Filha de sócio da Telexfree comprou 10 imóveis na Flórida para lavar dinheiro, diz MPF
A filha de um dos sócios da Telexfree, Priscila Costa, é acusada pelo Ministério Público Federal do Espírito Santo (MPF) de lavar dinheiro da empresa nos Estados Unidos. Ela adquiriu dez apartamentos na Flórida no valor total de US$ 730 mil (R$ 3.066.000,00).
A Denúncia do MPF, no entanto, aponta que três desses imóveis pertenceriam, em realidade, a um dos donos da empresa que vinha atuando em esquema de pirâmide financeira.
Segundo o MPF, Priscila Costa, filha do diretor da Telexfree, Carlos Roberto Costa, comprou os imóveis com dinheiro vindo de operações de câmbio do sistema da empresa.
Não havia qualquer declaração sobre esses apartamentos à Receita Federal ou ao Banco Central por meio de Declaração de Bens no exterior. O MPF, no entanto, descobriu que três deles pertencem a Carlos Costa e Jozelia Sangali — esposa de Costa.
Todos os dez apartamentos estão localizados nos quatro andares do condomínio denominado “The Beverly Condominium Association Inc”. Sendo que no primeiro andar foram adquiridos os apartamentos 101, 102 e 103; no segundo, 201 e 202. No terceiro piso, Priscila Costa comprou quatro imóveis (301, 320, 303 e 304) enquanto que no quarto piso ela adquiriu apenas o apartamento de nº 402.
De acordo com o MPF, a compra desses imóveis implicaria “em evasão de divisas através de dólar-cabo instrumentalizado pelo sistema financeiro da Telexfree, em nome de Priscila Costa”.
A denúncia foi aceita pela Justiça, o que desencadeou num processo que tramita na 1ª Vara Federal Criminal do Espírito Santo desde 2017. Ainda não há sentença proferida nos autos.
Esquema da Telexfree
Todo o esquema teria ocorrido em 2013 e Priscila Costa não agia sozinha. O MPF apontou que ela contava ainda com a ajuda da mãe dela, Esdras Maria de Freitas — ex-esposa de Costa —, e Lyvia Mara Wanzeler, a filha de Carlos Nataniel Wanzeler, diretor da empresa que perdeu sua nacionalidade brasileira após decisão do Superior tribunal de Justiça.
Priscila Costa e a mãe recebiam depósitos de dinheiro que eram efetuados pelos sócios Carlos Costa e Nataniel Wanzeler, conforme consta na denúncia. Eles, no entanto, contavam com a ajuda de Lyvia Wanzeler para que esse dinheiro que era originário da Telexfree saísse do Brasil e fosse parar nas contas da filha e da ex-esposa de Costa nos Estados Unidos. Lyvia era a pessoa responsável pela operacionalidade das remessas ilegais.
A empresa havia criado “um esquema ilegal de remessa internacional de dinheiro via sistema de dólar-cabo”. A nova modalidade da Telexfree era uma espécie de troca de créditos no sistema.
A Telexfree, segundo o MPF, permitia a realização de transferências de divisas, representadas pela moeda eletrônica da empresa, entre contas-login. Cada US$ 1,00 de crédito da Telexfree correspondia a US$ 1,00 dólar de moeda física norte-americana.
Compensando o dinheiro
Os envolvidos, então, criaram suas respectivas contas-logins. Por meio dessas contas, a filha e ex-esposa teriam recebido o dinheiro vindo de Carlos Costa. A concretização de tudo, entretanto, ocorria quando Priscila recebia nos Estados Unidos esses valores e fazia a compensação pelo sistema da empresa.
Essa compensação, então, era feita a débito da moeda eletrônica ou por meio da chamada “retirada a menor de Carlos Costa do montante que os sócios consideravam de direito”.
Como houve também envio de dinheiro por parte de Nataniel Wanzeler, teve a retirada a menor desse sócio também antes de se distribuir o resto do montante aos demais. Segundo o MPF, pelo menos R$ 1.431.116,32 foram compensados, após um longo histórico de transferências e retiradas.
Evasão de divisas em números
Em janeiro de 2013, teria ocorrido o primeiro depósito. Foram transferidos US$ 9.900 para uma conta de Esdras Freitas. A compensação foi feita com a rubrica “Débito manual Dinheiro pago à minha filha Priscila nos EUA”, nos créditos em moeda eletrônica na conta-login “CARLOSCOSTA” de Carlos Costa e, por conseguinte, na retirada a menor da Ympactus Comercial (razão social da Telexfree).
Em fevereiro daquele mesmo ano foram feitas duas transferências de US$ 60 mil para a conta de Priscila Costa. Uma delas foi compensada a partir da conta bancária da Ympactus.
Já a outra, no entanto, foi compensada junto a outra transferência de US$ 46 mil que foi feita em março com retirada a menor de Carlos Costa e a maior de Carlos Wanzeler da conta da Ympactus.
A maior transferência, contudo, aconteceu entre os meses de março e abril. Nesse período foram remetidos US$ 645 mil. A compensação, então, desse valor se deu também com a retirada a menor de Carlos Costa e a maior de Carlos Wanzeler da conta da Ympactus.
Show de lavagem de dinheiro
Além da compra dos apartamentos na Flórida, o dinheiro da Telexfree foi utilizado também para bancar um show de Paul McCartney. O valor do cachê do ex-Beatle foi de R$ 8 milhões, pago com “dinheiro sujo da Telexfree”
O evento ocorreu em 10 de novembro de 2014 no Estádio Kleber Andrade, em Cariacica, Espírito Santo e fazia parte da turnê ‘Out There’ de McCartney.
Wanzeler e Costa patrocinaram o show, uma vez que o organizador dono da ‘Capixaba Eventos’, Flávio Salles precisava de”investidor para shows com valores expressivos”, conforme o próprio empresário havia dito.
Apesar de o show ter ocorrido em 2014, a notícia se deu apenas no mês passado, após a Justiça ter decretado a falência da empresa por trás da Telexfree.
Telexfree em atividade
A Justiça de Vitória (ES) havia decretado, em setembro, a falência da Ympactus Comercial Ltda – ME, empresa por trás da Telexfree. A empresa deve cerca de R$ 2 bilhões a mais de 1 milhão de credores.
A decisão tinha sido proferida pela juíza Trícia Navarro, da 1ª Vara Cível de Vitória, após um outro desfecho. Depois de ser acionada na Justiça a pagar um valor devido de R$ 50 mil a um cliente, a empresa disse ser incapaz de saldar a dívida e não se opôs ao pedido.
Em consulta feita junto a Receita Federal, a reportagem descobriu, entretanto, que a empresa Ympactus continua ativa. Ao invés de limitada agora agora é uma sociedade anônima de capital fechado.
Os sócios, contudo, são os mesmos. A empresa tem como presidente Carlos Costa e diretores Carlos Nataniel Wenzeler e James Matthew Merril.
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