Especialista diz que ETF pode ter impacto negativo no preço do bitcoin

Já faz alguns anos muito dos participantes do mercado cripto aguardam ansiosamente pela aprovação do primeiro ETF de bitcoin dos EUA, já que, segundo eles, esse tipo de produto poderia alavancar a adoção da criptomoeda e impulsionar o seu preço. Mas nem todo mundo concorda com essa opinião.

Para Dan Morehead, CEO da gestora de investimentos em ativos digitais e empresas ligadas à tecnologia blockchain Pantera Capital, a aprovação de um ETF cripto pela SEC, que deve acontecer ainda em 2021, pode ter efeito contrário.

Em uma carta enviada aos clientes da gestora, ele citou o famoso ditado sobre “comprar no boato, vender no fato”, que sugere que o preço de um ativo pode subir consideravelmente em antecipação a um evento relevante, mas sofrer grandes perdas quando o evento de fato acontecer.

Morehead citou dois argumentos para sua opinião: “Durante todo o ano de 2017, o mercado estavam subindo com o mantra ‘quando a CME listar futuros de bitcoin, vamos para a lua’. O mercado subiu 2.440% até o próprio dia da listagem de futuros de bitcoin. Esse foi o topo. E um desses mercados baixistas, de -83%, começou naquele dia”, afirmou.

O segundo argumento se refere à listagem de ações da Coinbase, em abril de 2021: “Recentemente, repetimos esse ciclo. Toda a indústria se regozijou com a futura listagem direta da Coinbase. O mercado de bitcoin estava em alta de 822% no dia da listagem. O bitcoin atingiu o pico de US$ 64.863 naquele dia e um mercado baixista de -53% começou”.

“Alguém poderia me lembrar um dia antes do lançamento oficial do ETF de bitcoin? Talvez eu queira tirar algumas fichas da mesa”, completou, citando a possibilidade de vender criptomoedas antes do fato acontecer.

Outros especialistas discordam

A opinião de Morehead, entretanto, está longe de ser unanimidade no mercado cripto. CEO da Permission.io, Charlie Silver, por exemplo, concorda que a aprovação de um ETF de bitcoin pela SEC pode causar aumento do fluxo vendedor, mas, por outro lado, afirma que isso seria muito positivo para as perspectivas de longo prazo da criptomoeda.

Já o estrategista da Bloomberg Intelligence, Mike McGlone, discorda totalmente. “Tenho muito respeito pelo senhor Morehead, mas acho que ele está errado nessa. Os EUA devem aprovar um ETF de futuros de bitcoin em breve e os ETFs de bitcoin em si, muito mais procurados, não serão aprovados até o ano que vem. ETFs baseados em futuros são um passo pequeno perto dos ETFs comuns”, disse, à Forbes.

Chad Steinglass, da CrossTower, também falou à publicação e questionou a visão de Dan Morehead: “Existem dados que embasam a teoria do ‘compre no boato, venda no fato’ no mercado cripto, mas eu não acho que seja algo confiável. É muito mais algo de traders subestimando o impacto de notícias e como eles estão sobreposicionados do que uma dinâmica real do mercado”.

Steinglass citou outros exemplos em que o ditado fez sentido para investidores, como a adoção do bitcoin em El Salvador, mas também apontou outros em que a teoria não se aplicou, como a adoção dos criptoativos pelo PayPal em 2020, ou o fundo de bitcoin da Osprey, em 2021. “O fato real para determinar se um evento será de ‘venda no fato’ está diretamente relação a como e porque os traders estão posicionados”, explicou.

Ele também completou com uma análise específica sobre o caso dos ETFs: “Na minha opinião, a antecipação sobre o lançamento de um ETF de futuros de bitcoin não tiveram efeito no preço do bitcoin. E eu acredito que o interesse dos investidores em um EFT de futuros de bitcoin provavelmente será decepcionante”, afirmou, citando que a forma como esse tipo de fundo é estruturado impactará sua performance. “Um ETF baseado no mercado à vista seria outra questão e seria um produto muito superior do ponto de vista do investidor”.

A ansiedade por um ETF de bitcoin aprovado nos EUA se justifica por este ser um tipo de produto muito popular no país, tanto entre grandes investidores quanto no varejo. Atualmente, são mais de 2.200 ETFs listados nas bolsas norte-americanas, segundo o Statista. Assim, a perspectiva é que um ETF de bitcoin possa leva a criptomoeda para a carteira de investimentos de muita gente ainda não tem exposição ao mercado cripto. No Brasil, onde os ETFs não são tão populares quanto nos EUA, os fundos de criptoativos caíram nas graças dos investidores e já estão entre aqueles com maior volume de negociação na B3.

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