Alta infinita: Inflação veio para ficar e o Bitcoin pode ser a melhor proteção, dizem especialistas
A narrativa de que o Bitcoin é o melhor ativo para proteção do patrimônio contra a corrosão do poder de compra das moedas fiduciárias ganha força diante da nova alta histórica e a depreciação do ouro.
Foi uma semana de fortes emoções no mercado de criptomoedas. Iniciou-se com a entrada em operação do primeiro ETF (fundo negociado em bolsa) de Bitcoin. No dia seguinte, a maior criptomoeda do mercado renovou sua máxima histórica e foi seguida pelo Ethereum (ETH), embora sem um rompimento definitvo, e pela Solana (SOL).
Embora tratem-se de marcos históricos pontuais que ficarão registrados na história do engenhoso invento de Satoshi Nakamoto, muito celebrados pela comunidade cripto, é o cenário macroeconômico que está dando uma força adicional ao Bitcoin (BTC).
Agora que a maioria parece estar convencida de que a inflação atual não é um fenômeno transitório e está disseminado pela economia global, alimentado pela política monetária de injeção de liquidez através da emissão massiva de moeda, o Bitcoin pode estar se consolidando como o ativo de reserva de valor por excelência de um mundo cada vez mais digital.
Se antes da nova alta histórica o Bitcoin já vinha sobrepujando o ouro, até então o ativo preferencial de proteção contra a desvalorização da moeda, agora testemunhamos a construção da narrativa do “ouro digital” lado de fora da fortaleza cripto.
A história registrará que não terá sido por adesão voluntária, mas sim porque os antigos céticos foram convencidos por números que comprovam que só o Bitcoin tem sido de fato eficaz contra o avanço da inflação.
Na segunda-feira, em uma análise anterior à nova alta histórica publicada no site da Nasdaq, a natureza deflacionária do Bitcoin é saudada como a principal força por trás da recente valorização:
“Mesmo com as boas notícias da SEC [Comissão de Valores Mobiliários], parece que uma força de mercado mais fundamental está por trás do aumento contínuo do Bitcoin: a inflação. A utilidade do Bitcoin em um ambiente inflacionário foi alardeada desde a origem da criptomoeda; na verdade, ele está embutido no design do Bitcoin. Com seu limite rígido de emissão de tokens (apenas 21 milhões de Bitcoins existirão), o Bitcoin foi construído para servir como uma reserva confiável de valor à prova de inflação para oferecer uma alternativa às moedas fiduciárias, cuja emissão é controlada por governos e bancos centrais e que, portanto, estão sujeitos a períodos inflacionários selvagens.”
No dia seguinte ao novo recorde histórico de US$ 66.930, a análise do banco de investimentos norte-americano JP Morgan minimizou o impacto do ETF sobre o rali que decretou a nova marca:
“Por si só, é improvável que o lançamento do ETF ProShares Bitcoin Strategy leve a uma nova fase de entrada de capital significativamente novo em Bitcoin. Em vez disso, acreditamos que a percepção de que o Bitcoin é uma melhor proteção contra inflação do que o ouro seria a principal razão para a alta atual, desencadeando uma migração de ETFs de ouro para fundos de bitcoin desde setembro.”
O movimento se acelerou recentemente, mas, de acordo com dados do próprio banco, trata-se de uma tendência que vem se delineando desde o início deste ano. A alocação em fundos do metal precioso caiu cerca de 15% no período. Por outro lado, a procura por fundos atrelados ao Bitcoin cresceu quase 30%.
Os próprios resultados do ProShares Bitcoin Strategy ETF dão prova disso. Em apenas dois dias de negociação, tornou-se o fundo mais rápido de todos os tempos a atingir US$ 1 bilhão em ativos sob gestão.
Em uma entrevista à CNBC esta semana, o bilionário Paul Tudor Jones deu o tom do sentimento do mercado, ao afirmar que a inflação não só não é transitória, como representa a maior ameaça à estabilidade dos mercados financeiros e da sociedade, de forma mais ampla.
De acordo com Tudor Jones, as políticas de estímulo monetário do governo dos EUA estão alimentando o ciclo inflacionário:
““A inflação pode ser muito pior do que tememos. É preciso considerar o lado da demanda nessa equação. São US$ 3,5 trilhões a mais do que o normal apenas em depósitos líquidos. Esses fundos podem ir para ações, ou criptomoedas, ou para imóveis, ou serem consumidos, de forma que há uma grande quantidade de dinheiro disponível para ser utilizada em algum momento, e é por isso que a inflação não está indo embora.”
Tudor Jones já havia alertado para os perigos do que chamou de “grande inflação monetária”, título de um ensaio que o investidor publicou em maio de 2020 alertando sobre a precipitação e os possíveis colaterais da flexibilização da política monetária dos EUA.
Mesmo ali, quando o Bitcoin ainda se recuperava do “Corona crash” e estava cotado em torno de US$ 10.000, ele antecipava o sentimento atual de que o BTC poderia ser o melhor antídoto contra a inflação.
Na entrevista à CNBC, ele reafirmou ambas as assertivas. Tudor Jones disse considerar a atuação do FED (Banco Central Norte-americano) diante dos desafios impostos pelo coronavírus uma das piores, se não a pior, política monetária que ele testemunhou em toda a sua vida, prejudicando a economia e os investidores:
“Você não quer ter renda fixa, porque o que eles estão dizendo, o que eles estão dizendo por meio de suas ações, é que eles vão ser lentos e vão se manter atrasados em sua luta contra a inflação.”
Depois de considerar que o mercado acionário é uma melhor opção no cenário econômico atual, ele fez suas considerações sobre as criptomoedas:
“Criptomoedas talvez sejam uma grande proteção contra a inflação. Eu tenho criptomoedas, são uma pequena parte do meu portfólio. Eu acho que nós estamos nos direcionando a um mundo digital em que claramente haverá um espaço para as criptomoedas. Claramente, as criptomoedas estão ganhando a corrida contra o ouro nesse momento. Eu acho que são sim, também, uma grande proteção contra a inflação. Eu tenho preferência pelas criptomoedas em relação ao ouro nesse momento.”
Bitcoin x Ouro
Tudor Jones não deixa dúvidas do lado em que ele se encontra na disputa entre ouro e Bitcoin como o ativo mais efetivo para proteger-se da inflação. Aqui estão os números que justificam sua posição.
Entre janeiro de 2015 e setembro de 2021, o ouro oscilou positivamente 0,47%, uma variação que fica abaixo da inflação média do período tanto nos EUA quanto na Euorpa. Enquanto os norte-americanos enfrentaram uma variação de 1,80%, na zona do Euro, o índice de preços ao consumidor subiu 0,99%. Já o Bitcoin apresentou uma variação positiva de 9,26%. Os dados são de uma reportagem do Jornal de Negócios, de Portugal.
A grande contradição do Bitcoin, nesse caso, é que, apesar de sua história provar que ele tem sido um ativo eficiente como reserva de valor no médio e longo prazo, ele ainda é altamente volátil no curto prazo. Por exemplo, hoje, no momento em que este texto está sendo escrito, o Bitcoin está cotado a US$ 60.800, mais de 9% abaixo da alta histórica registrada há apenas dois dias atrás, de acordo com dados do CoinMarketCap.
Assim, entre 2015 e 2021, enquanto o ouro oscilou entre variações negativas de 8% e positivas de 11% em relação ao seu valor atual, o Bitcoin foi a extremos entre perdas da ordem de 37% e ganhos de 72%.
Brasil
Enquanto isso, no Brasil, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice oficial do governo para medir a inflação, soma 46,41% no acumulado entre janeiro de 2015 e setembro de 2021, de acordo com a ferramenta de cálculo disponibilzada pelo IBGE.
O cenário atual demanda atenção não apenas dos investidores, mas também dos cidadãos comuns. Inflação em alta, dólar em disparada e a aprovação de um novo programa de transferência de renda indicam que a alocação de parte do portfólio em Bitcoin é a melhor opção para se proteger da desvalorização da moeda, mesmo que os os títulos públicos de renda fixa tenham voltado a atrair a atenção dos investidores, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente.
Na quarta-feira, o juro pago em títulos prefixados com vencimento em 2024 pagava 10,84%. Ainda que se configure como um dos retornos mais altos desde que o título começou a ser negociado, em fevereiro de 2021, não se compara ao rendimento do Bitcoin, somente no acumulado deste ano. A maior criptomoeda do mercado registra uma valorização de aproximadamente 115%.
Diante das incertezas do cenário macroeconômico global, o Bitcoin oferece proteção não só contra a depreciação do real, mas também contra o possível enfraquecimento do dólar norte-americano.
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