Mercado Bitcoin quase quatro milhões de clientes, talvez em todas as exchanges que existem no brasil a gente tenha o dobro disso, oito milhões, de clientes, pessoas com alguma exposição em cripto… com as plataformas que vão listar em suas plataformas negociações de Bitcoin (BTC) e Ether (ETH), a gente vai ver o aumento do bolo, a gente vai ver esse volume de oito milhões de pessoas dobrar, triplicar, e a gente acaba criando um mercado maior pra todo mundo… Mas parece que esse movimento é muito mais uma ameaça para os fundos e ETFs e também parece que este movimento vai trazer novos consumidores cripto para o ecossistema e esses novos consumidores, muitos deles vão querer algo mais do que a mera exposição de Bitcoin e Ether, e eles vão acabar caindo nas exchanges”, declarou.
Ele também argumento, no cenário de baixa, é normal que os projetos sejam mais questionados pelos investidores ao argumentar que:
“No ano passado eram casos de sucesso, mesmo os NFTs [tokens não fungíveis], além dos criptoativos mais tradicionais também passam por questionamentos, que talvez tenham gerado uma empolgação maior do que deviam, no ano de 2021, quando foi a grande palavra buscada no mundo inteiro. A gente observa esses movimentos com bastante cautela, seguindo nosso objetivo de participar desse mercado olhando para o longo prazo. Então essas curvas, que são mais agressivas, em determinado períodos curtos, no longo prazo elas se tornam mais suaves a gente continuar firme forte no ecossistema cripto.”
Ele também deixou claro que a Mercado Bitcoin ampliará seus canais junto aos clientes por meio de novos produtos, uma vez que a empresa se encontrar em fase de aprovação pelo Banco Central.
“A gente está em processo de aprovação quase final junto ao Banco Central, a gente espera conseguir essa aprovação nos próximos meses pra gente acessar diretamente sistemas do Banco Central, fazer segregação, virtualização de contas de nossos clientes, oferecer produtos bancários, conectando o mundo cripto a serviços de pagamento de uma forma mais fluída… a gente começou a tokenização com produtos com características de renda fixa, que no Brasil é muito querido pelos investidores… A cada ano a gente mais do que dobra o volume de transações, este ano a gente espera chegar a 600 milhões de tokens negociados e no ano que vem a gente espera dar um salto ainda maior, indo pra casa dos dois ou três bilhões de tokens negociados”, revelou.
Sobre o atual momento de baixa, o executivo demonstrou naturalidade ao explicar que:
“O Mercado Bitcoin foi criado em junho de 2013, então a gente já está indo para o nosso décimo ano de existência e nessa jornada de quase dez anos, a gente já passou por diversos momentos como o atual, por conta de crise na economia como um todo, crise macro econômica, como a que a gente tá vivendo agora, pós pandemia, inflação em diversos países… A gente passou por invernos cripto e momentos de super empolgação com o mercado em relação a alguns atributos que foram colocados no ecossistema cripto. Então é normal, para um setor que ainda está no início de sua campanha de maturidade e consolidação, passar por situações como a que a gente está vivendo agora.”
No início de agosto, a Mercado Bitcoin lançou um novo token de renda fixa que promete lucro de até 17%, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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