“Criptomoedas são uma ameaça ao sistema financeiro tradicional”, diz ex-diretor do Banco Central
O economista Aldo Luiz Mendes, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, disse que as criptomoedas são uma ameaça ao sistema financeiro tradicional, segundo publicação do Correio Braziliense na segunda feira (08).
De acordo com o jornal, Mendes acredita que as criptomoedas, por não serem emitidas por autoridade central, nem serem controladas ou fiscalizadas, elas têm grande risco reputacional.
“O anonimato das moedas dessa natureza traz risco reputacional e dificuldades com relação ao programa de prevenção à lavagem de dinheiro. Não há como rastreá-las, e elas estão sujeitas a ataques cibernéticos”, disse Mendes ao jornal.
Também conhecido como ‘risco de reputação’, o evento ocorre quando há perdas de receita resultante de danos à reputação de uma empresa.
Outro ponto que o economista frisou foi sobre a dificuldade de aceitação das criptomoedas. Segundo ele, ainda há um ”universo pequeno que negocia com isso”.
Ele completou sua posição falando sobre o risco de manter criptomoedas como reserva de valor. “Elas são extremamente arriscadas”.
Criptomoedas e sistema tradicional
Sobre a criptoeconomia com um todo, Mendes falou positivamente, mas para ele o novo sistema está longe de substituir o tradicional mercado financeiro.
Funcionário de carreira do Banco do Brasil, onde ocupou a vice-presidência de Finanças, Mercado de Capitais e Relações com Investidores, também acredita no criptomercado.
Ele crê que as criptomoedas podem se fortalecer e até mesmo se consolidar no futuro, mas que até aqui, elas ainda não se provaram substitutas da moeda convencional, principalmente pela sua alta volatilidade.
“Basta ver a volatilidade que o bitcoin tem oferecido, por exemplo. É uma loucura, uma montanha-russa. As criptomoedas enfrentam dificuldade para cumprir papéis tradicionais das moedas físicas”.
Criptomoedas são anárquicas
Mendes ainda sugere que um ‘defeito no DNA’ das criptomoedas é que proveu sua característica ‘anárquica’.
“Sem contar que as moedas virtuais têm um defeito no DNA: são anárquicas. Ou seja, não têm nenhum controle central”, disse o economista.
Sobre a tecnologia blockchain, que surgiu com a principal criptomoeda do mercado, o bitcoin, o economista só fez elogios, mas alertou sobre mudanças sem planejamento.
“Quando saímos dos processamentos de máquinas de grande porte para a nuvem, isso gerou problemas seríssimos para as empresas. A IBM teve de se reinventar em um espaço de 10 anos”.
Contudo, ele disse que a blockchain desafia o que temos hoje em termos de distribuição e que a tecnologia veio para ficar.
Criptomoeda do Facebook
Sobre a Libra, criptomoeda anunciada pelo Facebook, Mendes disse o seguinte:
“Essa moeda, com certeza, será uma grande ameaça aos métodos financeiros tradicionais”.
Ele explicou o motivo.
“É um projeto ambicioso. Muitos dos usuários do Facebook estão fora do sistema financeiro, pois são pobres e teriam de pagar mais caro pelos serviços. Então, essas pessoas serão trazidas para dentro da libra”.
Banco Central
Sobre o Banco Central (Bacen), Mendes avalia que a instituição precisa investir na ampliação do sistema financeiro, como a ação regulatória que normatiza novos métodos de pagamento.
Ele aconselha o banco para os próximos anos a elaborar um sistema de pagamentos instantâneos que permita transferências por meio do celular sem a necessidade de aplicativos e com tarifas moderadas.
“Um órgão como o BC, ao assumir a gerência e a governança desse sistema, vai permitir que mais pessoas sejam integradas ao sistema formal de finanças”.
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