Equatorial coloca agenda de privatização de São Paulo à prova com Sabesp
O estado mais populoso do Brasil está prestes a vender participação estratégica na maior empresa de abastecimento de água da América Latina a uma distribuidora de energia com valor de mercado de R$ 38 bilhões e que começou no saneamento há dois anos.
A privatização da Sabesp, uma das bandeiras da gestão Tarcísio de Freitas no estado, significa que a Equatorial Energia vai assumir o abastecimento de água de cerca de 28 milhões de pessoas. Em jogo não é apenas o sucesso da maior oferta de ações no Brasil em anos, mas todo o debate sobre privatização.
O governador Tarcísio de Freitas, potencial candidato presidencial em 2026, quer colocar à prova o discurso de que, sob gestão do setor privado, a Sabesp pode entregar mais resultados. Essa posição é oposta da do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, dependerá da capacidade da Equatorial em mostrar que pode melhorar rapidamente as operações e lucros de uma estatal de 50 anos.
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Esperava-se que a privatização da Sabesp, que está sendo supervisionada por 12 dos maiores bancos do Brasil, fosse um ativo disputado por todo o setor privado. Em vez disso, o processo avançou com a Equatorial como única candidata, embora também esteja atraindo bilhões de fundos que desejam participar da venda como minoritários.
“O modelo escolhido é novo e tem boas ideias, mas não teve competição”, disse Sergio Lazzarini, professor do Insper cuja pesquisa se concentra em parcerias público-privadas. À medida que as privatizações levam tempo, regulamentações fortes são definidas e podem ter dificuldades em aproveitar bons momentos de mercado, disse.
“Está ficando cada vez mais claro que isso foi feito como uma bandeira política do governador”, afirmou, acrescentando que podem surgir problemas se São Paulo eleger um governador intervencionista – da esquerda ou da direita – depois de Tarcísio, cujo mandato termina em 2026.
A estatal paulista também é responsável pelo esgoto de cerca de 25 milhões de pessoas. A Equatorial, que tem um único investimento em saneamento que atende mais de 800 mil clientes no Norte do país, está oferecendo R$ 67 por ação – cerca de 22% menos que o valor atual de mercado.
O governo do estado de São Paulo deverá arrecadar quase R$ 7 bilhões com a participação de 15% na Sabesp que está entregando à Equatorial. Também venderá outros 17% da empresa como parte de uma oferta de ações mais ampla, por meio de um processo de bookbuilding na qual espera levantar mais R$ 9 bilhões.
A demanda por essa fase do negócio já supera a oferta de ações disponíveis. Sem outras empresas concorrentes, os investidores que participarem da venda mais ampla de ações em 18 de julho terão de fazer suas ofertas no preço sugerido pela Equatorial ou menos.
“A Equatorial é uma empresa com 20 anos de história e é uma ‘corporation’ sem controle definido, com 100% das ações negociadas em bolsa,” disse a empresa em um comunicado. A compra de uma participação importante na Sabesp é mais um passo na sua consolidação no segmento de saneamento brasileiro e na sua expansão geográfica no sudeste do país, disse a Equatorial.
A ideia do governo desde o início foi procurar um parceiro que ajudasse a melhorar a forma como a empresa é gerenciada, mas não necessariamente outra empresa de saneamento, segundo Natália Resende, secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado de São Paulo. “A Sabesp é uma operadora muito boa, tem um corpo técnico muito qualificado”, disse ela em entrevista. “A gente precisa de melhoria de gestão, governança.”
O governo, que continuará sendo o maior acionista com uma participação de 18%, mas com apenas três assentos no conselho, acreditando que a distribuidora de energia poderá ajudar a Sabesp a fazer os investimentos necessários para universalizar serviços para fornecer acesso a água e esgoto a mais de 90% da população do estado. “Estamos satisfeitos de ter um perfil como o da Equatorial pelo que ela agrega”, afirmou Resende.
A Equatorial anunciou na última quinta-feira que apresentará aos investidores seus planos para a Sabesp, listando uma série de “alavancas de valor”. A companhia disse que o atual modelo regulatório é semelhante ao do setor energético e permitirá alavancar seu histórico de otimização. Entre as iniciativas para reduzir despesas, a empresa citou a renegociação com fornecedores e a reestruturação da equipe.
O novo presidente executivo e o novo presidente do conselho da Sabesp serão escolhidos pelo seu novo acionista-âncora, que vai ter três membros no conselho. A Equatorial pretende utilizar a Sabesp como veículo para sua estratégia de crescimento em serviços de água e esgoto, conforme apresentação aos investidores.
Fundada em 1999, a Equatorial era anteriormente propriedade do fundo brasileiro de private equity GP Investments, depois dos fundos da Vinci Partners. Em 2015, a Vinci vendeu sua última participação, deixando a Equatorial sem acionista controlador.
O Opportunity Asset – fundado em 1994 pelo bilionário Daniel Dantas, sua irmã e um sócio – é o maior acionista da Equatorial, com 6,3% de participação. O segundo maior acionista é o Capital World Investors, seguido pela Squadra Investimentos, Canadian Pension Plan Investment Board e Blackrock, todos com cerca de 5%.
Alguns desses investidores estariam dispostos a injetar capital em uma futura oferta pública de ações para ajudar a Equatorial a cumprir seu plano de investimento de R$ 39 bilhões até 2029, disse uma pessoa familiarizada com o assunto, solicitando anonimato porque nenhum anúncio formal foi feito.
Oponentes desistiram
Antes de a Equatorial emergir como única concorrente em meio a um período de volatilidade nos mercados brasileiros, o governo do estado de São Paulo tinha outros pretendentes ao negócio.
A Aegea Saneamento e Participações, concessão de capital fechado que tem como acionistas o Fundo Soberano de Cingapura (GIC, em inglês) e a holding Itaúsa, era uma das concorrentes tidas como confirmadas para tentar ganhar o posto de investidor estratégico desde o início.
Mas desistiu no último minuto depois de perder uma batalha com o governo sobre mudanças nas cláusulas que limitam a 30% a fatia que um investidor pode ter na empresa sem ter de fazer uma oferta para comprar toda a empresa (OPA), segundo pessoas a par do assunto.
A Cosan também manifestou interesse em uma participação estratégica na Sabesp, mas descartou sua oferta devido à falta de recursos, com juros mais altos por mais tempo no país. Enquanto isso, o balanço das condições de mercado levou um consórcio que incluía a gigante francesa Veolia Environnement e a gestora brasileira de ativos alternativos IG4 Capital Investimentos a abandonar planos de oferta, segundo fontes.
“Algumas empresas – e nós as respeitamos – desejamos mais controle da empresa”, disse Resende. “Mas essa era uma premissa que nunca esteve em jogo por parte do estado.”
A oferta respeita o preço mínimo calculado pelo governo com base em “metodologia consagrada”, disse ela. “Estamos preocupados com o depois. Queremos que os nossos 18% se valorizem junto com a empresa, mas precisamos fazer o processo como estamos fazendo hoje”, disse.
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