De olho na BYD, europeias Volkswagen, Renault e Stellantis vão focar nos carros elétricos de baixo custo
Os maiores fabricantes de automóveis da Europa há muito tempo utilizam o Salão do Automóvel de Paris para exibir novos designs e tecnologias. Este ano, no entanto, o tema é outro: preço.
Com os consumidores hesitando diante dos altos custos de posse de veículos elétricos (EVs), Stellantis, Renault e Volkswagen planejam apresentar seus mais recentes EVs acessíveis no evento bienal que começa na segunda-feira (14). O objetivo é reverter a queda nas vendas, que começou no ano passado, quando os governos começaram a reduzir os incentivos para a troca de motores a combustão.
O sucesso desses novos modelos é crucial. Rivais chineses, liderados pela BYD, estão ganhando participação de mercado na região com modelos mais baratos. Se as montadoras europeias não conseguirem vender mais EVs, poderão enfrentar multas de até €15 bilhões por não cumprirem as metas mais rígidas de redução de emissões de suas frotas.
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“O clima em torno dos EVs não está ótimo no momento — não há infraestrutura de carregamento suficiente, há volatilidade nos preços, mas vamos ver”, disse Luca de Meo, CEO da Renault. “Estamos realmente fazendo o nosso melhor.”
A Renault está na linha de frente da busca por preços acessíveis, apresentando modelos plug-in em Paris, incluindo o R4, que deve custar menos de €35.000 (R$ 215 mil). A empresa também exibirá o novo R5, uma versão elétrica de €25.000 de um carro a gasolina da década de 1970, que oferecia transporte econômico em um momento de alta nos preços do petróleo.
O evento pode marcar um ponto de virada para as montadoras europeias, que têm enfrentado dificuldades para produzir EVs baratos. Problemas iniciais no desenvolvimento de software, altos custos trabalhistas e componentes caros, como baterias, têm sido um obstáculo para a indústria.
Para manter as margens de lucro, muitas montadoras focaram na venda de modelos premium. Isso, somado à retirada de subsídios em países como Alemanha e Suécia, elevou o preço médio dos EVs acima de €45.000 neste ano. Isso tornou os modelos elétricos inacessíveis para muitos europeus, que já estão lidando com o aumento dos custos de vida e de empréstimos.
Concorrência chinesa
As montadoras europeias enfrentam uma competição acirrada de fabricantes chineses ansiosos para expandir na região, apesar da decisão de Bruxelas, neste mês, de aumentar as tarifas sobre seus EVs em até 45%.
A BYD está trazendo EVs e híbridos plug-in para Paris, incluindo modelos populares que competem com os carros franceses e alemães, bem como com o Model Y da Tesla. Em uma tentativa de demonstrar sua capacidade tecnológica, a BYD também exibirá o Yangwang U8, um SUV de luxo que custa cerca de 1 milhão de yuans (US$ 141.509).
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A Xpeng, com sede em Guangzhou e parceira da Volkswagen, apresentará seu sedã P7+, uma versão de maior distância entre eixos do P7, que custa €50.000 e compete com modelos de médio porte mais caros da BMW e da Mercedes.
Embora fabricantes como Great Wall Motor e Nio não estejam presentes no evento, várias montadoras chinesas enviaram suas equipes a Paris para discutir possíveis parcerias, entradas no mercado europeu e produção local com fabricantes e concessionárias da região.
Stellantis
A Stellantis está apostando na chinesa Leapmotor para reduzir o custo de seus carros elétricos. Entre os modelos apresentados em Paris está o Leapmotor B10, um SUV compacto voltado para motoristas jovens e que deve ser mais barato que os concorrentes. A recepção do público pode definir os próximos passos da Stellantis na produção de veículos da Leapmotor em uma fábrica do grupo na Polônia.
A Citroën, marca da Stellantis que em 1948 ajudou a popularizar carros acessíveis na França com o 2CV, planeja apresentar EVs de preços moderados em Paris, incluindo o New C3 Aircross, que chama de “o SUV compacto mais acessível” do mercado.
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A Citroën também exibirá o Citroën ë-C3, um carro urbano de €23.300, que começou a ser entregue com meses de atraso, em meados de setembro, devido a problemas de software.
Esses modelos são essenciais para a Stellantis, que atravessa uma fase difícil. A pressão sobre o CEO Carlos Tavares está aumentando após um alerta de lucro desastroso no mês passado e um desempenho consistentemente fraco nos EUA, seu maior mercado. Tavares participará de vários eventos em Paris, após ter demitido seu diretor financeiro na quinta-feira, como parte de uma ampla reformulação de gestão.
Volswagen
A Volkswagen, cuja estratégia de EVs sofreu com problemas de software e altos custos em seu mercado de origem, a Alemanha, não apresentará novos carros em Paris. Em vez disso, exibirá modelos recentes, incluindo o Elroq, um SUV elétrico da marca econômica Skoda, que foi revelado no início deste mês com preço em torno de €33.000 — praticamente o mesmo de seu equivalente a combustão. A VW também apresentará um conceito do ID GTI, uma versão totalmente elétrica do bem-sucedido Golf GTI.
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O verdadeiro teste da capacidade da Volkswagen de produzir um “carro popular” elétrico pode ser o ID.2all. O lançamento do EV de €25.000 está previsto apenas para o final do próximo ano.
BMW
Até mesmo a fabricante de carros de luxo BMW está trazendo uma opção mais acessível para Paris, apresentando vários modelos Mini fabricados na China ao lado de versões mais caras e voltadas para desempenho, como o Aceman de cinco portas.
A empresa também exibirá um conceito elétrico para seu SUV de entrada de nova geração, o Vision Neue Klasse X. A BMW promete 30% de carregamento mais rápido e até 800 quilômetros de autonomia com uma única carga.
Renault
A marca de baixo custo da Renault, Dacia, apresentará o Bigster, um SUV maior voltado para combater os “custos crescentes” do segmento, segundo a empresa.
Além do R4 e do R5 — de Meo chamou o último de “o melhor pequeno EV do mundo” —, a Renault também revelará um protótipo para um Twingo elétrico que deverá custar menos de €20.000 quando chegar ao mercado em 2026.
“Finalmente estamos começando a ver veículos menores e EVs mais acessíveis”, disse Serge Gachot, diretor do salão de Paris. “Ainda há uma diferença de custos em relação aos EVs chineses, mas essa diferença está diminuindo.”