Doadores democratas de Wall Street planejam encher os cofres da campanha de Kamala Harris
Os doadores democratas de Wall Street têm um mandato claro após várias semanas sem direção, preocupados com o impacto do presidente Joe Biden nas chances do partido de ganhar a Casa Branca e as maiorias no Congresso. A diretiva deles: arrecadar muito dinheiro para a campanha da vice-presidente Kamala Harris — e rápido.
Apenas alguns dias após Biden anunciar que renunciaria como candidato do partido e endossar sua vice para liderar a chapa democrata, os doadores entraram em ação para bombardear suas redes abastadas com pedidos de doações rápidas para encher os cofres da campanha de Harris e fechar a lacuna de arrecadação de fundos com o oponente republicano, Donald Trump.
“Eu tenho sido um arrecadador de fundos bastante prolífico e vou usar toda a minha agenda de contatos para tentar elegê-la”, disse Bob Clark, fundador da incorporadora imobiliária Clayco Inc., em uma entrevista. “Enviei meu endosso com um link para todos os meus contatos e ainda não sei quais foram os resultados, mas definitivamente vou começar a ligar.”
Clark já realizou um evento para Biden em Chicago este ano e planeja organizar um para Harris ainda este ano.
Na quarta-feira (24), um grupo de cerca de 40 doadores democratas na área jurídica e financeira se reunirá virtualmente para traçar estratégias e começar a esboçar pontos econômicos para vender a agenda de Harris a Wall Street, segundo uma pessoa familiarizada.
Os anfitriões dessa reunião incluem Blair Effron, da Centerview Partners LLC; Brad Karp, da Paul Weiss Rifkind Wharton & Garrison LLP; Marc Lasry, do Avenue Capital Group; e Ray McGuire, da Lazard Inc., disse a pessoa. Entre os convidados estão Jon Gray, da Blackstone Inc.; Peter Orszag, da Lazard; Roger Altman, da Evercore; a ex-executiva da Sony Group Corp., Nicole Seligman; e Faiza Saeed, sócia presiding da Cravath, Swaine & Moore LLP, segundo a pessoa.
Arrecadação de fundos
Arrecadações de fundos presenciais – assim como virtuais – devem acontecer, sendo que esta última opção permitiria Harris a participar de vários eventos por dia. Essa seria uma maneira de melhor custo e eficiência para arrecadar dinheiro rápido e de possibilitar que a candidata comece a campanha nos estados decisivos.
O entusiasmo dos doadores por Harris pode ajudar os democratas a compensar quase um mês de tempo perdido na arrecadação de fundos, já que os principais contribuintes pausaram as doações à campanha de Biden após seu desastroso debate de 27 de junho com Trump, como uma tática de pressão para que ele desistisse da corrida.
Mas os democratas precisam de mais dinheiro para serem competitivos. Esperava-se que Biden e seus aliados arrecadassem e gastassem mais que a operação política de Trump na eleição de 2024, mas a fraca arrecadação democrata e os inesperados montantes arrecadados por doadores outrora relutantes de Trump, incluindo os bilionários Elon Musk e Paul Singer, significam que os republicanos têm mais dinheiro em caixa. A equipe de Harris terá que arrecadar grandes somas nas próximas semanas para financiar uma estratégia de campanha cara que inclui vários escritórios de campo e grandes compras de publicidade.
Harris herdou os US$ 96 milhões que restaram na conta da campanha quando Biden desistiu, mas a operação não estava em uma base financeira sustentável. A campanha gastou 93% do que arrecadou em junho, de acordo com os registros federais mais recentes. A equipe de Trump também entrou com uma queixa improvável na Comissão Eleitoral Federal na terça-feira (23), alegando que Harris não deveria ter acesso ao restante do fundo de guerra de Biden.
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Infusão de dinheiro
Até agora, o dinheiro está entrando. Harris dobrou o tamanho de sua conta de campanha em menos de 36 horas após anunciar sua candidatura à nomeação democrata, arrecadando US$ 100 milhões até a noite de segunda-feira (22), um montante recorde. Dos 1,1 milhão de doadores únicos que contribuíram, 62% estavam doando pela primeira vez, de acordo com a campanha.
Ela também ganhou apoio do bilionário Barry Diller, presidente da IAC Inc., e de Michael Sacks, presidente e CEO do fundo de hedge GCM Grosvenor.
“Qualquer um que duvide da expertise política de Kamala Harris deve prestar atenção em como ela lidou perfeitamente com cada passo após a saída de Biden”, disse Diller em um comunicado. “Vou doar o máximo para a campanha dela.”
Harris agiu rapidamente após Biden suspender sua campanha no domingo (21) para consolidar o apoio ao seu esforço. Sua equipe começou a contatar delegados do Comitê Nacional Democrata para buscar o compromisso deles em votar nela no processo de nomeação do partido, e no final da segunda-feira (22) ela ganhou o apoio do limite necessário de mais de 2.000 delegados, colocando-a em uma trajetória suave para oficialmente ganhar a nomeação em agosto.
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Harris e seu marido, Doug Emhoff, também viajarão para uma série de arrecadações de fundos nos próximos dias. Harris está programada para aparecer em um evento de doadores com apresentações de James Taylor, Yo-Yo Ma e Emanuel Ax no sábado. O segundo cavalheiro também participará de uma série de arrecadações de fundos ainda este mês que a primeira-dama Jill Biden inicialmente estava programada para encabeçar.
Emhoff participará de várias arrecadações de fundos na próxima semana, incluindo um evento em Martha’s Vineyard com a presença do comediante David Letterman, e outros em Nantucket e na costa do Maine, com doadores ricos que se deslocaram para a Nova Inglaterra para o verão.
Por Amanda Gordon e Isis Almeida