Dogecoin e a era ativos virais da Internet: quando os memes movimentam capital

Os Memes já movimentam bilhões no setor das criptomoedas.

Artigo de João Guilherme Lyra

Os memes são há muito tempo um dos grandes atrativos da internet. Além de divertidos transmitem as mensagens de forma rápida e direta. Por seu potencial de viralização virtual, já fazem parte das estratégias das campanhas publicitárias online. Empresas e políticos já adotaram memes para que suas mensagens alcançassem mais público e, podemos afirmar que, os memes já dão muito dinheiro e capital político.

E nesse novo mundo, podemos dizer que um dos memes mais bem-sucedidos financeiramente é a criptomoeda Dogecoin (DOGE). Desenvolvida de uma criptomoeda anterior e agora extinta chamada Luckycoin, que era um fork da Litecoin (LTC), os programadores Billy Markus e Jackson Palmer, em dezembro de 2013, criaram a Dogecoin com objetivo de aprendizagem no desenvolvimento de criptomoedas, e ironicamente utilizaram o meme de um cachorrinho da raça Shiba Inu como inspiração para o nome e logo do criptomoeda. O que transforma a Dogecoin num dos projetos mais curiosos da internet.

Fonte:9GAG

Todo o carisma do cachorrinho Shiba Inu trouxe um engajamento para o projeto, que viu comunidade e entusiastas da Dogecoin crescerem ao longo dos anos.

Em 2017, Palmer ficou surpreso quando a criptomoeda que criou alcançou 0,018 cents de dólar,  atingindo uma capitalização de mercado de  mais US$ 2 bilhões, pois Palmer havia se retirado do projeto em 2015. Na época, Palmer salientou os aspectos especulativos das criptomoedas pois, nunca acreditou que a sua iniciativa inspirada em um meme poderia ser levada a sério. 

Palmer subestimou a importância das comunidades virtuais, que tem a capacidade de assumir o “controle” e aperfeiçoar qualquer projeto open-source de criptomoedas.  A capacidade das criptomoedas continuarem se desenvolvendo sem seus criadores já foi vista com o Bitcoin, pois até hoje não sabemos quem é Satoshi Nakamato, e, muitos nem querem saber a real identidade, como eu. É dessa independência e colaboração das redes que nasce o conceito de Organizações Descentralizadas e/ou Autônomas (DAO) tão discutida entre Vitalik e Larimer. 

A verdade é que Palmer, hoje, não faz falta ao projeto. Outros nomes de peso abraçaram o projeto, até mesmo Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo em 2021, sempre posta em sua conta de Twitter referências “memáticas” a Dogecoin. A ex-atriz Mia Khalifa escreveu nas redes sociais que comprou as “ações do cachorrinho”. E assim, sendo levada na brincadeira a Dogecoin não para de ver seus preços subirem.  O auge da “vilarização financeira” da Dogecoin foi após ser adotada pelo movimento Wall Street Bets, que são fóruns de internet que buscam utilizar o poder das redes sociais para valorizarem ativos financeiros e obterem lucros.  Em janeiro de 2021, a Dogecoin atingiu seu valor máximo de 0,06 cents e uma capitalização de mercado superior a 9 bilhoes de dólares. Valor total que colocaria a criptomoeda do cachorro ser uma das 20 maiores empresas do Brasil. 

E porque os Wall Street Bets escolheram logo a Dogecoin dentre mais de mil criptoativos existentes para manipularem os preços? Será que o humor contido nos memes do cachorrinho é mais fácil de ser compartilhado em grupos de troca de mensagem? Será que os memes tem capacidade de simplificar toda a complexidade dos ativos financeiros transmitindo sua mensagem aos “cidadãos médios”? E claro, é possível que você esteja lendo isso e dizendo que um ativo de meme não tem fundamento técnico: “Isto beira a loucura”. Não poderia dizer o contrário.

E todas essas perguntas ainda não podem ser respondidas de forma definitiva. A sociedade está descobrindo todos os impactos possíveis da internet. A capacidade de organização de grupos online, outrora subestimada, hoje tem poder de afetar quase todas as áreas da sociedade. Um grupo de investidores online que, decide investir conjuntamente em um ativo, tem funcionamento semelhante aos de fundos de investimento que administram cotas de milhares de investidores, mesmo que usam fundamentos completamente diferentes.

A descentralização presente nas comunidades de desenvolvimento de criptomoedas agora chega aos investidores de mercado de capitais e criptoativos. E por mais que haja criticas contra a estes grupos de investidores, índices de “ativos virais da internet” já foram criados com nomo Wall Street Bets. A Dogecoin não reinará soberana junto a este grupo de investidores. Agora, como saberemos lidar com seus impactos dos memes no mundo financeiro, ainda será debates de muitas discursões, mas, uma coisa que eu tenho certeza: que o cachorrinho da Dogecoin é diveritdo, é!

João Guilherme Lyra é mestre em Engenharia pela UFF, doutorando em Ciências da Engenharia na Univ. Ibero da Cidade do Mexico. Autor do livro “Blockchain e Organizações Descentralizadas” e dedica suas pesquisas aos impactos da Economia Digital na sociedade.

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