Diretor da Stefanini fala sobre adoção de blockchain pela empresa e diz que ‘criptomoeda não é investimento’

O diretor de inovação e negócios digitais da Stefanini, gigante brasileira de soluções digitais, Breno Barros, falou em entrevista ao Cointelegraph Brasil sobre o processo de adoção de blockchain nas ventures da empresa e disse que a empresa não vê as criptomoedas como investimento, mas como moedas.

O diretor de inovação e negócios digitais da Stefanini, gigante brasileira de soluções digitais, Breno Barros, falou em entrevista ao Cointelegraph Brasil sobre o processo de adoção de blockchain nas ventures da empresa e disse que a empresa não vê as criptomoedas como investimento, mas como moedas.

Segundo Barros, a adoção de blockchain pela empresa deve passar por provas de conceito durante 2020 para ganhar maior escala no ano que vem, mas ainda falta “encontrar um business” para aplicar a tecnologia. Ele completa falando que as criptomoedas ainda precisam ser dismistificadas para uma adoção maior no dia a dia da população.

Confira a entrevista a seguir:

Cointelegraph Brasil (CT) – Como a Stefanini trabalha com a tecnologia blockchain hoje? Que tipo de aplicações a tecnologia pode ter no mercado?

Breno Barros (BB) – A gente trabalha a tecnologia blockchain como Stefanini, hoje ainda está em um processo inicial, de validação de alguns conceitos de projeto. A gente tem um critério de que a blockchain pode resolver alguns tipos de problemas. Quais são eles: tem que ter pelo o menos três partes envolvidas neste processo, uma delas vai ser externo, e tem que ter muita desconfiança nesse ciclo. Em casos como por exemplo na reforma trabalhista, que vai exigir que empresas recolham anualmente uma certidão positiva de todos os colaboradores todo ano. Então, por ter muita papelada, ser uma relação que vai ser auditada pelo Ministério do Trabalho, por exemplo, há muita desconfiança. Então vão ser três partes envolvidas, muita desconfiança, com dados invioláveis, a blockchain pode atestar que estes são confiáveis.

Outra aplicação que a gente vê é na indústria, restreabilidade de carnes e grãos, na área de suprimentos como um todo. Alguns business a gente tá fazendo um trabalho prova o conceito. Hoje, a questão tecnológica é simples de implementar, tem um custo das plataformas, então a gente ainda não tem um grande case porquê ainda está nessa fase de validação, para ver a curto prazo o amadurecimento disso.

CT – A aplicação de blockchain em cadeias de suprimentos já teve alguns testes no Brasil, inclusive com participação de grandes players como a IBM. Como você enxerga este setor?

BB – Eu vejo um potencial muito bom, se você olha para o agrobusiness, que responde por grande parte do PIB [Produto Interno Bruto], é onde eu acho que é a grande oportunidade de garantia que essa produção e suprimento, como carnes e grãos, tenha qualidade. Ainda mais em uma era de conscientização, em que a população quer mais informações, quer ter garantia de qualidade, ainda mais com maior adoção de alimentos orgânicos. Outro setor também é a indústria têxtil, que tem muitas questões complexas envolvidas, trabalho escravo envolvido, então a blockchain pode ser uma aplicação importante, obviamente combinado com outras tecnologias como reconhecimento de imagens, de verificar se em uma fábrica os trabalhadores não operam em regime de escravidão. Tudo isso pode ser alimentado na blockchain para trazer uma segurança, e a gente vê que o Brasil tem um potencial muito bom, nessa indústria de produção, peças também, o mercado de reciclagem de produtos, em tudo isso a blockchain pode ajudar. Acho que os grandes projetos, na prática, vão começar a ganhar escala em 2021, a gente vai ter um ano de muita prova de conceito, olhando a IBM e outros players também. As plataformas estão prontas, precisa de fato encontrar um business para ser aplicado.

CT – Sobre o mercado de criptoativos, há algum plano em andamento na empresa? Como vocês vêem este mercado no Brasil?

BB – Já existe um plano dentro da empresa, a gente enxerga sim um futuro de acordo com a questão da confiança, mas acho que as criptomoedas precisam ser desmistificadas, pois elas são moedas, e não investimento. Na nossa opinião elas são moedas, e em moeda você não investe, moeda é moeda. Você investe em investimentos, num portifólio, e etc. O que a gente vem trabalhando neste processo é que a plataforma do Topaz está integrada à rede Ripple, que também é parceira de vários bancos. Ela justamente se integra neste processo no cross-boarding (comércio interfronteiriço), pra gente fazer transferências mais rápidas do Brasil para Londres, de Londres para os Estados Unidos, e garantir esse rastro em uma velocidade boa, então isso já está implementado. É uma ferramenta que ainda não está implementada, o Santander lançou uma do tipo recentemente, talvez seja o pioneiro neste processo. Então a gente está caminhando, mas ainda sem muita aderência.Talvez no ano que vem, que o Banco Central vai permitir que o brasileiro tenha multimoedas, como é no Uruguai, então na sua conta vai ter dólar, real, euro, outros tipos de criptomoedas possam entrar ali para acelerar o processo, por diversas questões. Isso pode desmistificar um pouco as criptomoedas e acelerar a adoção no Brasil e fora.

CT – Vocês têm experiência com o mercado financeiro mais tradicional. Como os bancos enxergam as criptomoedas?

BB – Tá todo mundo de alguma forma olhando para isso, o ponto é encontrar o business. Os bancos não enxergam as criptomoedas como investimento, dentro de um portfólio que faça sentido figurar ali dentro dos bancos, mas tem que uma rede se formar. Uma moeda com o Bitcoin, que hoje alguns lojistas aceitam no varejo, qual o benefício real disso para o cidadão? Acho que ainda tem uma quebra de mudança de mindset, de que as criptomoedas são confiáveis e da real aplicabilidade delas. O custo para você usar Bitcoin para tomar um café ainda não se paga, então acho que vai evoluir para viabilizar o uso disso de uma forma mais cotidiana, e acho que isso os bancos estão tentando resolver, fazer parte do dia a dia das pessoas. Acho que as criptomoedas ainda não permitem isso.

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