Famoso falsificador de obras de arte cria coleção de NFTs baseada no quadro mais caro do mundo

O notório pintor alemão Wolfgang Beltracchi está recriando diferentes versões de Salvator Mundi, atribuído a Leonardo da Vinci, para comercializá-los na forma de 4.608 NFTs.

Vendido por US$ 450 milhões em um leilão da Christie’s em 2017, “Salvator Mundi” não é apenas o quadro mais caro de todos tempos. É também um dos mais polêmicos. A pintura pode ter sido uma criação do artista italiano Leonardo da Vinci, porém a autoria jamais foi comprovada.

Agora, a obra adiciona uma pincelada (ou pixelada) a mais de controvérsia à sua história. O famoso falsificador de obras de arte alemão Wolfgang Beltracchi anunciou sua entrada no universo digital com o lançamento de “The Greats”, uma coleção 4.608 NFTs que recriam “Salvator Mundi” em diferentes versões.

Salvator Mundi atribuído a Leonardo da Vinci. Fonte: thegreats.com

De acordo com o site oficial do projeto, a coleção é dividida em mais de 30 séries inspiradas em 7 épocas diferentes da história da arte. A jornada começa na Alta Renascença, período em que da Vinci viveu e avança pelo pós-impressionismo de Vincent van Gogh, o surrealismo de Salvador Dali, o cubismo de Pablo Picasso, a pop art de Roy Lichtenstein a arte de vanguarda de Andy Warhol e uma perspectiva nova, e por que não original, do próprio Beltracchi.

Pode parecer contraditório que um falsificador lance uma coleção em forma de tokens não fungíveis, que servem exatamente para atestar a autenticidade de itens digitais, mas o fato de a escolha ter recaído sobre uma obra de autoria contestada adiciona uma camada subjacente de ironia a “The Greats”. 

Em reportagem do site The Block, um representante do falsário alemão explicou a razão pela qual “Salvator Mundi” foi a eleita para estrelar a estreia de Beltracchi no universo dos tokens não fungíveis:

“Beltracchi é a única pessoa com as habilidades necessárias para realizar isso. Ele conseguiu enganar os ‘especialistas em arte’ centenas de vezes com suas recriações de obras de pintores famosos.”

A relação de Beltracchi com o mercado da alta pintura é uma questão mal resolvida. Sua carreira foi construída na sombra, em cima de falsificações de obras notórias que por meios obscuros que conseguia introduzir no mercado como se fossem, de fato, originais.

Entre 1980 e 2011, estima-se que Beltracchi tenha acumulado mais de US$ 40 milhões com as vendas de suas réplicas perfeitas. Até que ele foi desmascaradoe condenado a seis anos de prisão pela Justiça alemã. Sua esposa foi acusada de cumplicidade e também foi presa.

Beltracchi acabou sendo solto pouco depois de completar o terceiro ano na prisão. Porém, museus de arte, galerias e casas de leilão o proibiram de exibir ou vender suas obras. Ele foi simplesmete eliminado do mundo das artes como persona non grata.

Agora, aos 70 anos, voltou-se aos NFTs como forma de redenção, conforme declarou ao The Block:

“O mercado de NFTs oferece aos artistas uma plataforma para eles se promoverem de modo independente e os emancipa de mecanismos do mercado de arte tradicional”.

Os tokens não fungíveis da coleção serão mintados às cegas, sem que os compradores saibam de antemão qual a versão da obra estão comprando.

O resultado serão 4.608 originais gerados a partir de arte generativa, utilizando a Função Aleatória Verificável desenvolvida pela Chainlink para garantir a aleatoriedade em contratos inteligentes autônomos. Ou seja, as obras são geradas através de um algoritmo pela combinação de diversos elementos idealizados por Beltracchi.

Beltrachi e a reprodução de Salvator Mundi. Fonte: thegreats.com

 Para recriar o ambiente de um leilão tradicional, o projeto integrará ferramentas do The Graph para que os usuários possam consultar informações sobre as vendas em tempo real.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, os NFTs têm se apresentado como um potencializador de novas formas de produção, comercialização e fruição de produtos culturais através dos recursos da tecnologia blockchain.

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