Famoso divulgador da Telexfree passa a “vender” Unick Forex
“Está cheio de pirâmides financeiras no mercado”, afirma Clair Berti ao defender a legalidade da empresa Unick Forex em vídeo veiculado no Youtube (foi reitrado do ar). Berti, contudo, foi o maior divulgador da Telexfree e chegou a captar investidores para a Minerworld.
No vídeo, Clair Berti ou Yatri — como é conhecido — afirma
que ficou “pesquisando sobre a Unick” e que chegou a conclusão de que ela não é
uma pirâmide. Ele disse que ‘falou muito mal da empresa e que não faria parte
dessa pirâmide financeira”, mas que depois reviu seu conceito.
Ele afirma que viu no site www.tenhodívidas.com uma denúncia de que a Unick Forex usa esquema de pirâmide. “Tudo para eles é golpe financeiro. Qualquer empresa de Marketing Multinível é pirâmide financeira”.
Nesse momento ele está com uma matéria na tela que aponta sobre a decisão da Comissão de Valores Mobiliários considerar ilegal a atividade da Unick Forex.
Nisso, ele constrói toda uma argumentação para retirar a credibilidade da denúncia, associando o site à ideal socialista, sendo que o site não tem uma propaganda de cunho político.
Berti disse que o “Tenho Dívidas” era sustentado pelo governo do PT para “atacar as empresas de Marketing Multinível”.
“Ano passado (2018) foi um ano político. E, o PT sempre foi socialista. Sempre foi contra o Marketing Multinível. O Socialismo não é a favor de que as pessoas ganhem dinheiro. O objetivo é destruir o Marketing Multinível”, afirma.
A defesa de Berti na Unick Forex, contudo, não é gratuita. Ele construiu um site apenas para captar novos investidores nessa companhia de “Marketing Multinível”.
Além da Telexfree
Berti tem sido bem atuante no mercado. O problema é
que as empresas que ele já apontou como legal não parecem ser bom negócio.
Segundo informações do grupo Gap Antiponzi, Berti tem promovido diversas companhias suspeitas de esquema de pirâmides como a “Bbom, Click Dreams, Neonn Corporation, Click Clube, Fuel Age, Mandala da Prosperidade, Bit Colibri, OnnFleek, além da Minerworld.
Na Minerworld, ele possuia um link pelo qual aparece que
a pessoa “foi convidada por Clair Berti”.
Essa companhia, que trabalhava com investimentos em
mineração de criptomoedas, encerrou suas atividades em meio a um escândalo
ocorrido em junho de 2018 que terminou na justiça.
Os sócios da Minerworld foram acusados pelo Ministério
Público do Mato Grosso do Sul de promover esquema fraudulento com
características de pirâmide financeira e lesar mais de 50 mil clientes
investidores.
O prejuízo causado superaria a marca de 300 milhões de reais. Esse valor, contudo, nem se compara com os R$6 bilhões bloqueados das contas da Telexfree, em 2013 pela justiça do Acre.
Antes desse bloqueio, o defensor da Unick Forex, conseguiu
mais do que multiplicar seus ganhos na Telexfree. Com um investimento inicial
de R$600, Berti chegou a faturar R$ 4 milhões, usando o chamado sistema de “Marketing
Multinível”, segundo informações do Jornal Folha de Videira.
Três anos após o incidente, ele disse para esse jornal do pequeno município de Videira (Santa Catarina) que a decisão da justiça do Acre era algo político e que o Ministério Público havia cometido um erro.
“Nós fomos lá no Acre pra verificar a real situação, tanto que não foram encontradas provas de que a Telexfree é uma pirâmide financeira, mas o governo disse ‘nós vamos bloquear e acabou, quem quiser que vá atrás da justiça, nós não vamos liberar!’ O dinheiro ficou pro Acre, ninguém conseguiu recuperar o dinheiro, ninguém conseguiu recuperar o investimento. (…) Agora quem fez a coisa errada na verdade foi o Ministério Público”.
Processo penal
Não só a Telexfree ou a Minerworld geraram problemas. O próprio Clair Berti está respondendo uma ação penal, a qual tramita na Vara Criminal da Comarca de Videira do Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Os autos do processo de nº 0001809-46.2017.8.24.0079 não estão totalmente disponíveis,mas pelo que está público se trata de crimes contra a Economia Popular.
A ação movida pelo Ministério Público do Estado de Santa Catarina veio partir do inquérito policial nº 331.16.0002, feito pela Delegacia de Polícia da Comarca de Videira (SC).
A denúncia foi aceita, em agosto de 2018, pela juíza Marta Regina Jahnel, uma vez que “existe prova da materialidade (ocorrência) do crime e indícios suficientes de autoria, pelo que existe justa causa para a deflagração da presente ação penal”.
Semelhanças entre Minerworld e Telexfree
Além de se ter Clair Berti como um divulgador em
comum, a Minerworld e a Telexfree usavam esquemas
fraudulentos semelhantes.
Os advogados de defesa de um dos supostos sócios da
Minerworld, Ivan Felix, que fazia parte de um grupo interno da empresa
denominado G10, apresentaram como peça-chave uma decisão do Tribunal de Justiça
do Acre (TJ-AC), de 2013, que foi favorável à Telexfree, também investigada
como suposta pirâmide financeira.
Isso foi até argumentado pelo advogado de defesa da ré Rosineide Lima, também denominada G10 da Minerworld. A defesa simplesmente afirmou que “os tribunais pátrios refutam a existência dessa relação de consumo quando se estiver diante de pirâmides financeiras”.
Caso Unick
A equipe de reportagem, assim como fez com o caso
Minerworld, tem acompanhado de perto a Unick Forex depois que a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), em janeiro, proibiu
essa empresa de fazer oferta pública de investimentos.
A companhia, que atua fazendo arbitragem de
criptomoedas, não acatou a determinação da autarquia, continuando a exercer suas
atividades normalmente e sem limites.
Antes de Clair Berti, a Unick Forex contou com a colaboração
de um oficial do corpo de bombeiros do Amazonas na divulgação de seu trabalho.
O então comandante-geral da corporação, coronel
Mauro Marcelo Lima Freire, chegou a palestrar sobre o grupo de investimentos dentro
do próprio comando, o que é considerado uma violação ao estatuto dos militares (Lei
6.880/80).
Apesar dela se autodenominar como uma companhia de
Marketing Multinível, como fizeram tantas outras, a CVM classificou sua atuação
como esquema de pirâmide financeira.
Uma sútil diferença
A linha entre Marketing Multinível e o esquema de pirâmide é bem tênue. A Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacom) em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), chegou até a lançar em 2013 uma cartilha explicando a diferença entre os dois.
Segundo o Boletim de Proteção do Consumidor/ Investidor
— CVM/Senacon, nos esquemas fraudulentos “não há a venda de um produto real que
permita sustentar legitimamente os ganhos dos participantes” e essa é a principal
diferença entre o marketing multinível e as pirâmides.
“Os planos de marketing multinível são estruturados para vender produtos reais, efetivamente utilizados por consumidores, sendo a compensação dos distribuidores ou revendedores decorrentes, principalmente, de efetivas vendas e não do recrutamento de novos membros. Pirâmides financeiras têm por finalidade obter recursos dos novos integrantes e é essa prioridade que acaba influenciando as características da oferta, quando elas assumem a forma de marketing multinível.”
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