Entrevista com Fausto Vanin, CEO da OnePercent: a representatividade negra no mercado blockchain
No Brasil, 56% da população se considera negra. Apesar disso, menos de 5% dos trabalhadores negros ocupam cargos liderança nas empresas brasileiras.
As estatísticas não mentem: o racismo estrutural permanece forte no mercado e subjuga a população negra as piores condições de trabalho, com uma média salarial 60% inferior.
Para discutir a representatividade negra no mercado das criptomoedas e blockchain, o BeInCrypto conversou com Fausto Vanin, CEO da OnePercent.
O empresário gaúcho de 38 ano fundou a startup em 2017 para atuar com a sua equipe na criação de tokens, soluções de software e inovação blockchain.
Vanin também participa do LAB da CVM, onde contribui nos grupos de Fintech e Investimentos de Impacto.
Agora, a empresa foi contemplada pelo programa Grow Startups de apoio a iniciativas lideradas por empreendedores negros. A iniciativa é promovida pela BlackRocks Startups em parceria com o BTG Pactual.
Confira abaixo a entrevista exclusiva com Fausto Vanin.
Nesse cenário de baixa representatividade de negros em espaços de liderança, quais iniciativas podem ajudar a reverter esse quadro?
R: Eu acredito que uma ação simples é a de fazermos essa mesma pergunta aos boards das empresas, aos fundadores, ao C-Level. E a resposta a essa pergunta pode revelar o tamanho do abismo de percepção social das lideranças em relação à realidade e à sua condição e responsabilidade em mudar esse contexto histórico.
Eu considero que o contexto regulatório também pode desempenhar um papel importante em motivar comportamentos e ações afirmativas. Mas importante destacar que não podemos delegar essa responsabilidade toda a quem regula. Você que consome produtos e serviços de empresas que não se movimentam em relação a esse tema, o que você vai fazer sobre isso?
O mercado das criptomoedas e as iniciativas blockchain seguem dominadas por homens paulistas brancos. Qual é a sua visão sobre a falta de diversidade no setor em que você atua?
R: Eu tento sempre perceber blockchain e criptomoedas como um mercado global, pois foi assim que ele foi pensado nas suas raízes cypherpunks. O que não muda esse cenário de supremacismo citado na pergunta. Mas também abre um olhar para o poder libertário, que a meu ver dialoga de uma maneira positiva com a raiz cultural e ancestral africana e afrodescendente, por exemplo. O caminho para expandir a diversidade nesse ecossistema, a meu ver passa por aplicar blockchain e cripto em projetos que visem gerar impacto social e ambiental, pois isso dialoga diretamente com pautas necessárias de povos minorizados.
Agora, enquanto cripto e blockchain ficarem herméticas em uma visão de portfólio financeiro, o domínio das narrativas fica preso a essa visão supremacista. Mas é possível gerar impacto e movimentar a economia e blockchain pode ter um papel importante nisso.
Você já passou por momentos na sua carreira onde teve a sua liderança/trabalho questionado pela cor da sua pele?
R: Eu acho difícil e complexo olharmos o racismo por essa perspectiva individualizada na pessoa do Fausto, ou qualquer outra pessoa preta. Porque o racismo estrutural é muito mais sutil do que isso.
O racismo estrutural é um conjunto de restrições, visões distorcidas e dinâmicas de poder que reforçam um pensamento eurocêntrico de que é branco é bom e o que não for branco é ruim. E é esse o grande elemento de minorização do povo preto no Brasil.
Então quando uma empresa, um negócio, um projeto escolhe ir pelo caminho do “para nós todos somos iguais” e coloca no seu ideal de composição do time ter pessoas com uma determinada formação específica, idioma, experiência prévia, sem perceber essa persona ideal é diametralmente oposta ao que uma pessoa preta em geral pode ser.
Ser preto no Brasil é praticamente sinônimo de ser pobre. Eu vim da periferia, mas essa pergunta não pode ser sobre mim, ela tem que ser sobre os irmãos e irmãs que também vieram mas não conseguiram ascender aos espaços. Porque partir de um raciocínio de que “se eu consegui, todo mundo pode” é reforçar um pensamento de meritocracia que, na sua mecânica de reconhecer “os melhores” baseado em critérios extremamente excludentes, empurra as pessoas pretas para a pobreza e para o crime, esconde a responsabilidade social das pessoas e de suas empresas e gera um falso sentimento interno nas organizações de serem inclusivas.
Agora que a OnePercent faz parte do projeto da BlackRocks, como você espera que a empresa cresça daqui pra frente?
R: Pra nós, é uma satisfação estarmos nessa parceria com a BlackRocks. Elas chegam para nos apoiar em uma frente importante de abrir mercado e gerar oportunidades para a One. Buscamos ser uma empresa de amplo alcance na América Latina e acreditamos que a BlackRocks seja uma parceria fantástica para esse movimento.
Também entendemos que esse crescimento passa por fortalecer nosso portfólio de produtos, pois eles são nosso maior ativo quando combinado com nosso portfólio de projetos já entregues e em andamento.
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