Criptomoeda Libra do Facebook é vilã ou a redenção de Mark Zuckerberg?
Na quarta-feira (23) Mark Zuckerberg falou sobre o Libra frente ao House Financial Services Committee, comitê do congresso norte-americano responsável, entre outras funções, por legislar sobre serviços financeiros. O seu discurso foi publicado de antemão e está disponível aqui.
Dentre os diversos argumentos pró-Libra — inclusão financeira, eficiência, segurança, entre outros — o que mais me chama a atenção é aquele que explica que a China está correndo para ter sua própria criptomoeda e, com isso, ampliando sua força geopolítica, sendo o Libra uma potencial resposta à altura.
Apesar de todas as críticas que possamos ter ao Facebook, eu acredito que Mark Zuckerberg não poderia ter sido mais brilhante em seu posicionamento.
Quem hoje conseguiria fazer frente à China, senão a maior rede social ocidental do mundo com 2,4 bilhões de usuários, que, em uma virada de chave, poderia prover às autoridades norte-americanas não apenas dados sobre hábitos e ações dos indivíduos, mas também dados, acessos e influência sobre suas ações financeiras, provendo-lhes assim mais poder?
Na China, o caminho parece mais direto, considerando a relação do Estado e do Governo com as empresas e com a população em geral, que é mais simbiótico e impositivo.
Por isso, a mensagem de Zuckerberg, de que o projeto chinês pode se concretizar em meses, não me surpreende.
No ocidente, contudo, o caminho tende a ser mais sinuoso. Como bem lembrado por Zuckerberg, a história recente do Facebook o afasta do papel de herói. Ela o coloca entre consumidores e a mídia em uma posição mais próxima a um vilão da privacidade e da segurança das pessoas.
O que talvez estivesse mais implícito e com o passar do tempo vai se tornando mais relevante, é como esta realidade de influência via dados (agora, somando-se dados financeiros) poderia ser relevante em temas geopolíticos em escala global.
Por isso, os debates e decisões em torno do Libra terão cada vez mais peso nos rumos da humanidade.
Será que o governo norte-americano vai insistir na cobrança por privacidade? Ou irá ceder a um interesse geopolítico que se sobreponha a isto? — quem sabe até visando potencialmente, em um médio/longo prazo, resguardar estas mesmas pessoas através de mais capacidade de influência sobre elas?
E os Bancos Centrais dos diversos Estados-Nação? Eles terão interesse e conseguirão operar de forma sincronizada visando esta perspectiva macro, ainda que isto represente o seu enfraquecimento?
Será que a Libra pode mesmo ser a redenção de Zuckerberg?
Sobre a autora
Rosine Kadamani é advogada e especialista em blockchain e criptoeconomia. É também cofundadora da Blockchain Academy, um projeto educacional brasileiro focado em inovações e iniciativas blockchain e DLTs.
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