CVM debate regulamentação dos influencers e diz que eles são a fonte das decisões de 73% dos novos investidores
Pesquisa realizada pela B3 e a Anbima aponta que os youtubers e/ou influencers de outros canais respondem por praticamente 100% do aprendizado dos novos investidores da bolsa.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou nesta quarta-feira (19) um estudo realizado pela Bolsa de Valores do Brasil (B3) e pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) que, segundo a autarquia, aponta para a necessidade de regulamentação dos influencers. O documento foi integrado à Agenda Regulatória 2023 da CVM, que também aborda outros assuntos, como transferência de custódia e portabilidade de fundos.
De acordo com o documento, 73% dos investidores da B3 disseram que aprenderam a investir com youtubers e/ou influencers de outros canais de rede social. De maneira cumulativa, 31% disseram que recorreram a amigos, 18% se basearam em podcasts, 45% buscaram plataformas online, 20% se orientaram pela mídia impressa, 9% disseram que frequentaram cursos presenciais, 7% afirmaram que foram ajudados por gerentes e assessores financeiros, 1% se influenciou pelo rádio e 13% utilizaram outros meios.
Segundo a CVM, o levantamento serviu de base para o estudo elaborado pela Assessoria de Análise Econômica e Gestão de Riscos (ASA) da instituição, que também investigou o atual cenário do mundo digital e realizou mapeamento de iniciativas de reguladores de outras jurisdições como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Holanda e Europa. No casso desse trabalho, a ASA utilizou a metodologia de Análise de Impacto Regulatório (AIR).
O estudo da ASA recomendou que seja estabelecida uma regra no caso de contratação de influencers por parte dos players do mercado regulados pela CVM e que seja divulgado o vínculo contratual quando for oferecido conteúdo patrocinado a respeito de valores mobiliários. O que, segundo a CVM, está alinhado ao que acontece nos EUA, por exemplo.
Para o chefe da ASA, Bruno Luna, os influencers têm um papel fundamental na educação financeira dos investidores e o objetivo da autarquia, com a possível regulamentação, é transmitir transparência para a tomada de decisão.
“Parte importante desse grupo [de influencers] tem relação contratual com participantes regulados pela CVM e o investidor muitas vezes não sabe isso. Esse estudo, somada às discussões junto aos autorreguladores, é um esforço da CVM para ampliar a transparência ao público investidor e reduzir a assimetria informacional ao se consumir conteúdo produzido em parceria com participantes regulados”, argumentou.
O estudo também deve balizar as discussões entre a CVM, a Anbima e a BSM Supervisão de Mercado, que é uma organização sem fins lucrativos e com atuação autônoma dentro da B3. Nesse caso, o objetivo não é somente regular a atuação dos influencers, mas estender a esses profissionais as obrigações exigidas aos regulados pela autarquia.
“Todo participante autorizado pela Autarquia a atuar no mercado de capitais deve cumprir as normas do regulador. Isso é primordial para o bom funcionamento e a integridade do setor. A mesma conduta também deve ocorrer para os contratados pelos regulados. Então, a proposta é demonstrar que a transparência com o investidor deve se estender aos influenciadores e às plataformas de investimento contratadas por regulados da CVM”, explicou o analista da ASA José Antônio de Souza.
Em setembro do ano passado, a CVM anunciou que havia aberto uma investigação na Fintwit, comunidade do mercado financeiro no Twitter e acirrou o debate acerca do que pode e do que não pode nas redes sociais.
Em seu comunicado, a CVM não entrou na seara das criptomoedas, embora a autarquia já tenha publicado um ofício circular no começo do mês enquadrando os tokens de renda fixa e de recebíveis (TRs) como valores mobiliários, o que, em tese, enquadraria os influencers em relação à abordagem desses criptoativos.
Na última semana, a CVM cogitou flexibilizar as regras para emissão de TRs e um dos motivos alegados por tokenizados e pela Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto) foi justamente a inviabilidade de utilização de regras antigas à tecnologia blockchain, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.
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