Ex-sócio da Telexfree está de volta com uma “moeda virtual”
O ex-sócio da Telexfree, Carlos Costa, envolvido num escândalo de pirâmide financeira no Brasil e nos Estados Unidos, está de volta com uma nova empresa de marketing multinível.
O empresário chegou a ser preso preventivamente em dezembro de 2019 numa operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal do Espírito Santo que investiga o uso de recursos oriundos da Telexfree para compra de imóveis por meio de terceiros.
O novo negócio de Costa se chama Pipz e foi divulgado pelo próprio empresário por meio de um vídeo no Facebook no final de janeiro. Nas imagens, ele promete “uma bela renda extra” por meio de um programa de fidelidade em que o cliente, a cada real gasto, acumula pontos que dão direito a descontos em estabelecimentos conveniados. O projeto lembra bastante a dotz, moeda virtual. (Não é moeda digital).
Pipz é uma moeda virtual?
Em seu site, a Pipz, que existe há cerca de dois anos, se descreve com uma mistura de clube de compras, clube de descontos e marketing multinível. A empresa oferece também kits para assinantes que dariam como benefício a possibilidade de ganhar por meio de “marketing multinível sem ter que indicar ninguém“. Uma simulação mostra ganhos que podem superar os R$ 700 mil para quem completar os cinco níveis oferecidos.
Apesar de não se apresentar como uma moeda, o parecer técnico Nº 1067/2017 – SPPEA da Procuradoria Geral da República classifica moeda virtual como uma moeda emitida por entidades não financeiras e que servem como forma de fidelizar clientes.
De acordo com o parecer as moedas virtuais possuem utilização limitadas aos bens disponíveis naquele contexto, ou seja, “os pontos não podem ser trocados por dinheiro no caixa, eles têm de ser trocados por produtos.”
“Algumas moedas virtuais podem ser emitidas e intermediadas por
entidades não financeiras, tipo ilustrado pelos tradicionais programas de milhagens das
companhias aéreas, forma de fidelização de cliente como o Programa Multiplus da
LATAM ou o dotz.” Assim, a pipz se encaixa nessa classificação.
A empresa informou ao UOL que tem 10 mil clientes cadastrados e ganha dinheiro por meio da compra de pontos pelos clientes, mensalidades pagas pelos assinantes e venda de kits. O Livecoins tentou contato com a Pipz, mas não conseguiu.
Três estabelecimentos que aparecem como parceiros do site foram contatados pela reportagem: uma empresa de consultoria informou que se desligou da parceria; uma loja de flores chegou a fazer o cadastro na Pipz, mas não teria dado continuidade; por fim, uma loja de decoração para a casa afirmou que continua sendo parceira, mas que em anos nenhum cliente procurou os descontos. Os três empresários não quiseram ser identificados.
Para comprovar a legitimidade do negócio, a empresa divulga no site um laudo pericial de 2018 que atesta que a Pipz não se enquadra num esquema de pirâmide financeira (proibido por lei), mas num genuíno modelo de marketing multinível (permitido).
Caso Telexfree
O fundador da Pipz Carlos Costa é sócio de Carlos Wanzeler na Telexfree, empresa que foi reconhecida pela Justiça como pirâmide financeira com mais de 1 milhão de vítimas.
Ambos foram presos preventivamente no dia 17 de dezembro de 2019 no âmbito da Operação Alnilam, que investiga suspeita de ocultação de valores obtidos com a Telexfree.
A Telexfree iniciou as atividades em 2012 vendendo pacotes de telefonia via internet (VoIP). Em 2015, a Justiça do Acre apontou que a empresa atuava por meio de um modelo de pirâmide financeira e, em 2019, a Justiça do Espírito Santo decretou a falência da empresa, que deixou uma dívida de R$ 2 bilhões.
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