Empresário que investiu na Atlas Quantum, BWA e Zero10 perdeu mais de R$ 250 mil
“Golpistas à moda antiga travestidos de startups”. Foi dessa maneira que o publicitário Rodrigo Righetti definiu os donos de empresas que usam o mercado de criptomoedas para aplicar golpes no Brasil. Só na Atlas, ele afirma ter R$ 170 mil travados.
Righetti, que é sócio de uma agência de propaganda no bairro de Alphaville, em Barueri (SP), está entre as vítimas do robô “quantum” de Rodrigo Marques, dos ilusórios rendimentos mensais de 3% da BWA de Paulo Bilibio, e da Zero10 Club, atual Genbit, de Nivaldo Gonzaga.
Estes três esquemas fraudulentos conseguiram fazer milhares de vítimas no Brasil com prejuízos na casa de bilhões de reais —fora outros casos, como Unick Forex, Indeal e Negociecoins, do Grupo Bitcoin Banco. Em todos eles, há em comum o uso do Bitcoin como isca.
Sem muita experiência, Righetti apostou nessas empresas ano passado e contou como foi o desfecho. Para ele, expor seu caso vai ajudar pessoas a não passar pelo que ele já passou.
“Não julgo quem tem medo ou vergonha de se expor, mas acho que estou contribuindo de alguma forma para meu país. Quem sabe, ao ler meu relato, outras pessoas não façam o mesmo?”
R$ 170 mil na Atlas
Segundo o empresário, seu interesse em conhecer novo mercado começou em 2017, quando ele viu um amigo migrar do mesmo ramo que ele para o nicho de criptomoedas.
No ano seguinte, passou a estudar e fazer pequenas operações para ir aprendendo. Um tempo passou e lhe apresentaram a arbitragem.
“Foi em 2019, através de amigos, que eu conheci a tal arbitragem e resolvi testar”.
Hoje, de acordo com o portfólio compartilhado com a reportagem, a Atlas deve a Righetti cerca de R$ 170 mil — 3,5 BTC e US$ 4,5 mil.
No histórico de rendimentos, sua média de ganho diário no ano passado foi de 0,14%, o que perfazia 3,07% por mês ou 63,16% no ano.
Investimento na BWA foi maior que da Atlas
O empresário também revelou um saldo de mais de R$ 60 mil na Alpen Global (outro nome da BWA).
No entanto, nesse negócio, ele até que acabou dando “sorte”, pois seu aporte na empresa foi de R$ 358 mil. Isso após indicação de um amigo e uma reunião direto no escritório da BWA, em Santos (SP).
A “sorte” foi porque ele precisou de um saque com urgência de R$ 300 mil e a empresa o fez — R$ 200 mil em 14 de outubro e R$ 100 mil dois dias depois.
Apesar de ter demorado 15 dias para receber, certamente a empresa liberou os valores para dar credibilidade a Righetti e ele voltar a investir, aportando ainda mais valores. A tática é comum em esquemas fraudulentos.
Questionado pela reportagem sobre por qual razão ele achava que tinha caindo nos golpes, ele não poupou palavras:
“Primeiro porque fui trouxa. Segundo porque fui ganancioso. Terceiro porque conheço outras pessoas que também possuíam cifras bem maiores que as minhas nestas plataformas”, disse.
Segundo o empresário, ele conhece gente que tem valores na ordem de milhões travados e que possuem a mesma chance que ele de receber. “Zero”, frisou.
Aplicou na Zero10 Club
Sobre seu investimento na Zero10 Club, Righetti disse que seu aporte na plataforma foi de R$ 26,5 mil e chegou a realizar quatro saques mensais em torno de R$ 3.800,00. Em setembro, disse, o saque não entrou.
Ao reclamar, ele se deparou com uma opção imposta pela empresa — a troca do saldo por uma criptomoeda que poderia ser usada para adquirir produtos.
Processos contra Atlas e BWA
“Eu tenho esperança de dias melhores e para mim é uma obrigação não só recorrer à Justiça, mas também expor meu caso”, disse Righetti. O publicitário afirmou que já entrou com um processo criminal contra a BWA e que vai entrar com duas ações contra a Atlas; criminal e cível.
“Não tenho esperança de receber o dinheiro, mas eles precisam pagar pelo que fizeram. Ou provar que não foi um crime, afinal, é um direito deles”, contou.
No entanto, não é sobre o valor devido da empresa que o incomoda, mas sim o fato de ele ter apresentado o negócio para outras pessoas.
“O que realmente está me incomodando foi eu ter apresentado a BWA para amigos”, desabafou o empresário que disse ter corrido o risco colocar uma carreira de 25 anos no lixo.
“Graças a Deus isso não aconteceu”, comentou.
“Alguém tinha que expor”
Com a exposição do seu caso, Righetti acredita que vai ajudar muitas pessoas a não passar pelo que ele passou. “Alguém tinha que expor”, disse.
“Me chama ‘MUITO’ a atenção todos eles terem ‘bugado’ na mesma época, ou seja, entre agosto e setembro, e logo após a queda do Bitcoin Banco. Isso me leva a um pensamento de que tudo se tratava de um esquema muito maior do que pensamos onde todos estavam conectados. Pode parecer piração minha, mas já conversei sobre isso com algumas pessoas e muitos acharam que faz sentido”, finalizou.
Pirâmides no Brasil
Todas as empresas citadas pelo empresário se tornaram caso de Justiça.
A Gensa, responsável pela Zero10Club, é alvo de ação da Promotoria de Justiça de Falências do Ministério Público de São Paulo (MPSP) no valor de R$ 1 bilhão.
A BWA responde a mais de 100 processos só na Justiça de São Paulo. Seu escritório em Santos está às moscas e praticamente sem mobília, além da ameaça de despejo.
Por fim, a Atlas Quantum praticamente não existe mais — entrou na mira da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), responde a processos em São Paulo e virou tema de uma futura CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que aguarda aval para ser instalada na Câmara dos Deputados.
Pesquisa divulgada em dezembro passado pelo SPC aponta que esquemas financeiros fraudulentos afetaram um em cada dez brasileiros. As pirâmides respondem por mais da metade deles (55%).
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