Como o FBI rastreia a lavagem de Bitcoin na dark web
Um relatório preparado pelo FBI em Washington e exposto no ‘Blueleaks’, revela como o FBI rastreou criminosos da dark web lavando Bitcoin sujo e convertendo-o na moeda Monero, que é focada em privacidade.
O Blueleaks foi um vazamento do grupo Anonymous de milhões de arquivos secretos de várias órgãos dos EUA.
O documento vazado do FBI detalha três casos em que a exchange panamenha MorphToken foi “provavelmente” usada por dois sites de venda na darkweb para lavar Bitcoin obtido de origem ilícita, convertendo-o em Monero. Os dois site são: Apollon e Cryptonia.
Em janeiro de 2020, o FBI identificou usuários do Apollon que enviaram pelo menos 11 Bitcoins (no valor de aproximadamente US$ 80.000 na época) ao MorphToken para conversão em Monero. O FBI usou uma “ferramenta de software proprietária” que analisa transações financeiras no blockchain do Bitcoin, ao lado da própria API do MorphToken, para monitorar as transações.
O FBI também analisou as comissões das transações de Bitcoin realizadas na Cryptonia entre maio e setembro de 2019, revelando que os ativos foram enviados para endereços associados ao MorphToken. Todas as transações relacionadas que poderiam ser consultadas por meio da API do MorphToken foram convertidas para Monero.
Em novembro de 2019, o FBI também identificou pelo menos quatro fornecedores da dark web que enviaram o os bitcoins obtidos da venda de drogas para o MorphToken.
“Embora o MorphToken se ofereça para converter Bitcoin em cinco criptomoedas diferentes, em quase todas as conversões identificadas pelo FBI conduzidas por vendedores dos mercados negros da darkweb – onde a moeda de saída pode ser identificada – o usuário converteu bitcoins em Monero”, diz o relatório.
O FBI pressupõe que os sites de venda da darknet não estão comprando Monero com a intenção de diversificar o portfólio.
O que são exchanges instantâneas de criptomoedas?
Exchanges instantâneas como a Morphtoken permitem a conversão rápida de uma criptomoeda em uma ou mais outras. O FBI destaca a falta de protocolos formais de conhecimento do cliente (KYC) – o pilar da conformidade moderna com a Lei de Sigilo Bancário – na Morphtoken e em exchanges similares como uma área de preocupação. MorphToken se recusou a comentar com o Decrypt sobre relatório vazado do FBI.
A Morphtoken está incorporada no Panamá, uma jurisdição que não implementou nenhuma regulamentação para moedas digitais ou corretoras de criptomoedas, de acordo com o escritório de advocacia corporativo panamenho Kraemer e Kraemer.
Através de vazamentos como os Panama Papers, o Panamá se tornou sinônimo de sigilo bancário e do uso de proteções legais e estruturas corporativas para proteger o anonimato dos sonegadores de impostos e lavadores de dinheiro.
Criptomoeda monero e a dark web
O FBI também apontou para publicações de usuários em sites e fóruns da darknet que discutiam o uso do Morphtoken e outros serviços similares como portais de conversão de Monero. O MorphToken é um dos oito ‘trocadores’ em destaque de Monero no fórum Dread.
O Relatório Crypto-Crime 2020 da Chainalysis observou que a Monero está “ganhando popularidade e pode se tornar a criptomoeda de escolha para mais criminosos em 2020”.
O Monero combina três tecnologias de privacidade diferentes: ring signatures, ring confidential transactions (RingCT) e endereços de carteira sigilosos únicos. O efeito é tornar os usuários de Monero não identificáveis.
A Monero pode ser rastreada?
Levando em conta a tecnologia da Monero e suas cadeias de pagamento autônomas, regeneradas e embaralhadas, Tom Robinson, cientista-chefe da empresa britânica Elliptic, não acredita que seja possível perfurar o véu de sigilo da criptomoeda.
“Não espero que ferramentas de monitoramento de blockchain atinjam a Monero em breve, se é que algum dia consigam”, disse Robinson ao Decrypt.
O relatório do FBI avalia que, à medida que mais exemplos de rastreamento de criptomoedas bem sucedidos forem publicados, os criminosos “provavelmente” aumentarão a adoção de criptomoedas anônimas, como Monero.
*Traduzido e republicado com autorização da Decrypt.co
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