Empresas não devem transformar oportunidades do metaverso em ‘firulas’, diz professor da Singularity University
Em entrevista à Forbes, fundador da plataforma Makers, Ricardo Cavallini, considera que o grau de interação pode ser mais relevante que o ‘realismo visual’ no metaverso
Em entrevista ao Editor de Tecnologia e Inovação da Forbes Brasil, jornalista Luiz Gustavo Pacete, publicada nesta sexta-feira (21), o professor da Singularity University Ricardo Cavallini apresentou algumas reflexões sobre o metaverso, Web3 e outras “tendências” tecnológicas da atualidade.
Na opinião de Cavallini, autor de seis livros na área de tecnologia, negócios e inovação, algumas empresas, por exemplo, estão apenas fazendo “espuma”, “firulas”, com o metaverso e em detrimento da possibilidade de agregação de valores às marcas que este universo virtual permite. Problema que segundo ele está relacionado à falta de reflexão acerca dos impactos acarretados por mudanças rápidas, efêmeras e sem estratégia clara.
Ricardo, que também é colunista do UOL e um dos apresentadores do reality show Batalha Makers (Discovery Channel), também relativizou os impactos das experiências do metaverso na vida das pessoas, inclusive lançando luz sobre o que pode ser considerado metaverso. Porque, na avaliação do CEO da Makers Consultoria de Inovação, as experiências imersivas e interativas, propostas por alguns jogos, não estão necessariamente vinculadas ao grau de realismo de equipamentos como óculos de realidade. Sobre esses ‘dois pratos da balança metaversa’, ele considerou:
Os personagens de pele azul ou pink com roupas extravagantes podem representar mais a sua personalidade do que um “gêmeo virtual” com o seu rosto em 3D, como Zuckerberg demonstrou. É claro que um show ao vivo do Travis Scott é diferente do show que ele fez no Fortnite. Mas achar que um é melhor que o outro é um erro de quem não entende os jogos. Eles são diferentes, ponto.
Ainda que não esteja mais no foco dos holofotes, a Inteligência Artificial (IA) foi destacada por Ricardo Cavallini como a tecnologia mais relevante e que deverá acarretar as mudanças mais impactantes na vida das pessoas, em abrangência e força.
Ele lembrou ainda que a transformação digital tradicionalmente demora para desencadear atualizações em políticas públicas e na legislação, razão pela qual defendeu a chegada de “ondas de impacto” para precipitar essas mudanças.
A LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) e o ESG (Environmental, Social and Governance – Meio Ambiente, Social e Governança) que estão com muita força são apenas o começo. A discussão antitruste voltou ao radar nos EUA e na Europa a cada momento surgem questões novas, sobre imposto, privacidade, sustentabilidade e concorrência, justificou.
Ao citar a predominância das contas de Facebook, Instagram e Whatsapp para retratar o que classificou como “caminho errado” e “monopólio” da internet ao longo dos anos, além de outros problemas da rede mundial de computadores, tais como fake news e discursos de ódio, o entrevistado se mostrou otimista com a Web3 como mola propulsora da descentralização.
Mais do que uma evolução (a próxima versão, três ponto zero), se trata de uma remodelagem da internet, baseada em blockchain, tokenização e descentralização, disse.
Ricardo também mostrou certa esperança em relação ao futuro tecnológico salientando que “algumas indústrias começam a olhar com mais carinho para ciência base e médio longo prazo.” E citou ainda alguns exemplos de investidores que servem de ponte entre indústrias e academia, além de outros que preconizam a maturidade e o talento ao aportarem seus recursos em startups.
O caminho dos investimentos em direção a bons projetos, calcado no olhar para o futuro e de mãos dadas para a ciência, pode ajudar a construir uma internet mais democrática em um metaverso mais seguro. Afinal, este novo mundo traz ameaças que podem ir muito além do monopólio das grandes empresas de tecnologia.
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