Coleção de NFTs que explorava imagens de escravos pretos é condenada pelo público e criadores tentam salvar o projeto
“Meta Slave” era composta exclusivamente por NFTs de imagens de pessoas pretas, mas após primeiras críticas os criadores da coleção incluíram imagens de pessoas de outras etnias e mudaram o nome do projeto.
Uma coleção de NFTs (tokens não fungíveis) intitulada “Meta Slave” (“Meta Escravo” em tradução literal) foi lançada no OpenSea em 25 de janeiro afirmando se inspirar no movimento “Black Lives Matter” em uma forma de homenagem à honra de George Floyd, o homem afro-americano de 46 anos assassinado por asfixia por um policial branco em maio de 2020 em Houston, nos EUA.
Após uma denúncia no Twitter e condenação geral nas redes sociais nesta terça-feira, porém, o projeto foi retirado temporariamente do ar para ser repaginado e relançado há poucas horas atrás.
Na descrição original do projeto, os criadores do “Meta Slave” o apresentavam como uma forma de lembrar um capítulo abominável da história da humanidade para que a história não se repita no futuro:
“Ao criar nosso projeto, queríamos mostrar a todos que nunca esqueceremos as vítimas de nossos ancestrais, devemos lembrar da história para que isso não aconteça novamente.
A abordagem foi considerada de mal gosto pelo público, talvez por abordar um tema altamente sensível, já que a coleção explorava comercialmente imagens de pessoas pretas, associando-as à escravidão. Não está claro se as demais imagens eram de pessoas reais ou criações digitais, nem se os criadores do projeto detinham os direitos autorais sobre as imagens.
Uma imagem do próprio George Floyd era parte da coleção – um NFT intitulado “I can’t breathe” (“Não consigo respirar”), frase que Floyd repetiu insistentemente enquanto era morto pelo policial branco Derek Chauvin. No início desta terça-feira, o NFT número 1 da coleção era oferecido por 25,04 ETH (aproximadamente R$ 370.000), conforme relatou o site stealthoptional.com.
Em meio a tantas outras coleções lançadas diariamente em uma tentativa de lucrar com o hype atual dos NFTs, “Meta Slave” passara praticamente desapercebida até esta terça-feira, quando o desenvolvedor de games Kris Antoni a denunciou em uma postagem no Twitter.
OMFG this is so fucked up!
Selling “slave” eneftees for profit, claiming to be doing good for the black community, guilt-blame others who disagree, then change their narrative.
This is vile on so many levels. made me sick to my stomach.
I’ve just reported their account. pic.twitter.com/VCrsNmKR5v
— Kris Antoni – Toge Productions (@kerissakti) February 1, 2022
Meu deus, isso é tão doentio!
Vender NFTs de “escravos” por lucro alegando estar agindo pelo bem da comunidade negra, culpando todos aqueles que discordam de seu propósito, e depois mudando a própria narrativa.
Isso é vil em tantos níveis. me fez mal ao estômago.
Acabei de denunciar a conta deles.
— Kris Antoni – Toge Productions (@kerissakti)
A postagem viralizou gerando uma onda de condenações ao projeto que se espalhou pela comunidade cripto e além. A reportagem do stealthoptional.com afirmou que “o projeto Meta Slave incentiva os entusiastas de criptomoedas a fazer lances para arrematar imagens de pessoas pretas, criando um equivalente digital dos antigos leilões de escravizados.”
Nesta terça-feira, os criadores do “Meta Slave” repaginaram o conceito e a natureza da coleção, ao utilizar imagens de pessoas de outras etnias nas redes sociais do projeto e afirmar na descrição reformulada da coleção que “todos são escravos de alguma coisa. Escravos dos desejos, do trabalho, do dinheiro.” A mesma postagem afirma que futuramente novas coleções irão contemplar outras raças, como brancos e asiáticos, por exemplo.
Não foi suficiente para acalmar os ânimos e algumas horas depois a coleção foi retirada do OpenSea sem que um único item tivesse sido vendido. Não se sabe se a remoção foi voluntária ou uma deliberação da plataforma.
O OpenSea não se manifestou oficialmente sobre a polêmica. No perfil oficial do “Meta Slave” no Twitter, uma mensagem lacônica lamentando a incompreensão dos críticos e reafirmando as boas intenções do projeto parecia indicar o encerramento do projeto.
We apologize to those who have been offended by our project, but we are here only with good intentions. Peace to all.
— META HUMANS (@MetaSlaveNFT) February 1, 2022
Pedimos desculpas a quem se ofendeu com nosso projeto, mas estamos aqui apenas com boas intenções. Paz para todos.
— META HUMANS (@MetaSlaveNFT)
No entanto, no fim da tarde desta terça, através do mesmo perfil no Twitter, os criadores do “Meta Slave” anunciaram o reposicionamento da marca da coleção, agora sob o título “Meta Humans”, com o link para uma nova página oficial do projeto no OpenSea. A coleção repaginada é composta por 22 NFTs de imagens de pessoas de diversas etnias, incluindo cinco pessoas pretas.
Cada item da coleção está sendo vendido pelo preço inicial de 0,01 ETH – aproximadamente R$ 147. Até o momento em que este texto está sendo escrito, nenhum NFT havia sido comercializado.
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