Crise no sistema bancário dos EUA ‘fortalece o caso do Bitcoin’, dizem especialistas

Recentes crises do SVB e Signature Bank reforçam a importância de um ativo alternativo ao sistema financeiro tradicional, como o Bitcoin

Após os problemas de solvência do Silicon Valley Bank (SVB) e fechamento do Signature Bank, o Fed anunciou, nesta segunda-feira (13), um plano de US$ 25 bilhões para manter a estabilidade do sistema bancário dos Estados Unidos

Fontes ouvidas pelo Cointelegraph Brasil falam sobre como a ação pode afetar o mercado de criptomoedas nas próximas semanas. A opinião da maioria é que as dificuldades enfrentadas pelo sistema bancário estadunidense fortalecem a tese do Bitcoin (BTC).

Efeitos na taxa de juros

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) se reunirá entre os dias 21 e 22 de março para discutir sobre a taxa básica de juros dos EUA. A expectativa era mais um aumento de 0,25%. Diante do socorro prestado pelo Fed, no entanto, investidores estão apreensivos, aguardando um crescimento maior na taxa de juros.

Para Fabrício Tota, Diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin, os problemas de liquidez enfrentados pelo SVB podem fazer com que o Fed repense sua postura. “Acredito que os acontecimentos recentes trouxeram uma nova pergunta para o Fed: como as altas nas taxas de juros estão impactando os balanços dos bancos?”, diz.

Tota afirma que, no livre mercado, em tese, cada banco deve se virar com suas questões. O cenário atual, porém, é marcado pelo estresse das instituições. “É importante ponderar o impacto de um novo aumento na taxa de juros. De forma mais objetiva, um aumento na taxa causa a desvalorização em títulos prefixados de longo prazo, um dos fatores que causou o colapso do SVB.”

O cofundador da gestora Fuse Capital, Dan Yamamura, compartilha de uma visão semelhante. Yamamura comenta que a relação entre a taxa de juros e a inflação é baseada em tentativa e erro, onde o Fed faz movimentos e observa os impactos na inflação, para então decidir suas próximas ações. No cenário atual, ele avalia que o Fed será mais cauteloso quanto a um novo aumento na próxima semana.

“Certamente, o que aconteceu e o risco de quebra, de um risco sistêmico no setor bancário, será levado em consideração em novos cortes ou aumentos”, diz Yamamura sobre a postura do Fed em tentar não gerar novos colapsos.

Fortalecendo o Bitcoin

Os problemas de liquidez do SVB foram causados por um misto de má gestão e o aumento da taxa de juros promovido pelo Fed em 2022, apontou Jamie Quint em seu Twitter no dia 9 de março. Ele relata que o banco usou depósitos de seus clientes para comprar mais de US$ 80 bilhões em títulos prefixados da renda fixa privada que, após os aumentos na taxa básica de juros, perderam o valor.

O episódio destaca as questionáveis ações do Fed e do Silicon Valley Bank, e favorece o uso de um ativo alternativo e descentralizado como o Bitcoin. O analista e gestor de portfólio da BLP Asset, Alexandre Vasarhelyi, aponta que o cenário atual posiciona o BTC para um movimento de valorização.

“O Bitcoin nasce em 2009 como uma resposta à crise do sistema financeiro estadunidense. O BTC está posicionado para subir pois, na hora em que você questiona o sistema financeiro, você procura opções, e o Bitcoin é uma opção de bancarização para a maioria da população. A alta do ativo tem muito mais a ver com isso do que com a taxa de juros, lá fora ou no Brasil”, avalia Vasarhelyi.

Fabrício Tota, do Mercado Bitcoin, também acredita que os engasgos enfrentados pelo sistema bancário dos Estados Unidos é uma oportunidade para voltar a encarar o Bitcoin como “a grande alternativa ao sistema financeiro”. Além disso, Tota aponta que este também é um momento propício para o BTC romper sua correlação estreita que tem mantido com ativos de risco do mercado financeiro tradicional.

Cenário difícil para stablecoins

Apesar das avaliações positivas em relação às condições atuais para o Bitcoin, as stablecoins podem ter dias difíceis pela frente. Dan Yamamura, da Fuse, dá ênfase nos US$ 3,3 bilhões mantidos pela Circle no Silicon Valley Bank.

“Muita gente pode se espantar e perguntar porque havia tanto dinheiro em um só banco. É importante lembrar que nem todos os bancos do sistema estadunidense são autorizados, ou têm interesse, para negociar e estabelecer relações com empresas como a Circle”, diz Yamamura.

Isso gera dois problemas para as empresas emissoras de stablecoin: o primeiro é a dificuldade em encontrar novos bancos para firmar parcerias, que sejam vistos com bons olhos pelos reguladores; o segundo é justamente o risco bancário, que ameaça parte do lastro das stablecoins.

Mudança para o Brasil?

A postura mais cautelosa do Fed pode ser o sinal que faltava para um movimento de queda da Selic no Brasil, aponta uma matéria publicada pelo Valor Investe nesta segunda-feira. 

Mesmo com a queda da taxa de juros no Brasil, os brasileiros não se sentirão mais inclinados a se arriscar no mercado de criptomoedas, concluem Tota e Yamamura.

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