CPI da COVID: testemunha confirma que propina seria usada para comprar Bitcoin
Cristiano Carvalho diz que propina seria para comprar Bitcoin e depois comprar vacinas
Durante a sessão da Comissão Parlamentar de Inquerito (CPI) da Pandemia, nesta quinta-feira (15), em transmissão pela TV Senado, o representante oficial da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, foi ouvido na condição de testemunha.
O empresário foi questionado sobre o suposto esquema de propina envolvendo a compra de vacinas AstraZeneca para combate à Covid-19.
Segundo o empresário, a participação dele nas tratativas teria começado no início de fevereiro deste ano, com telefonemas feitos a ele por Roberto Dias, que era diretor de Logística do Ministério da Saúde.
Em um dos questionamentos, a senadora Eliziane Gama, do partido Cidadania, do Maranhão, perguntou:
“O Dominguetti [Pereira, que denunciou suposto esquema de corrupção] pede uma conta ao Coronel Blanco [que era assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde], referente a um depósito de 1 milhão de dólares, o senhor teve informação sobre isso?”
Cristiano respondeu: “Aparentemente, eles estavam fazendo negociações de Bitcoins. Eles queriam movimentar o dinheiro, acredito que, do Blanco, para comprar Bitcoins e depois comprar vacinas, aparentemente foi isso.”
O Cointelegraph havia publicado recentemente que o então Diretor do Ministério da Saúde e um intermediário negociaram vacinas com propina em criptomoedas.
Mensagens reveladas pela CPI da Pandemia mostraram que Luiz Paulo Dominghetti e Marcelo Blanco usaram o Ministério da Saúde para tentar fechar contratos fraudulentos com propina em critpoativos.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a atuação do governo Jair Bolsonaro durante a pandemia levantou o sigilo sobre as mensagens do telefone celular do policial militar Luiz Paulo Dominguetti, suspeito de intermediar um contrato fraudulento para a compra de vacinas superfaturadas pelo Ministério da Saúde.
Nas mensagens reveladas, Dominguetti negocia com o então diretor de logística do Ministério da Saúde, o tenente-coronel Marcelo Branco, a compra de vacinas e também um possível pagamento de propina usando criptomoedas.
Agora, a testemunha Cristiano Carvalho confirma o teor das mensagens reveladas anteriormente.
Relembre o caso
As mensagens trocadas pelo WhatsApp revelam que em 9 de fevereiro o ex-assessor do Ministério da Saúde perguntou ao PM se o preço de US$ 12,51 por vacina oferecido ao governo também poderia ser aplicado para a rede de hospitais privados do país.
Dominghetti nega o preço, dizendo que o preço praticado era exclusivo para governos e que a fabricante da vacina, a AstraZeneca – que tem produção no Brasil através da Fiocruz, o que é ignorado pelo representante da Saúde – não vende diretamente para empresas privadas.
Os dois então marcam uma reunião em Brasília e trocam uma série de ligações. Em 19 de fevereiro, o PM diz que as “coisas evoluíram para outro caminho” no Ministério da Saúde e reclama de dificuldades na negociação com o governo.
O tenente-coronel Blanco então diz que eles precisam “desenhar uma estratégia visando esse mercado”, demonstrando novamente interesse na rede privada. Dominghetti promete praticar um preço abaixo do mercado para tentar fechar o negócio.
O coronel Blanco pergunta se os dois “poderiam fazer o próprio preço”, ao que Dominghetti responde sugerindo dos dois abrirem uma empresa, no que pode configurar crime de advocacia administrativa, que ocorre quando um servidor público usa um órgão estatal para interesses particulares.
Segundo as mensagens, com a suposta liberação do governo, Dominghetti diz que os contratos já poderiam ser encaminhados, referindo-se a 400 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca que viriam da Índia.
Em 1 de março, Blanco mostra otimismo com o fechamento do negócio e uma semana depois, em 8 de março, Dominghetti pede uma conta para a transação: “Vamos depositar 1 milhão de dólares agora”, ele escreve.
As conversas ainda citam uma suposta concorrência de outros grupos que poderiam atrapalhar o “negócio”. Eles citam um “Eduardo” na conversa, mas não está claro qual seria a pessoa em questão. Eles dizem que teriam que acertar com “Edinho e todo o grupo”.
Finalmente, Dominghetti pergunta sobre o avanço das negociações e da conta para o pagamento da suposta propina, ao que o coronel Blanco diz que não acredita que o negócio iria para frente “por conta de informações que não deixaram os operadores confortáveis” e que “não sentiram firmeza”.
O PM, que curiosamente é um policial da ativa, então indica que seriam usadas criptomoedas na transação, em um indício de que os envolvidos poderiam receber o dinheiro da propina em criptoativos para tentar fugir do controle das autoridades.
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