Fim do dinheiro vai evitar ataques do ‘novo cangaço’ como o de Criciúma (SC), diz especialista do ITS do Rio de Janeiro

O fim do dinheiro e a adoção de pagamentos digitais pode ajudar no combate a roubos por quadrilhas no Brasil.

Os grandes crimes de roubos a bancos que ocorreram nas últimas semanas no interior do Brasil podem ser evitados no futuro com o fim do dinheiro, uma ideia que abrange desde o Pix, sistema de transações instantâneas do Banco Central, até as criptomoedas.

Quem defende isso é Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnolgia e Sociedade (ITS) do Rio de Janeiro, em artigo para a Folha de S. Paulo.

Recentemente, a cidade de Criciúma, em Santa Catarina, viveu horas de terror com uma mega operação comandada por uma quadrilha para roubar os bancos da cidade. Os bandidos usaram armamento pesado e caminhões para bloquear a ação das forças policiais na cidade.

Os ataques já haviam ocorrido em São Paulo, em Botucatu, em Floraí, no Paraná, e depois também foram comandados em Cametá, no Pará.

Os bandidos comandam as megaoperações entre o período de fim e começo de mês, quando as empresas costumam fazer pagamentos e os bancos movimentam grandes quantias para as agências. Segundo Lemos, as ações já acontecem há pelo o menos 6 anos e já são chamadas de “novo cangaço”.

Uma das formas de combater este tipo de crimes é com a digitalização das moedas nacionais, as CBDCs, que já são testadas pela China, por exemplo. O especialista diz:

“Em outras palavras, para acabar de vez com ações violentas como essa que se tornaram epidêmicas no Brasil é preciso reduzir a dependência de dinheiro físico. Para isso não é preciso acabar totalmente com o dinheiro em papel. Bastaria fazer com que os custos de uma ação como essa se tornassem proibitivos. Por exemplo, eliminando as cédulas de valor mais elevado, como as de R$ 100 e R$ 200.”

A nota de R$ 200 foi invenção do governo Bolsonaro, na contramão de outros países do mundo, que têm tirado notas de circulação. A emissão das notas custou muito aos cofres públicos e pode ter vida curta, já que até o Ministro da Economia reconheceu que a nota tem os dias contados.

O dinheiro vivo é o principal veículo de corrupção no país, com casos famosos como o do apartamento de Geddel Vieira de Lima em 2017 em Salvador, na Bahia, com R$ 51 milhões em dinheiro vivo, além de ser usado para movimentar o tráfico de drogas:

“Cédulas de alto valor são raríssimas nas mãos da maioria absoluta da população do país. Ao contrário, são muito comuns e úteis nas mãos de integrantes do crime organizado, sonegadores de impostos e políticos corruptos.”

Ele então cita o sistema Pix, do Banco Central, e o pagamento do auxílio emergencial com o app Caixa Tem como iniciativas importantes para a adoção de pagamentos digitais no país em substituição ao dinheiro, mas pondera:

“A questão é que falta ainda uma decisão clara de política pública nesse sentido. Faz muito mais sentido que o dinheiro que circula no dia a dia seja composto por cédulas menores usadas em transações pequenas e as transações de maior valor se convertam todas em transações digitais.”

Finalmente, ele defende que a economia “em papel” está com os dias contados, que a digitalização da economia já é uma realidade e projeta a “integração crescente das criptomoedas e do chamado DeFi (Descentralized Finance) à economia”.

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