‘Fim da era dos juros baixos invalida tese do Bitcoin como ouro digital’, diz André Esteves

O presidente do conselho de administração e sócio do banco de investimentos BTG Pactual afirmou que o comportamento do Bitcoin diante de um cenário macroeconômico de enxugamento da liquidez mostra que o criptoativo não é uma boa opção para diversificação de portfólio.

O Bitcoin (BTC) não é o “ouro digital”, afirmou o presidente do conselho de administração e sócio do BTG Pactual, André Esteves, em um evento promovido pelo banco de investimentos realizado na terça-feira, 21, informou reportagem da Folha de São Paulo.

A política de juros baixos e o excesso de liquidez disponível nos mercados financeiros globais que se seguiram à crise financeira de 2008 contribuíram para inflar artificialmente o preço das criptomoedas, causando uma falsa impressão de que esta nova classe de ativos seriam uma boa alternativa de diversificação do portfólio para os investidores.

Agora, os bancos centrais das principais potências econômicas mundiais estão sendo obrigados a reverter a política de afrouxamento monetário até pouco tempo em vigor para conter o avanço inflacionário, recrudescido pela guerra na Ucrânia e o consequente embargo à Rússia, e pela desaceleração da economia chinesa motivada em parte pela política de tolerância zero contra a Covid-19 implantada pelo governo de Xi Jinping.

Segundo Esteves, os investidores desenvolveram uma visão distorcida sobre os mercados após quase 15 anos em que prevaleceram as taxas de juros reais negativas nas principais economias do mundo desenvolvido, favorecendo a popularização das criptomoedas:

“Isso inflou os preços de muitos ativos financeiros e criou várias teses do ponto de vista da diversificação de portfólio que não necessariamente se mostram verdadeiras quando se tem uma reversão do cenário.”

Esteves garantiu que a narrativa de que o Bitcoin seria um ativo de reserva de valor com propriedades similares ao ouro mostrou-se inválida tão logo o Banco Central dos EUA deu início a um novo ciclo de alta da taxa de juros: 

“O cenário é bastante adverso, e confronta a teoria de gestão e de diversificação do portfólio que foi sendo construída ao longo dos últimos 15 anos festivos.”

Como exemplo, citou a alta correlação do Bitcoin com o mercado acionário, ressaltando que o Bitcoin apresenta desvalorização superior ao Índice Nasdaq e ao S&P 500 até agora em 2022

Enquanto a maior criptomoeda do mercado acumula perdas de 56% no agregado do ano, o índice da bolsa de tecnologia dos EUA registra queda de 29,15%, e o S&P 500, de 21,46%. Já o ouro está em alta de 0,5%. O Bitcoin “não é nada digital gold (ouro digital)”, afirmou Esteves.

Esteves elogiou ainda a gestão do Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro (Copom) diante de um cenário macroeconômico de alta pressão inflacionária. Segundo ele, o BC se antecipou a um movimento que, visto em retrospectiva, era inevitável, enquanto os bancos centrais das nações mais economicamente desenvolvidas “tenham ficado um pouco atrás da curva”.

Na semana passada, o Copom aprovou a 11ª alta consecutiva da taxa Selic. Os juros de 13,25% ao ano colocam a Selic no patamar mais elevado desde o começo de 2017.

BTG Pactual e as criptomoedas

Não foi a primeira vez que André Esteves se referiu ao Bitcoin de forma crítica. Em outubro do ano passado, em um evento fechado para clientes do BTG Pactual, o executivo revelou a um grupo de clientes do banco que não gosta do BTC e que achava que a maior criptomoeda do mercado poderia estar sobrevalorizada. Na ocasião, o Bitcoin era negociado na faixa de US$ 66.000.

Apesar das reservas do presidente do conselho de administração do banco, o BTG Pactual anunciou em maio deste ano que vai lançar um serviço de negociação de criptomoedas para os seus clientes.

Intitulada Mynt, inicialmente a plataforma terá suporte para compra e venda de Bitcoin e Ethereum (ETH). Os clientes do BTG Pactual poderão acessar o Mynt por meio dos sites e aplicativos do BTG Pactual digital e do banco digital BTG+.

Durante o anúncio do novo serviço, o head de ativos digitais do BTG Pactual, André Portilho, disse que a decisão de lançar uma plataforma própria para negociação de criptomoedas baseou-se em uma demanda do mercado, reforçando a reputação do banco como um dos “pioneiros” do mercado brasileiro de ativos digitais.

O banco já oferece aos seus clientes fundos de investimento próprios com exposição ao Ethereum e ao Bitcoin (BTG Pactual Bitcoin 20 FIC FIM IE e o 100% bitcoin BTG Pactual Bitcoin 100 FIC END IE). A custódia dos fundos é feita pela exchange norte-americana Gemini.

De acordo com as informações divulgadas pelo banco, o Mynt deverá ser lançado até o final de julho. No momento, investidores interessados em utilizar a plataforma podem se cadastrar em uma lista de espera para ter acesso aos serviços assim que ele for disponibilizado.

Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, ao contrário de André Esteves, Portilho acredita que a alta correlação do Bitcoin com o mercado acionário verificada atualmente é uma ocorrência sazonal:

“Enquanto tiver alta de juros e da inflação, as pessoas meio que saem de tudo. Vendem toda a carteira e compram títulos do Tesouro. Mas não faz tanto sentido assim ativos de blockchain ou outras criptos serem impactadas dessa forma pelas taxas de juros.”

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