Desenvolvedor do Bitcoin lança nova segunda camada com opção de criação de contas na rede
Espanhol desenvolve sistema para criação de contas na rede do BTC com a ideia de tornar o ativo mais acessível ao público ‘comum’
O desenvolvedor espanhol José Femenías Cañuelo publicou uma nova solução de segunda camada para a rede Bitcoin chamada “easypaysy” que permite a criação de contas – a ideia do programador é facilitar o uso do ativo digital pelo público “comum”.
As chamadas “soluções de segunda camada” são técnicas que permitem a aplicação de novas funcionalidades no uso do Bitcoin, sem impactar a corrente principal de transações da rede. Um dos principais exemplos de aplicação desta técnica é a Lightning Network.
O Bitcoin não usa “contas” típicas. Em vez disso, a cada pagamento, os fundos são enviados para uma “saída de transação” única. Com isso, o endereço do Bitcoin pode ser potencialmente reutilizado – caso em que o endereço agiria um pouco como uma conta Bitcoin.
Apesar de ser possível, a prática de reutilizar endereços dessa maneira torna fácil vincular moedas e transações diferentes ao mesmo usuário, o que é ruim para a privacidade. Por este motivo, os usuários de Bitcoin são incentivados a gerar um novo endereço para cada pagamento recebido.
Embora seja uma prática recomendada de privacidade, o espanhol acredita que isso não é exatamente fácil de usar. Ele afirmou:
“Estamos um pouco acostumados aos pagamentos em Bitcoin do jeito que são, mas é realmente uma atrocidade. É como usar a internet sem nomes de domínio, contando apenas com endereços IP – ainda pior, porque os endereços criptografados são muito mais longos, mais feios e mudam constantemente”.
Para resolver esse problema, o desenvolvedor descobriu como instalar um sistema de contas em cima da rede Bitcoin.
Ao preservar os atributos mais valiosos do Bitcoin – como privacidade e auto-soberania (não há necessidade de se confiar em custodiantes) – o espanhol acredita que sua proposta melhoraria significativamente a experiência do usuário do Bitcoin.
Como propriedade essencial da proposta de Femenías, o “easypaysy” não dependeria de nenhuma fonte externa. Tanto a configuração da conta quanto o uso da nova tecnologia acontecem na própria blockchain do Bitcoin.
Isso é possível porque uma conta é criada com uma transação especial. Essa transação possui uma entrada (a metade “enviada” da transação), que inclui um endereço de duas multi-assinaturas (multisig). Isso significa que duas chaves públicas são reveladas, assinando a transação.
A transação também possui uma saída (a metade “receptora” da transação). Nesse caso, a saída realmente não recebe fundos; apenas inclui alguns dados da transação.
A primeira chave pública é chamada de “Chave de identidade” e é essencialmente a identidade digital do titular da conta. Qualquer pessoa que queira se comunicar com o titular em particular deve usar essa chave pública para criptografar as mensagens. A segunda chave pública é chamada de “Chave de valor” e é usada para receber pagamentos.
Existem duas chaves públicas diferentes porque a chave “Value” é mais valiosa que a chave “Identity”: a última é usada para mensagens, a primeira para dinheiro.
Diz Femenías:
“A chave de identidade deve estar online. Isso abre vulnerabilidades, da mesma maneira que as carteiras online são mais expostas do que as carteiras offline. Pode ser aconselhável manter a chave Value em ‘cold storage’, enquanto a chave Identity é usada mais ativamente para se comunicar.”
Depois que a transação é incluída em um bloco, a conta recebe automaticamente um ID de conta, com base em seu lugar na blockchain. O ID da conta consiste no bloco exato em que a transação está incluída e no local da transação nesse bloco. Isso é combinado com um identificador de blockchain e uma soma de verificação.
O ID da conta resultaria no seguinte padrão: blockchain@block.transaction/soma. Um exemplo de ID seria btc@543847.636/577.
Como é uma proposta de segunda camada, o sistema de contas de Femenías não exigiria nenhuma alteração no protocolo Bitcoin, nem exigiria um consenso em toda a rede. As carteiras individuais podem adotar a proposta amanhã e, depois disso, os usuários poderão usá-la imediatamente.
O desenvolvedor explicou uma das utilidades da sua solução:
“Digamos que você vá ao revendedor Lamborghini para comprar um carro. Depois de concordar com o preço, o revendedor mostra um código QR e solicita que você envie o pagamento para esse endereço. Então você o faz. Porém, no dia seguinte, o contador do revendedor informa que ainda está aguardando o pagamento. Como você prova que pagou? Como os endereços Bitcoin são pseudônimos, você não pode provar que enviou o dinheiro ao revendedor Lamborghini.”
Com o sistema de contas de Femenías, isso não seria mais um risco: o pagador sempre poderia fornecer comprovante de pagamento para uma conta específica.
Outro benefício é que o sistema de contas da Femenías tornaria os pagamentos recorrentes muito mais viáveis: alugueis, assinaturas ou outras transações periódicas para a mesma entidade.
O software da carteira pode ser programado para aceitar solicitações de pagamento de uma conta específica, até um valor máximo por período (por exemplo, a conta do proprietário poderá cobrar até 0,1 bitcoin por mês, se esse for o aluguel mensal).
Além disso, seria muito mais fácil para os comerciantes devolverem fundos.
Quando alguém faz uma compra, e o comerciante descobre mais tarde que o produto solicitado está fora de estoque, fica mais fácil realizar o reembolso. Com um sistema de contas, o dinheiro pode ser devolvido facilmente ao cliente, sem a necessidade de solicitar um endereço de retorno específico.
Por fim, o sistema de contas da Femenías ofereceria aos usuários de Bitcoin, pela primeira vez, uma identidade de blockchain:
“Isso pode, por exemplo, significar que, quando você faz login em um site, usa seu ID Easypaysy e, em vez de solicitar uma senha, o site desafia você a assinar uma mensagem com sua chave privada. Mesmo que o site seja invadido, você estará sempre seguro, pois eles não armazenam senhas”.
Apesar de trazer vários benefícios, as soluções de segunda camada ainda estão em seu estágio experimental e os usuários devem ter cuidado ao deixar grandes quantidades de BTC em carteiras que utilizam a nova tecnologia.
Como mostrou o Cointelegraph, um usuário que afirmou ter perdido Bitcoins utilizando a Lightning disse, mais tarde, que conseguiu recuperar seus BTCs.