Exclusivo: Farm de mineração de Bitcoin da Minerworld no Paraguai está abandonada e à venda

Reportagem do Cointelegraph vai até o Paraguai onde funcionou a farm de mineração da Minwerworld que teria supostamente minerado bitcoins até o final de 2018

Uma equipe do Cointelegraph esteve no Paraguai no local onde chegou a funcionar a fazenda de mineração da Minerworld, suposta pirâmide financeira de Bitcoin e constatou que embora houvesse rumores de que Cícero Saad e Hércules Franco Gobbi ainda comandavam a farm, não há mais atividades da empresa no local.

O galpão montado pela Minerworld em 2018 fica no Parque Industrial Monte Carlo, em Hernandarias no Paraguai, região onde está localizada a hidrelétrica binacional de Itaipu. O galpão está praticamente abandonado e disponível para venda.

Segundo relatos ouvidos pelo Cointelegraph e confirmados por funcionários e seguranças do local, a empresa chegou mesmo a ter uma operação real de mineração com cerca de 300 ASIC, Antiminer S9, compradas na China (entretanto isso não significa que apenas os Bitcoins minerados eram suficientes para sustentar as operações da empresa). 

No entanto, de acordo com os funcionários nem Saad nem Gobbi entendiam o suficiente de mineração e as operações no Paraguai não ‘fechavam a conta’ apenas com esta atividade, o que supostamente levou a Minerworld a começar a investir em supostas operações de Trading, serviço que também agrupava, segundo fontes, as criptomoedas da empresa. A derrocada viria com uma suposta tentativa de invasão na principal conta na Poloniex que levou a um bloqueio de aproximadamente 850 Bitcoins.

Com saques atrasados e posteriormente alvo da operação Lucro Fácil, da Polícia Federal, em junho de 2018 clientes, acompanhados das autoridades paraguaias, retiraram uma série de equipamentos da fazenda de mineração como forma de quitar as dívidas que a empresa tinha com eles.

Mas, embora a Minerworld tenha declarado a época que após a ação procuraria um novo local para instalação dos equipamentos e que manteria as atividades de mineração, os equipamentos permaneceram no mesmo local e a atividade de mineração teria recomeçado, segundo relatos. O que chama a atenção é o fato dos responsáveis pela mineração nunca terem informado no processo a quantidade mensal produzida, mesmo após pedido oficial do Juiz.

A operação revelada ao Cointelegraph, ‘bate’ com as declarações da empresa na época que deveria cumprir uma determinação judicial e depositar os valores minerados da Minertech em uma carteira digital, cujos dados de acesso ficariam em poder da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos de Campo Grande.

“A requerida se manifesta no presente feito no sentido de informar não haver saldo para depósito judicial em razão dos altos custos de mineração, gastos operacionais básicos, do pagamento de passivo decorrente da demissão de funcionários e das rescisões com os prestadores de serviço”, afirmou na época a Minerworld.

Fontes ouvidas pelo Cointelegraph, alegam que o parque funcionou até, pelo menos, o final de 2018, quando em uma reunião com Cicero Saad e os funcionários da empresa no Paraguai, estes teriam reclamado que como todo BTC minerado ia para o ‘Brasil’ e não cobria o custo do funcionamento do parque não estava sendo mais possível pagar funcionários e contas de energia.

“E no Brasil, nem Hércules e nem Cicero falavam nada sobre o dinheiro que ainda vinha do Paraguai”, disse uma outra fonte calculando que o equipamento remanescente teria ainda a capacidade de minerar algo em torno de 2.5 BTC mês.

Depois desta reunião teria sido acertado que haveria uma ‘gestão’ compartilhada da farm, entre os operadores no Paraguai e os brasileiros que já vinham respondendo processos judiciais, mas isso não se concretizou e o parque, em 2019 foi fechado.

No entanto, as máquinas não ‘sumiram’ e em outubro deste ano, segundo levantou o Cointelegraph, Cicero Saad estaria procurando investidores e mineradores para comprar as ASIC que sobraram da Minerworld.

Ainda segundo fontes ouvidas no Paraguai, por conta dos processos judiciais em torno das operações da Minerworld estaria ocorrendo uma ‘auditoria judicial’ sobre a compra dos equipamentos e a operação da empresa.

Fato que, segundo a fonte poderia complicar Hercules Franco Gobbi, responsável pela negociação dos equipamentos na época. Tudo teria sido feito ‘na confiança’ entre as partes e, portanto, não haveria qualquer comprovante das operações.

“A única coisa que tinha era uma planilha no word que não servia nem para comprovar compra de pão em padaria”, disse o colaborador paraguaio.

O Cointelegraph ainda levantou que antes do parque no Paraguai, as operações de mineração da Minerworld começaram na China em 2017 com mais de 1.200 equipamentos alugados que teriam ‘sumido’ em 2018 na esteira do bear market e das investigações da companhia.

“Tudo que estava na China sumiu e ninguém sabe para onde foi. Os chineses falam que as máquinas foram vendidas para pagar dívidas mas também alegam que os equipamentos nunca foram ligados, mas, de verdade, nem o Cicero nem ninguém sabe o que realmente foi feito destas máquinas”.

O Cointelegraph ouviu chineses que operam farms no país e, segundo eles, o contrato com os locatários das máquinas sempre é feito por um ano, no qual os custos de manutenção são reduzidos para impulsionar o lucro do cliente e, após este período o cliente deixa de ser dono da máquina e de sua rentabilidade.

A maior parte do tempo de operação da Minerworld ocorreu com aluguel de máquinas em uma farm no Paraguai, entretanto, fontes destacaram que o valor minerado, não seria suficiente para cobrir os custos da rede montada pela empresa e que as máquinas eram usadas como estratégia de marketing para justificar as operações. No entanto, parte destas máquinas alugadas depois integrariam a farm própria da empresa em Hernandarias.

Procurado pela nossa reportagem o ex-CEO da empresa, Jonhnes Carvalho informou que não tem acesso aos relatórios de mineração, também não tem mais contato com Cícero Saad ou Hércules Gobbi desde o final de 2018 quando discordou da gestão que vinha sendo feita na mineradora. 

Na época, segundo ele, confirmando os relatos ouvidos pela reportagem, os funcionários do Paraguai reclamaram que os Bitcoins minerados estavam sendo transferidos integralmente para o Brasil, ocasionando em débitos com colaboradores, energia e outros custos fixos do país. 

A pedido do administrador paraguaio da mineradora, Carvalho teria solicitado uma reunião via skype para evitar que todas as máquinas fossem desligadas, o que seria feito pelos paraguaios caso não houvesse acordo. 

“Após ajudar solucionar o problema eminente no Paraguai que na minha visão era mais um resultado de decisões muito equivocadas por parte do Saad e Gobbi, entrei em conflito de opinião com Saad e fui “afastado” da empresa pela terceira vez. A primeira em Abril de 2018, a segunda quando o Cícero fez umas movimentações no Paraguai sem consultar e a última nesta ocasião em que as máquinas quase foram desligadas. Desde lá meu contato com a empresa vem sendo feito exclusivamente por meio do Rafael Lopes.”, declarou.

O Cointelgraph não conseguiu contato com Cicero Saad e nem com Hercules Gobbi até o momento da publicação. O caso da Minerworld segue sendo analisado pelas autoridades que já bloquearam diversos bens da empresa e de seus sócios. 

Como noticiou o Cointelegraph, o Ministério Público Federal, não homologou um declínio de atribuições e, portanto, passou a investigar oficialmente as atividades da empresa e de todos os envolvidos no processo. O MPF não tem prazo para apresentar seu relatório.

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