Ativos digitais podem ser nova fonte de renda para os esportes, afirma advogado
Uso da economia digital pode impulsionar clubes fora dos holofotes, e não apenas no futebol
A ‘invasão’ dos fan tokens e dos tokens não-fungíveis (NFTs) nos esportes pode ser o primeiro passo para mudar a forma como é feito o financiamento nesse setor. É no que acredita Isac Costa, professor e advogado, segundo um texto publicado por ele nesta quarta-feira (26) no Broadcast.
Em uma realidade onde apenas os grandes clubes são beneficiados com contratos volumosos, Costa avalia que os ativos digitais são uma forma de inovar as fontes de financiamento para aqueles fora dos holofotes.
SAF, tokens e economia de criadores
O modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) foi aprovado no ano passado, através da lei nº 14.193/2021, permitindo que clubes de futebol sejam ‘comprados’. Isac Costa menciona esse modelo torna os clubes brasileiros mais atrativos para investidores institucionais, sendo também um terreno fértil para a emissão de tokens.
“Nesse contexto, a emissão de tokens pode ser vantajosa, pois permite a pulverização dos investimentos, aumentando o alcance da oferta e mitigando o risco por investidor, em escala global e com uma infraestrutura tecnológica para controle da propriedade e negociação em mercado secundário.”
Costa completa dizendo que esse é apenas um dos exemplos. Os ativos digitais podem ser usados em outros esportes, tanto por jogadores quanto por clubes, que têm em mãos as redes sociais para se aproximarem dos fãs. Isso cria novas vias de monetização, como conteúdos exclusivos, dicas de treino, ingressos, acompanhamento nas preparações e “o que mais a criatividade permitir”.
Embora Costa não faça a relação em seu texto, é nessa área que os fan tokens têm tentado agir, encurtando o caminho entre torcedores e clubes – não apenas do futebol.
Blockchain garante os repasses
Ainda nos casos de uso, Costa cita a impressão de “figurinhas digitais” pelos clubes. A primeira camada dessas figurinhas é poder registrar, de forma transparente, as movimentações no meio digital. As movimentações desses colecionáveis ficam registradas, fazendo que o usuário possa apresentar a todos o seu “álbum” completo, quando completá-lo.
O professor, novamente, não menciona expressamente os NFTs ou a tecnologia blockchain. Não é difícil, entretanto, traçar um paralelo com o que já é praticado por coleções como NBA Top Shot, Sorare, Rough Diamonds e tantas outras.
O caso da Sorare, inclusive, pode ser usado de exemplo na segunda camada das figurinhas citadas por Isac Costa: a possibilidade de usá-las em outras plataformas. Em seu exemplo, Costa fala dos fantasy football, como o Cartola FC, e a possibilidade de usar os NFTs de jogadores da vida real para montar um time. Esse é exatamente o caso de uso da Sorare, onde usuários podem simplesmente colecionar os NFTs, ou usá-los para competir.
Nesse contexto, o uso de carteiras digitais pode ser fundamental para reduzir fraudes e garantir repasses de valores.
“Podemos rastrear as vendas realizadas por cambistas de ingressos, as transações com colecionáveis e até mesmo as transferências de atletas e, por meio da automação de fluxos dos pagamentos, as partes envolvidas poderão receber os valores instantaneamente e com custos reduzidos” afirma Costa.
Até mesmo o mecanismo de solidariedade da FIFA é usado no texto como exemplo de operação que pode ser melhorada por ativos digitais. Tokenizadoras como Liqi e MB Tokens, por exemplo, já atuam transformando em tokens as quantias às quais os clubes têm direito sobre os jogadores formados em suas bases.
Costa conclui o texto imaginando a criação de um registro global de propriedade de direitos econômicos que contenha clubes e atletas. De acordo com o advogado, isso “pode permitir que todos os integrantes desse ‘ecossistema’ se apropriem de parte das receitas que hoje ficam com instituições financeiras em termos de tarifas e spread em operações de câmbio”.
*Por Gino Matos
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