Casos de uso da blockchain

Dentre as oito referências do whitepaper do Bitcoin, três delas levam os nomes de Stuart Haber e W. Scott Stornetta. Dentre elas está o artigo How to time-stamp a digital document (Como carimbar datas em um documento digital, em tradução livre) publicado em 1991.

Claramente Haber e Stornetta estavam adiantados no tempo, o slide abaixo é de uma apresentação de 1993, onde eles apresentam casos de uso do seu sistema de integridade de documentos, incluindo registros de auditoria, cartório, laboratório, negociações de bolsas, bem como certificados criptográficos, fotos, transferências de fundos, entre outros.

Slide de uma apresentação de Stornetta e Haber para uma empresa de investimento em 1993, listando as áreas em que seu livro-razão imutável distribuído poderia ser aplicado. Fonte: breakermag
Slide de uma apresentação de Stornetta e Haber para uma empresa de investimento em 1993, listando as áreas em que seu livro-razão imutável distribuído poderia ser aplicado. Fonte: breakermag

A primeira Blockchain

Em 1995 eles criaram seu serviço de timestamping chamado Surety, seu produto principal, o AbsoluteProof tem como objetivo atuar como um selo criptograficamente seguro para documentos digitais. Todos estes selos são enviados para um banco de dados universal que é uma hash-chain, em outra palavra… Blockchain!

Seu modelo de funcionamento é inteligente, a Surety gera o hash de todos selos novos adicionados a cada semana e publica-o no jornal New York Times como um anúncio pequeno, desde 1995! É um jornal que imprime meio milhão de cópias diariamente, então seria preciso criar um jornal falso e imprimir um maior número de cópias para comprometer a segurança desta chain.

O Bitcoin

14 anos depois, surgia o sistema de dinheiro eletrônico ponto-a-ponto, o Bitcoin! A influência de Haber e Stornetta em Satoshi são evidentes, a Surety inclui seus hashs em um jornal, já Satoshi incluiu a manchete de um jornal na coinbase do bloco gênesis, esta noticiava que o chanceler estava à beira de salvar os bancos pela segunda vez.

The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks
The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks

Satoshi precisava de um incentivo para que as pessoas mantivessem uma cópia do Bitcoin, seu modelo gerou um bom marketing, começando pelo fato de se tratar de dinheiro, então à relação com a mineração de ouro, e também o modelo desinflacionário, no qual as recompensas por bloco são reduzidas pela metade a cada 210.000 blocos. Embora o BTC não tivesse valor na época, o atrativo foi bom a ponto de manter o Bitcoin vivo e seguro.

“Você escreve sobre sexo ou dinheiro se quiser atrair atenção imediata” Stornetta

Com o passar do tempo, o bitcoin começou a ganhar valor, 5005 BTC foram vendidos por 5,02 USD, então cada BTC valia ~0,001 USD, logo passou a valer 0,39 USD, após isso tivemos um marco histórico, 1 bitcoin valia o mesmo que 1 dólar e desde então o preço continua subindo. Veja aqui o histórico de preço do Bitcoin.

Tal efeito atraiu muitos especuladores e ainda é o principal atrativo para o público em geral, que utiliza-o como ativo de especulação, e não como meio de pagamento. Um dos mistérios sobre Satoshi é sua identidade, outro maior ainda é o seu sumiço, afinal estima-se que ele possua 1 milhão de bitcoins, equivalente a 36 bilhões de reais na data desta redação, o que o torna uma das pessoas mais ricas do mundo. Pela falta de movimentação de tais bitcoins, ou Satoshi é a pessoa mais zen do mundo ou está morto… Ou está preso, ou derreteu seu HD no microondas, ou… Bom, as teorias são muitas.

O Bitcoin atraiu olhares e dinheiro, as mentes mais curiosas começaram a criar projetos baseados no modelo do Bitcoin, o mais notável em relação a casos de uso é o Ethereum.

Proposto em 2013 por Vitalik e lançado em julho de 2015, o Ethereum não surgiu como um concorrente direto do Bitcoin (embora seja), e sim como um supercomputador global, uma plataforma para aplicativos descentralizados. Além disso, Vitalik também se inspirou em Nick Szabo e deu vida aos contratos inteligentes.

Com a possibilidade da criação de tokens em uma blockchain de forma simples e barata, muitos projetos em diferentes áreas começaram a aparecer, um token pode representar diferentes classes de ativos, como vamos explorar a seguir nos casos de uso.

Cassinos

Neste caso, um token pode ter duas funções: Servir como as fichas do cassino, para você fazer uma aposta, você precisa comprar este token, bem como receberá este token como prêmio. Servir como as ações do cassino, ou seja, quem possui tal token tem direito aos lucros da casa.

Além dos tokens, o cassino pode rodar em um contrato inteligente que utilizará o hash das transações da blockchain para gerar resultados em eventos.

Neste caso mostramos vários pontos positivos desta tecnologia, ela é transparente, você pode auditar os resultados. Você pode ser um acionista de uma empresa, de forma anônima. Não há nenhuma forma de restrição de um jogador.

Colecionáveis

Além dos jogos, a possibilidade de criação de ativos infungíveis causou uma febre na comunidade, que passou a colecionar gatinhos virtuais, tamanho sucesso causou transtornos a Vitalik, já que o Ethereum não aguentou tantas transações por segundo em sua rede.

Exchanges descentralizadas

Outro marco importante, neste caso de uso, qualquer pessoa pode comprar e vender tokens sem a necessidade de um intermediário, o que aumenta a transparência e a segurança.

Registro de documentos, assinatura digital

Tais projetos de cartório virtual e áreas similares não necessariamente utilizam o Ethereum para gravar seus registros, a brasileira Original My utiliza a blockchain do Bitcoin por exemplo. Note que as ideias de Harber e Stornetta de 18 anos atrás estão vivas como nunca.

Recentemente o governo anunciou a transferência da base de dados do CPF para a blockchain.

Direitos autorais

Não apenas o registro de uma obra na blockchain, alguns artistas já se tokenizaram, ou seja, você pode comprar parte dos direitos autorais de músicas. Bem como algumas plataformas de streaming estão focadas na distribuição mais justa da renda gerada para tais artitas/shareholders. São vários projetos atuantes neste setor, com o apoio de fortes nomes da indústria.

Crowdfundings – Financiamento coletivo

Talvez o caso de uso mais conhecido e utilizado, os crowdfundings, também conhecidos por ICO, ITO, STO, DAICO, tiveram seu ápice em 2017. É uma via de duas mãos que funciona bem para os dois lados, você pode angariar fundos ou investir em um projeto, de forma fácil e transparente. Os fundos podem ser facilmente auditados, bem como o total de tokens, quem são(pseudônimos) os shareholders, etc.

Tokens atrelados

Um token pode ser atrelado ao valor de outro ativo, como o dólar, ouro ou até mesmo outra criptomoeda. Um dos tokens atrelados ao valor do dólar mais famosos é o USDC, para cada token existente na blockchain, há 1 dólar na reserva, isto facilita o envio de moeda fiduciária, tornando-a quase instantânea e com taxas baixas.

Rastreamento de produção

Este é um ótimo caso de uso que se expande para vários setores, comida, remédios, pedras preciosas, vestuário… Basicamente tudo! Devido a sua transparência e imutabilidade, você poderá saber a origem de um item, se ele é original, sua data de fabricação com total segurança de que os dados não foram adulterados. Uma grande empresa que está apostando no setor é a IBM.

Redes sociais

O Facebook não respeita a privacidade de seus usuários? Vende seus dados? Há outras opções descentralizadas já existentes, como a Steemit onde você pode monetizar seu conteúdo, Indorse que funciona como o LinkedIn, entre outras. Há cinco anos dois brasileiros criaram uma plataforma de microblogging P2P descentralizado, o Twister.

Governança descentralizada

A Politeia da deCRED é bem conhecida no Brasil, as tomadas de decisão sobre o futuro do protocolo, nela qualquer pessoa pode enviar uma proposta que então será votada pela comunidade através do uso de DCR.

Registro de terra

Hoje nada impede que um governo corrupto tome as suas terras, visando isso alguns projetos surgiram para registrar terrenos na blockchain utilizando imagens de satélite.

Embora Haber e Stornetta tenham surgido com o protótipo de Livro-Razão Imutável Distribuído (DLT), também conhecido como blockchain, há 18 anos, foi a ascensão do Bitcoin que acelerou o desenvolvimento do setor ao tornar-se um caso de uso muito útil, um dinheiro não-governamental, resistente à censura.

Além dele, o Ethereum também causou uma disrupção no setor, trazendo muitos projetos a vida. Tornando setores muito mais seguros e transparentes.

Tal atividade chamou a atenção de grandes empresas, bancos e governos, que hoje estão trabalhando em suas próprias blockchains privadas, apesar de permissionadas, centralizadas, e não usarem uma criptomoeda como combustível, elas podem ajudar na redução de custos e segurança.

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