Relatório de Economia Bancária do Banco Central do Brasil destaca que tokenização da economia é inevitável

Banco Central do Brasil reafirma potencial da tokenização para justificar emissão do Real Digital

O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira (06/06) o Relatório de Economia Bancária e nele voltou a destacar o potencial da tokenização para impulsionar o sistema financeiro nacional.

De acordo com o relatório, as plataformas das moedas digitais emitidas por bancos centrais (CBDC) permitem a incorporação de novas tecnologias e novos modelos de negócios com
potencial para atender à demanda da população por meios nativamente digitais de liquidação, similares aos disponíveis no ecossistema de criptoativos.

O Banco Central destaca que uma tendência, favorecida pelas tecnologias que dão suporte ao ecossistema de criptoativos, é a tokenização de ativos que tem o potencial de gerar ganhos concretos em acessibilidade a ativos e promover maior eficiência em suas transações. Diante disso o BC lista 4 benefícios.

  1. Maior programabilidade, oferecendo novas formas de automação;
  2. Liquidação atômica, em que a troca automatizada e condicionada entre tokens reduz os riscos da contraparte;
  3. Registros descentralizados que quebram silos informacionais; 
  4. A possibilidade de registro de ativos de diferentes naturezas em um mesmo ambiente (registro multiativos), facilitando as negociações e ampliando a liquidez dos mercados.

Frente a estes beneficios o BC destaca no relatório que dada a inexistência de moeda do BC que seja compatível com as operações em ambientes de blockchain, os participantes do mercado vêm usando moedas digitais de emissão privada que não estão sujeitas a uma regulação adequada, as chamadas stablecoins para a liquidação financeira de transações envolvendo ativos tokenizada.

Ainda segundo o BC, na ausência de uma infraestrutura que opere de forma nativa com a moeda do BC em formato digital, essas transações com stablecoins privadas estão expostas a riscos privados, o que pode comprometer a estabilidade financeira.

“A existência de uma infraestrutura regulada compatível com as transações com ativos tokenizados, na qual a moeda de liquidação é uma versão digital da moeda oficial, disponibiliza um ambiente propício para a proposição de inovações pelos diversos agentes do mercado”, afirma o BC justificando a criação do Real Digital.

Real Digital

No documento o BC aborada ainda o modelo (de atacado) adotado para o Real Digital. Segundo a instituição o Pix já funciona como uma moeda digital de varejo para liquidações instantâneas e sem custo.

“Portanto, os estudos para a implantação da moeda soberana digital brasileira, o Real Digital, precisaram considerar as possibilidades trazidas pelas tecnologias de moedas digitais para aplicações que vão além dos serviços de pagamento”, disse.

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Deste modo o BC justifica o modelo do Real Digital apontando que o regulador buscou desenhar um sistema financeiro mais aberto, que favoreça a incorporação de novas tecnologias e a oferta de novos serviços para uma parcela mais ampla da população.

No relatório o BC também avalia os riscos de emissão de um CBDC e cita que apesar dos potenciais positivos, a possibilidade de desintermediação financeira é uma questão que preocupa todos os bancos centrais que têm avaliado a adoção dessa tecnologia.

“As discussões do BC com a sociedade têm colaborado para consolidar a visão de que, para se atingir os principais objetivos da implantação do Real Digital, é importante manter os mecanismos de intermediação financeira e a capacidade de alavancagem e de geração de crédito do sistema bancário. Por outro lado, os experimentos e testes desenvolvidos até o momento apontam que os serviços de pagamento e liquidação nesse ambiente não necessitam ser providos exclusivamente pela moeda do BC”, afirmou.

Assim, segundo o BC, de modo a oferecer serviços de varejo em um ambiente digital, o Banco Central optou por utilizar moedas digitais emitidas por agentes autorizados pelo BC, desde que essas sejam bem reguladas, seguras e tenham ampla aceitação pela população.

“Nesse sentido, optou-se pelo emprego de versões tokenizadas de depósitos à vista em bancos e cooperativas e de contas de pagamentos mantidas em IPs, já que esses instrumentos
apresentam todas essas características desejáveis”, justificou.

O BC destaca também que a transição para uma economia digital na qual tokens têm um papel preponderante tem se acelerado e que cabe ao regulador traçar o curso de ações para que essa transição ocorra da forma mais ordenada possível, sem comprometimento da estabilidade financeira.

“Nesse contexto, por meio da iniciativa do Real Digital, o BC vem se aproximando desse novo ambiente, que apresenta grandes potenciais e desafios. Para poder disseminar os benefícios dessas novas tecnologias, o BC terá que acompanhar as mudanças em curso na economia.

Em nossa estrutura, novos sistemas precisarão ser implementados e novos processos e uma nova cultura organizacional precisarão ser criados – ajustando, entre outros, os arcabouços regulatórios e os modelos de supervisão.

Cabe, portanto, ao BC propiciar um ambiente seguro para a geração de novos negócios, ao mesmo tempo em que promove o acesso aos benefícios da digitalização da economia a uma base maior de cidadãos e empreendedores”, finaliza o Banco Cenral

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