China migra para mineração sustentável enquanto Elon Musk atrai holofotes

Seguindo alguns movimentos realizados pela Tesla, como a proibição do uso do BTC como forma de pagamento de seus carros à preocupação por uma mineração responsável do Bitcoin, o tema tem passado por um grande aumento de interesse. Que papel pode ter Elon Musk em tudo isso? Estará a China também atrás de um “Bitcoin verde?”

Nos últimos meses, notícias distintas sobre a mineração de Bitcoin na China têm gerado muitas inquietudes na comunidade. Em maio, os mercados de criptomoedas afundaram mais de 20% em um único fim de semana, em parte devido ao pânico gerado pelas possíveis ações do governo chinês contra as mineradoras de Bitcoin

Desde então, surgiram várias notícias a esse respeito, algumas certamente contraditórias entre si. O que parecia ser simplesmente uma ação própria de um governo totalitario para exercer controle sobre o que ocorre em seu território parece que está se convertendo mais em uma questão de viabilidade energética. 

Elon Musk e sua visão de um “Bitcoin verde” 

Cabe lembrar que, ao mesmo tempo, o CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, manifestou sua reprovação ao consumo excessivo de energia na rede de mineração de Bitcoin. Isto resultou em um passo para trás por parte da Tesla, que deixou de aceitar a criptomoeda como forma de pagamento para seus carros. 

Em seguida a esse anúncio da Tesla, surgiram ideias para criar centros de mineração 100% ecológicos nos Estados Unidos, além da recente iniciativa do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, de usar a energia geotérmica da ilha para a mineração de Bitcoin. 

A China aparenta seguir pelo mesmo caminho, o que explicaria os fechamentos recentes de alguns dos centros de mineração de Bitcoin do país. Quem está na frente desta corrida? Por quê? Que consequências podem ocorrer a nível global para a adoção de criptomoedas? 

Bitcoin e o problema do consumo de energia 

A preocupação com os gastos de energia da rede de Bitcoin é antiga. Por exemplo, a plataforma Digiconomist, que mede e compara a pegada energética da criptomoeda, existe há sete anos. Hoje, já existem várias plataformas que registra o consumo energético da rede de Bitcoin, assim como a de Ethereum (ETH) e de suas pegadas de carbono.

Segundo o Centro para Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge, a rede de Bitcoin consome 145 TW/h por ano. Para entender esta magnitude é necessário compará-la com outras métricas. Por exemplo, a Ucrânia inteira consome 128TW/h, enquanto a Suécia gasta 131 TW/h e a Malásia, 148 TW/h. 

Apesar de estes dados serem questionados por muitos especialistas, é certo que todo esse tema gera debates de grande sensibilidade tanto no setor de cripto como além dele. 

Tudo isso fez com que Elon Musk recentemente desse um passo atras na adoção de criptomoedas, quando anunciou que a Tesla deixaria de aceitar Bitcoin já que o enorme consumo de energia de sua rede o converte em um ativo pouco ecológico. 

As brincadeiras de Elon Musk com o Bitcoin 

As relações do magnata sul-africano com o Bitcoin e criptomoedas ao longo de 2021 têm sido intensas e carregadas de drama. No início de fevereiro, Elon Musk e a Tesla anunciaram para a SEC, a Comissão de Valores Mobiliários americana, a compra de Bitcoin por US$ 1.500 dólares cada e a intenção de começar a aceitar a criptomoeda como forma de pagamento para seus veículos. 

O anúncio catapultou a cotação do Bitcoin de US$ 30.000 para US$ 57.000 em poucos dias. Para muitos investidores, esta era a prova definitiva de que o mercado tradicional começava a considerar esta moeda como um veículo de investimentos estável. 

Já em março do mesmo ano, a Tesla deu um passo à frente quando anunciou, através do Twitter de Elon Musk, que os clientes poderiam comprar os carros da marca com Bitcoin. Isto foi um passo muito importante para as criptomoedas, pois era a primeira vez que uma grande empresa aceitava o uso delas para transações de seus produtos.

Todos estes anuncios tiveram um grande impacto na valorização do Bitcoin, o que resultou em um aumento considerável do preço da moeda, que alcançou sua máxima histórica de US$ 64 mil no dia 14 de abril. 

O casamento entre Elon Musk e o Bitcoin acabou? 

Ainda assim, o casamento entre Elon Musk e o Bitcion não durou muito depois do dia 12 de maio, quando o CEO anunciou, mais uma vez pelo Twitter, que a Tesla havia finalmente desistido de aceitar o BTC como forma de pagamento, devido ao impacto ambiental causado pela mineração da criptomoeda. O anúncio, assim como das outras vezes, teve um efeito no preço do Bitcoin. Nesta ocasião, ele desvalorizou 15%. 

Este movimento deixou muitas pessoas inseguras. Os problemas ambientais relacionados com a rede de Bitcoin são conhecidos há muito tempo e muitos especularam que se tratava de uma manipulação pura do mercado simplesmente para adquirir mais Bitcoin. 

O futuro da mineração de Bitcoin será ecológico? 

Outra hipótese considerada mais plausível é que Elon Musk tenha a intenção de investir em centros de mineração ecologica em grande escala nos Estados Unidos. A Tesla poderia assumir um papel ativo para ajudar o Bitcoin a ser mais ecológico investindo em novos projetos destinados a impulsionar o uso de energias renováveis na mineração. Segundo declarações da diretora executiva da startup de criptomoedas Valou, Diana Biggs, à agência Reuters: 

“Musk e a Tesla certamente tem todos os recursos para apoiar os esforços já existentes para fazer com que o Bitcoin passe a usar somente energias renováveis.” 

Outros projetos a nível mundial buscam formas de fazer com que uma mineradora de BTC baseada em combustíveis fósseis passe a usar uma energia mais limpa, ao menos para reduzir sua pegada de carbono. A companhia de pagamentos Square Inc (SQ.N), dirigida pelo CEO do Twitter, Jack Dorsey, disse em 2020 que daria US$ 10 milhões para apoiar empresas que impulsionassem o uso e a eficiência das energias renováveis no setor de Bitcoin. 

Segundo declarações feitas à Reuters pela consultora de criptomoedas e blockchain Maya Zehavi, seria possível rastrear quais BTC foram produzidos de forma sustentável, o que daria à Tesla a opção de aceitar apenas os Bitcoin mais ecológicos. 

Embora a causa principal desse movimento por parte da Tesla possa ser a intenção de reforçar as credenciais ambientais da empresa em meio ao crescimento do setor de veículos elétricos, aceitar uma criptomoeda conhecida por não ser ecológica não ajudaria sua narrativa. 

China, Bitcoin e suas contradições 

 A relação entre o governo da China, Bitcoin e criptomoedas sempre foi difícil. Basta lembrar que, em 2017, o Banco Popular da China ordenou às instituições financeiras do país e a provedores de pagamento não-bancários que de8xassem de atender a clientes relacionados com criptomoedas. Depois a proibição cortou os on-ramps para a compra de criptomoedas com moedas fiduciárias. 

Como passar do ano, a posição da China a respeito do Bitcoin e outras criptomoedas foi ambígua. Embora há poucas semanas se falasse de medidas duras contra a mineração de Bitcoin, depois de abril de 2021, o vice-governador do Banco Popular da China, o banco central do país, afirmava que o Bitcoin era uma alternativa válida para investimentos e acrescentou que o Bitcoin não era uma moeda ilegal e qualquer cidadão poderia investir nela desde que assuma o risco devido. 

As regiões de mineração de Bitcoin na China foram criticadas. Por quê? 

O China Star Market, um jornal comercial da estatal chinesa Shangai United Media Group, noticiou no sábado (12) que a Secretaria de Energia da província de Yunnan requisitou a todos os departamentos de energia subordinados que inspecionem completamente as mineradoras de Bitcoin no final de junho. 

O jornal afirmou que a Secretaria de Energia de Yunnan está exigindo que os departamentos subordinados inspecionem e fechem ou corrijam o mais rápido possível as mineradoras que utilizem energia hidrelétrica não autorizada. Isto inclui centrais elétricas que forneçam energia diretamente a mineradoras sem pagar as taxas do governo, o que se supõe ser uma prática comum nesta área. 

 A província de Yunnan, assim como a de Sichuan, são os principais centros de mineração de Bitcoin que operam com energia hidrelétrica. Sem embargo, nenhuma delas emitiu medidas concretas sobre o futuro da mineração de Bitcoin nas regiões após a iniciativa do Conselho de Estado de tomar medidas contra o trading de Bitcoin e suas atividades de mineração. 

O consumo de energia derivada do carbono preocupa a China 

A Bloomberg informou, em maio, que o ímpeto do Conselho de Estado chinês contra as mineradoras de Bitcoin ocorre devido ao aumento do consumo de eletricidade, que é um fator chave no aumento da pegada de carbono em certas partes do país. 

Por outro lado, conforme informou Wolfie Zhao ao jornal The Block, a ambição do estado chinês de alcançar a neutralidade de suas emissões de carbono está por trás de todos estes movimentos. Isto provavelmente levou às ações rápidas observadas nas regiões de carbono de Xinjiang e na Mongólia Interior. 

Xinjiang ordenou aos mineradores de sua zona de desenvolvimento econômico e tecnológico de Zhundong deixem de operar. Na Mongólia Interior, que havia ordenado o fechamento das minas, anunciou uma série de consequências em caso de desobediência. 

Apesar da ambiguidade das informações que vêm da China, é certo que o governo está exercendo uma grande pressão sobre as minas cuja energia vêm do carbono e parece que sua intenção é acabar com elas.

Por outro lado, é certo que, por enquanto, os centros de mineração de BTC das regiões abastecidas por energia hidrelétrica e que cumprem com as normas seguem operando normalmente. 

 Cabe lembrar que, em setembro de 2020, o presidente da China, Xi Jin Ping, anunciou um plano para alcançar zero emissões de carbono em 2060. Devido à repercussão que a criptomoeda teve a nível mundial, parece claro que os movimentos do governo asiático estão mais focados em eliminar a mineração de Bitcoin que usa energia vinda do carbono que simplesmente bater de frente com a criptomoeda. 

O que acontecerá com os mineiros ecológicos da China? 

Apesar de os mineiros de Bitcoin poderem operar em Sichuan durante o verão, a temporada de chuvas termina em outubro. É o momento para que os mineiros possam migrar para o norte, seja para a Mongólia Interior ou para Xinjiang. O que aconteceria se os legisladores responsáveis pelas políticas tornassem ainda mais difícil, senão impossível, migrar para estas províncias?

Ao que parece, um número significativo de mineiros está explorando esta oportunidade para se estabelecerem em outros lugares. Isto poderia acelerar a tendência recente de que a capacidade de hash do Bitcoin deixe a China, um país que historicamente dominou a indústria de mineração. 

A “mineração verde” de Bitcoin é viável? 

O aumento da “mineração verde” é uma tendência que leva tempo. Para os mineiros, o incentivo não é ser mais ou menos ecológico e sim diminuir os custos. O CEO da Blockstream, Adam Back, explicou à CNBC que a energia de menor custo tende a ser renovável porque a queima de combustíveis fósseis implica em custos de extração, refinamento e transporte.. 

 Um informe realizado pelo Lazard Bank em 2020 mostra como as fontes de energia renovável mais comuns são iguais ou mais econômicas que as fontes convencionais, como o carbono e o gás. Ao mesmo tempo, o custo de produção das energias renováveis segue caindo ano após ano. 

Mesmo assim, existem limitações para que a mineração de Bitcoin ocorra exclusivamente com energia renovável. Ainda que as emergias solar e eólica são, agora, as menos custosas do mundo, ambas as fontes de energia enfrentam limitações na hora de operar em grande escala, por isto existe a preocupação sobre a viabilidade de m8nas recorrerem exclusivamente às energias solar e eólica. 

No momento não há capacidade de mineração suficiente no mundo para absorver a diáspora chinesa. Muitas minas lutam para encontrar um novo lugar e é muito provável que a taxa de hash do Bitcoin seja afetada. Mas, por outro lado, ter uma maior dispersão geográfica mais igualaria o equilíbrio mundial de poder e também reduziria a capacidade de qualquer nação soberana de sabotar o controle da rede.

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