Entrevista: Qual o Futuro do Setor de Criptomoedas, Com Daniel Coquieri, COO da BitcoinTrade
Uma entrevista rápida e dinâmica com o COO de uma das principais exchanges brasileiras, Daniel Coquieri!
Nessa série especial, o BeInCrypto estará entrevistando os CEO’s das principais exchanges brasileiras. Discutiremos sobre o atual cenário econômico, bem como as expectativas de cada corretora para o cenário do Bitcoin pós halving!
E para começar nossa série, o COO da BitcoinTrade, Daniel Coquieri nos mandou suas palavras!
1. Com os estresses econômicos e político que estamos vivendo, muito se discutiu de utilizar criptomoedas como forma de proteção. Infelizmente tivemos quedas colossais ao longo de março para o Bitcoin. Você acredita que em algum tempo o Bitcoin estará de fato preparado para ser o principal ativo de refúgio?
“Eu acho que essa queda do bitcoin nesse momento da crise, do coronavírus, seguindo todas as bolsas, foi uma queda muito mais de pânico no mercado mundial inteiro por indefinição de como as coisas vão acontecer.
Naturalmente, muita gente na hora do desespero liquida seus investimentos, dos mais variados, pra poder ter em mão o dinheiro que ela precisa para viver. E uma outra parte liquida para poder dar mais margem em outras operações alavancadas.
Mas vimos uma recuperação forte do Bitcoin nas semanas seguintes, e eu sincermente não sei se ele vai ser o principal ativo de refugio em momentos de crise, mas com certeza vai ser um deles, como o ouro, por não estar atrelado ao sistema financeiro principal.”
2. Desde o fim do ano passado, mas especialmente agora em março, os maiores Bancos Centrais estão jorrando liquidez no mercado. Você acredita que isso pode estar inflando uma bolha e reprecificar os ativos antes da hora?
“Eu acredito que em primeiro momento esse dinheiro que os Bancos Centrais estão jorrando no mercado não vai atingir o Bitcoin, é um dinheiro que não está indo necessariamente para o mercado financeiro.
Eu acho que é um processo, mas que com o tempo, na medida que a crise for se estabilizando, né, a gente sair desse momento de pânico para um recomeço dos mercados como um todo, eu acredito que nesse momento parte desse dinheiro vai ser alocado no mercado de criptomoedas e favorecendo o mercado.
Mas não acho que esse dinheiro vai ser transferido de uma hora para a outra no mercado de criptomoedas, eu ainda vejo a maioria das pessoas buscando a segurança nesse momento de crise nas moedas de seus países ou no dólar, que ainda está muito forte no mundo.
Nesse momento ainda não vejo, mas com o tempo vamos ter uma retomada mais rápida com relação a quantidade de dinheiro que os governos estão imprimindo.”
3. O Bitcoin é beneficiado ou prejudicado com isso?
“Eu não sei dizer se ele é prejudicado ou beneficiado, acho que é muito sensível conseguir definir 100% se ele vai ser prejudicado ou beneficiado.
Assim como a resposta anterior, eu acredito que sim, esse dinheiro que o governo está dando, e a medida que isso vai chegando na ponta final e as coisas forem se estabilizando, eu acho que parte desse dinheiro vai sim para o mercado de criptomoedas, assim como para outros.
De forma geral, acho que podemos dizer que o Bitcoin vai ser sim beneficiado com isso.”
4. Em movimentos tão agressivos de queda que tivemos neste mês que passou, imagino que as exchanges também passem apuros. Como a BitcoinTrade se preparou e se mantêm preparada para esses cenários com muitas solicitações de saque?
“Pra corretora, ela já é teoricamente preparada para esses momentos de oscilação. Não é a primeira vez que vemos o BTC fazendo movimentos de 30%, 40%, caindo, a gente teve isso em 2018 e 2019 com ele subindo e caindo.
Pra corretora, a custódia dos clientes está sempre disponível. A relação com a quantidade de saque que pode acontecer em um momento como esse não muda nada, todos os nossos processos são automatizados, então a questão de quantidade de saques e depósitos é toda automatizada, com integração nos bancos, então o processo em si não mudou em nada.”
5. Qual a sua expectativa para o Halving do Bitcoin?
“Eu acredito que pro momento agora do halving a gente não deve ter nenhum grande impacto no preço, até porque o que a gente esperava era uma euforia pré halving, que vinha acontecendo antes da crise, e essa euforia fosse fazer o preço subir.
Historicamente falando, no momento do halving o preço nunca tem grandes altas, mas com o passar dos meses a gente começa a perceber uma tendencia de subir o preço justamente por menor oferta no mercado das criptos.
Então, na minha visão, eu acredito que não teremos grande subida do preço, será uma surpresa se tivermos alguma surpresa assim, mas acredito que com o passar do tempo, a tendencia é que o preço vá subindo gradativamente.”
6. O Sitema PIX do Banco Central está finalmente com data marcada. Você acredita que essa tecnologia pode impactar a adoção e utilização mais frequente em um futuro próximo aqui no Brasil?
“Eu acho que ainda é muito cedo para tomar alguma posição sobre o projeto PIX. Ele tá começando agora, em um momento BETA, a previsão é para setembro ou agosto, e estamos acompanhando de perto.
Vamos ver como o projeto como um todo vai se desenvolver, se vai haver oportunidade do mercado de criptomoedas se aproveitar desse movimento do Banco Central. Mas nesse momento ainda acho que é muito cedo para tomar qualquer decisão sobre isso.”
7. Já há algum plano de integração da BitcoinTrade com o sistema PIX?
“Como trabalhamos com os principais bancos do brasil, quando eles começarem a disponibilizar o PIX para seus clientes, a gente vai acabar integrando e utilizando essa solução.”
8. Ainda está em pauta a CPI das criptomoedas, pela PL 2303. Na sua perspectiva como investidor e COO, caso aprovada, ela tende a aumentar ou diminuir o número de investidores no Brasil? Acredita que seja um marco interessante para exchanges como a BitcoinTrade?
“A gente tem uma expectativa positiva sobre PL 2303, inclusive eu falei recentemente em uma live que uma regulamentação pró mercado, que defenda o mercado como um todo, seja pessoa física ou jurídica, ou outros players da cadeia toda que está sendo construída ao redor das criptomoedas, uma regulamentação que defina determinadas regras pra trazer segurança jurídica pra esse mercado é muito positivo.
Casos como aconteceram no passado, com relação a piramides financeiras e golpes, devem ser punidos com leis e regras especificas para esses casos, e não ficar na situação que hoje fica, onde não existe punições mais severas para isso.
E não só as fraudes, mas até as próprias regulamentações, para que até outros players maiores ou para que o mercado financeiro e o mercado de criptmoedas possam conversar mais, e conversa é oportunidade de negócios.
De um lado temos um mercado com regras fixas, e de outro um mercado sem regras, então fica difícil criar conversas entre esses dois lados, o que faria o mercado de criptomoedas crescer, mas sem uma regulamentação isso não existe. A regulamentação é uma segurança jurídica, e com ela o mercado como todo cresce e abre-se um novo horizonte para ele.”
9. Qual é a sua opinião sobre a China que proíbe o Bitcoin e outras criptomoedas, mas adota o blockchain? Eles não fazem parte do mesmo corpo? Isso é possível a longo prazo?
“Eu acho que Bitcoin e Blockchain, pro lado do Bitcoin, um não vive sem o outro. Mas o Blockchain vive sem o Bitcoin, então o que eu vejo é cada vez mais empresas buscando aplicar o Blockchain em outras áreas, outros mercados.
Isso na minha visão é outro mundo, e acho que isso pode acontecer naturalmente. O Blockchain pode sim ter seu caminho sem o Bitcoin. Obviamente isso é uma regra na China, mas eu vejo sim cada um seguindo seu próprio caminho”
10. O setor de tecnologia parece estar concentrado na China e nos EUA, e na América do Sul? Está preparado para a nova revolução da blockchain? Quais países sul-americanos estão liderando a regulamentação?
“Atualmente eu não vejo nenhum país, talvez o Brasil seja o mais avançado com relação a regulamentação aqui na América do sul. Eu sei que a Argentina tem algumas empresas no setor que são importantes, o Brasil também, mas eu ainda vejo os países da América do sul com problemas maiores, principalmente os governantes, para dar uma atenção maior para esse setor.
coisa que nos EUA é bem diferente, na China também, mas principalmente nos EUA com essa questão da tecnologia. Mas eu ainda vejo essas dificuldades que os países da América do sul ainda possuem para dar atenção ao setor de criptomoedas, mas não só para ele, alguns outros setores como o de tecnologia também sofrem com isso.
Eu acredito que o Brasil, na América do sul, é o que está mais avançando no setor como um todo, tanto em numero de players, tanto em discussão no governo, a própria RF já lançou uma normativa e está se envolvendo mais com o setor. Então acredito que estamos mais avançados, mas ainda não estamos no nível dos EUA, mas dadas a proporções diferenciadas destes dois país, já que os EUA dão mais atenção ao setor, não é algo grande, mas acontece.
Essa é a visão que eu tenho com relação a esse movimento. É difícil dizer que o Brasil ou outro país da América do sul vá liderar o setor, justamente por falta de apoio, então infelizmente é difícil vermos algum país da América do Sul liderando o setor, mas dentro do nosso grupo, o Brasil é o que está mais avançado.”
11. Que futuro você vê para a indústria global de blockchain, ela também se localiza geograficamente em um lugar específico, como Vale do Silício, ou isso é diferente devido à sua estrutura descentralizada?
“Eu acredito que o Blockchain está muito localizado nos países que investem mais em tecnologia, como o Vale do Silício, que é um grande polo do setor e que recebe muito dinheiro, de muitas empresas de sucesso, então é natural que muita coisa venha a nascer dali, por questões de apoio financeiro, por trocas entre os empreendedores, enfim.
Eu também escuto, mas não sei se é verdade, mas a Suíça também, com relação a criptomoedas, dizem que tem um pensamento aberto com relação ao setor, então pode ser que ela também se torne um polo para o setor.
Mas a gente vê muitos projetos nascendo ou sendo construídos nos EUA, China e no Vale do Silício, que são os maiores polos no mundo, então não é diferente para o Blockchain ou criptomoedas que esses países estejam sempre na dianteira.
Eu acho que para ser descentralizada, com certeza você poderia aplicar essa tecnologia em qualquer país, você poderia estudar tudo o que foi criado e tentar aplicar isso em outros setores. Então assim, Blockchain não tem um dono. Ela é uma tecnologia aberta que qualquer país ou empresa pode estudar e ver o que pode ser aplicado no seu setor com o que já foi construído com o Blockchain.
Isso vem acontecendo de forma bem distribuída, mas ainda existem grandes polos, onde o incentivo é muito grande, o que naturalmente colabora para que as coisas ali evoluam mais rápido e depois saiam para o mundo de forma natural.”
12. Como você vê a regulamentação da blockchain em 5 anos?
“Eu não vejo uma regulamentação do Blockchain, eu vejo uma regulamentação hoje pro setor das criptomoedas. Como o setor das criptomoedas, como as corretoras, tokens e outros envolvem custódia de dinheiro de cliente, existe um risco inerente nestes negócios. Um risco das empresas, sem regra definida, usando o dinheiro dos clientes a seu bel prazer.
Isso é extremamente errado, o dinheiro que as corretoras possuem, as criptomoedas ou qualquer negócio que envolva custódia de cliente, o dinheiro não é da corretora, então o dinheiro precisa ser preservado e sempre assegurado. É preciso ser transparente com o cliente, então uma regulamentação tem de vir para ajudar a dar respaldo de segurança jurídica.
Tanto para os players quanto para a empresa que está com o dinheiro do cliente. Hoje vemos muito os clientes lesados procurarem a lei do consumidor, mas o ideal seria ter regras mais claras para as empresas a fim de gerar segurança.
Então daqui 5 anos eu acredito que a regulamentação esteja aprovada, para trazer segurança jurídica ao mercado, e isso vai atrair os grandes players, os grandes bancos a colocarem o pé no nosso setor, e fazer com que ele chegue ao mainstream todo de forma geral.
Uma regulamentação bem definida vai fazer com que o setor cresça no Brasil, ela vai fazer com que as corretoras tradicionais possam oferecer fundos em criptomoedas para seus clientes, o que já acontece, mas não é mainstream. Isso vai facilitar muito a adesão do setor de forma geral no país como um todo.
13. Na sua visão como COO, o que falta para a adoção de BTC no Brasil se tornar muito maior?
“Eu acho que o Brasil em si carece de educação financeira. A gente ve que boa parte do dinheiro do brasileiro está na poupança, que é o pior investimento possível.
A falta dessa educação é prejudicial quando você vai para um setor como o nosso, de alto risco. Então quanto você tem uma população que prefere deixar seu dinheiro em um lugar que rende pouco, mas que é extremamente seguro, e um setor extremamente arriscado, as coisas ficam difíceis.
Entre os dois extremos existem outros meios de investimento, ações, fundos, e outros que tem graus diferentes de risco. Eu clássico o setor de cripto como de alto risco, mas de alto lucro. Para o setor crescer, antes de mais nada é preciso de uma regulamentação que ajude, que chame os grandes players, os grandes bancos, as grandes corretoras, que as empresas do setor possam fazer negócios e parecerias, que hoje em dia não fazem.
Isso eu falo por já ter conversado com diversas empresas para tentar fazer negócios ou produtos que correlacionem criptomoedas com os produtos tradicionais. O problema é sempre o mesmo, um lado é regulado e o outro não.
Quando houver a regulação, o horizonte do setor de criptos vai se expandir, e a educação brasileira, cada vez mais mostrando que o povo precisa ter um portfólio de investimentos diversificado.
Eu acredito que players importantes vão fazer esse papel educacional, e com tudo isso acontecendo, teremos um aumento e mais pessoas entrando para o setor, seja investindo em uma corretora, em tokens ou utilizando alguma aplicação de criptomoedas no seu dia a dia. Mas eu vejo uma evolução, ano a ano, dentro do nosso mercado.”
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