Dividendos: investindo alto para ganhar centavos, Cielo paga R$ 0,05 por ação e Ambev R$ 0,07
Quem comprou R$ 1 mil em ações da Cielo pensando em receber dividendos tem hoje R$ 409,02, com o direito de receber R$ 5,85, porém se tivesse investido em Bitcoin teria o equivalente a R$ 4245
É comum escutar de investidores que comprar ações que pagam dividendo é um ‘negócio da China‘, afinal, além de estar exposto a valorização da empresa, ainda seria possível ganhar uma ‘grana extra’ com a distribuição dos dividendos.
Assim, quando há dúvidas sobre qual ativo escolher, Bitcoin, criptomoedas, fundos multimercado e ações com dividendos os dividendos sempre aparecem nos critérios de desempate, afinal, só pagam dividendos empresas que sejam minimamente lucrativas e portanto ‘longe’ de ser uma fraude.
Desta forma, na hora de escolher um investimento que pague dividendos nomes como Ambev e Cielo ‘crescem’ na tela, afinal, a ilusão de ter um pouquinho do lucro destas empresas soa como ‘dinheiro fácil’.
Bitcoin ou dividendos
Mas, não é bem assim, a Cielo por exemplo anunciou recentemente que aprovou o pagamento de R$ 0,05595195275 (bruto) por ação e o valor será pago somente no dia 17 de fevereiro de 2021.
Cada ação da Cielo (CIEL3) está avaliada em R$ 3,49 no momento da escrita, porém a empresa teve uma queda vertiginosa em 2020 saindo de R$ 8,53 para o valor atual, uma desvalorização de 244%.
Já a gigante mundial de bebidas, Ambev, aprovou o valor de R$ 0,0767 por ação ON. Para ter direito ao pagamento, o investidor deverá ter o papel da cervejaria em carteira no fechamento do pregão de 13 de janeiro na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).
As ações da Ambev também não tiveram um ano muito bom e iniciaram 2020 cotadas a R$ 18,96 e, no momento da escrita, estão avaliadas em R$ 15,51.
Ao contrário das ações das gigantes nacionais, o Bitcoin teve uma valorização de mais de 400% no Brasil saindo da faixa de R$ 29 mil no início do ano, para mais de R$ 120 mil no momento da escrita.
Assim, caso um investidor tivesse investido R$ 1 mil em Bitcoin no início do ano ele teria comprado 0,034248 BTC e hoje teria o equivalente a R$ 4245,0.
Já no caso da Cielo os R$ 1 mil teriam se tornado apenas R$ 409,02, com o direito de receber R$ 5,85 de dividendos e, no caso da Ambev, teria R$ 817, com o direito de receber R$ 3,64.
Dividendos a falsa promessa de dinheiro
O analista Felipe Silveira, da Capital Research, analisou os riscos e vantagens de se priorizar investimentos em empresas que pagam dividendos, principalmente para aqueles que optam por alocar toda a carteira neste tipo de ativo.
A modalidade cresceu consideravelmente no Brasil, muito por conta do chamado mental accouting, a contabilidade mental, que nada mais é do que a ilusão de se estar levando vantagem ou ganhando algo – neste caso, o bônus são os dividendos.
De acordo com esta teoria, investidores tendem a avaliar de forma diferente as empresas que pagam dividendo, justamente por acreditar que elas são mais vantajosas que as demais: o que, em muitos casos, isso não é verdade.
“O preço das ações de empresas boas pagadoras de dividendos são negociadas a um prêmio em relação àquelas que não pagam, especialmente em períodos em que a taxa livre de risco está em um patamar muito baixo, como o atual, o que resultaria em um retorno esperado menor e um risco maior”, explica o analista.
Para Silveira, o foco do investidor deve estar no retorno total da carteira, independentemente da fonte.
Ele alerta ainda que, no caso dos dividendos, é importante analisar as perspectivas e projeções das empresas, a fim de evitar que a carteira de investimentos fique vulnerável a médio e longo prazo.
“Não importa o dividend yield atual da companhia, mas sim o dividend yield projetado. E não há nenhuma garantia de que uma boa pagadora de dividendos hoje continuará sendo no longo prazo. Os riscos para que não sejam nunca foram tão grande”.
Diante do cenário, ao analisar os riscos de se alocar um grande volume de investimentos em dividendos, o analista considera que existem outras opções com mais potencial e retorno no momento, como as ações de crescimento, as growth stocks.
“Atualmente, elas devem ter um peso maior na carteira em relação às ações que pagam altos dividend yields. Esse não é um panorama que deve continuar para sempre. O que pode acontecer ao termos um peso maior em empresas de crescimento é que a gente se antecipe e compre as empresas maduras e boas pagadoras de dividendos do futuro”.
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