Conheça os candidatos que lideram investimentos em criptomoedas no Brasil e saiba se eles foram eleitos
Candidato derrotado a uma vaga à câmara estadual do Pará, Ailson da Trindade declarou à Justiça Eleitoral o maior patrimônio em criptomoedas entre todos os candidatos que disputaram a eleição deste ano – R$ 39,5 milhões – e ostenta uma condenação por estelionato no TJ-PA.
Assunto que esteve em evidência no Congresso desde o ano passado, as criptomoedas ainda representam uma quantia ínfima do patrimônio declarado por políticos brasileiros que concorreram a algum cargo eletivo nas eleições realizadas no domingo, 2 de outubro. Os três candidatos que dizem possuir mais de R$ 1 milhão em criptoativos não utilizaram os ativos digitais como bandeira de campanha e não foram eleitos.
Aproximadamente 0,2% dos mais de 25 mil candidatos registrados na justiça eleitoral para a disputa de algum cargo eletivo declararam possuir investimentos em criptoativos. Sendo que apenas os três primeiros concentram a maior parte das aplicações. Juntos, somam um total de R$ 51,5 milhões.
Fizemos um site pra conferir quais candidatos são adeptos a #cripto.
~0.2% (dos mais de 25.000) declararam ter criptomoedas.
Só 5 têm mais de R$500k em moedas mágicas da internet.
E os 3 primeiros têm mais de R$ 50 MILHÕES juntos.
Confira o ranking -> https://t.co/qUhrD6fPmq pic.twitter.com/ZBDOM1k8wI
— Paradigma Education (@ParadigmaEdu) October 2, 2022
As informações foram disponibilizadas pela casa de pesquisa de criptomoedas brasileira Paradigma Education e podem ser acessadas através do site candidatos.org.
Ailson da Trindade (PP)
Líder absoluto no quesito investimentos em criptomoedas, o candidato a deputado estadual pelo Pará, Ailson da Trindade (PP), declarou à justiça eleitoral um patrimônio de R$ 39,5 milhões. Ainda assim, trata-se de apenas uma fração do patrimônio total de R$ 448 milhões declarado por Trindade.
Em agosto deste ano, uma reportagem do portal UOL revelou que Ailson foi condenado por estelionato pelo TJ-PA (Tribunal de Justiça do Estado do Pará), em uma ação movida pelo Ministério Público. Nos autos do processo, Ailson consta como réu por nunca ter sido encontrado pela Justiça.
Segundo o TJ-PA, “o processo encontra-se pendente de trânsito em julgado, pois, até o momento, o paradeiro do réu era desconhecido para fins de intimação pessoal da sentença condenatória, considerando que só agora, com o registro da candidatura, é que será possível verificar o seu endereço correto”.
O crime de estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal Brasileiro, é caracterizado pela “obtenção, para si ou para outrem, de vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”. A pena é de reclusão e multa.
Ailson é citado em processos na Comarca de Cametá, município localizado a 143 quilômetros de Belém. Ele é acusado de aplicar golpes para facilitar a liberação de empréstimos junto à Caixa Econômica Federal no valor de até R$ 12 mil para beneficiários do Bolsa Família (hoje Auxílio Brasil), por meio da Faccepa (Federação das Associações das Cidades e Comunidades do Estado do Pará), da qual ele seria o presidente.
Chama atenção o crescimento do patrimônio de Ailson nos últimos dez anos. Em sua primeira declaração de bens à justiça eleitoral, Ailson revelou um patrimônio de R$ 15 mil. Ou seja, desde então houve um crescimento exponencial de aproximadamente 29 mil vezes em relação aos atuais R$ 448 milhões.
Recentemente, Ailson ganhou notoriedade ao se tornar peça-chave da denúncia que derrubou Milton Ribeiro do ministério da Educação do governo de Jair Bolsonaro (PL). Em setembro, Ailson declarou à reportagem do Estadão que o então ministro autorizou a tratativa com os pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura, dois integrantes do gabinete paralelo do MEC na gestão de Ribeiro.
Segundo Ailson, os dois pastores propuseram a assinatura de um contrato fictício para autorizar a reforma de igrejas em troca de uma propina de R$ 5 milhões. Na ocasião, Ribeiro negou as acusações.
Na eleição de ontem, Ailson recebeu 191 votos, número insuficiente para lhe garantir uma vaga de deputado estadual no Pará.
Rico Basano (MDB)
Henrique de Almeida Basano, mais conhecido como Rico Basano, concorreu a uma vaga para deputado estadual em São Paulo pelo MDB e também não foi eleito. O instrutor de equitação formado em publicidade conquistou apenas 1.213 votos. Em sua declaração, Rico declarou um patrimônio de R$ 10,6 milhões em criptomoedas.
De acordo com o perfil apresentado em seu site oficial, Rico iniciou-se na política em 2000, com foco na área de marketing. Em paralelo ao trabalho em seu instituto dedicado ao hipismo, Rico se manteve próximo do ambiente político de São José dos Campos, interior de São Paulo.
Em 2019, tornou-se chefe de gabinete na assembleia legislativa do Estado de São Paulo e no ano passado atuou como assessor parlamentar na Câmara Municipal de São José dos Campos. Este ano, resolveu concorrer ao seu primeiro cargo eletivo, mas não obteve sucesso.
Roberto Sales
Com investimentos declarados de R$ 1,4 milhões em criptomoedas, o atual deputado federal Roberto Sales (PSD) concorreu a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) e também não foi eleito. Apuradas as urnas, Sales contabilizou 2.959 votos e ficará sem cargo a partir de 31 de dezembro.
Sales tem como reduto eleitoral São Gonçalo, município localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro e em seus mais de três anos no Congresso não teve participação efetiva nos debates sobre o marco regulatório das criptomoedas no Brasil. A grande maioria das proposições em que figura como relator tiveram como foco a atividade pesqueira.
Curiosidades
O partido que possui o maior número de candidatos que declarou ter parte do seu patrimônio em criptomoedas foi o Novo. Onze candidatos do partido de tendência liberal disseram ter investimentos em criptomoedas.
Entre os nomes mais conhecidos do grande público, destacam-se dois candidatos. Primeiramente, o representante do MBL (Movimento Brasil Livre) Kim Kataguiri (União Brasil). Reeleito deputado federal, Kataguiri já manifestou-se abertamente sobre criptoativos em mais de uma ocasião, inclusive assumindo-se como investidor. Sua posição a respeito do tema no Congresso caracteriza-se pela contestação às propostas de regulação do setor, sob o argumento de que vão constituir obstáculos à inovação e ao livre mercado.
Em sua declaração, Kataguiri diz possuir R$ 40.968,77 em criptomoedas, o que equivale a aproximadamente 0,4044 BTC na cotação de hoje.
O segundo é Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Primeiro descendente direto da família imperial a ocupar um cargo eletivo, Luiz Phillipe chegou a ser cogitado para ocupar o cargo de vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, mas acabou concorrendo a uma vaga no legislativo, tendo sido eleito Deputado Federal por São Paulo. Em 2022, Luiz Phillipe concorreu à reeleição e ganhou o apoio do eleitorado para cumprir sua segunda legislatura reforçando a base governista na Câmara.
Em 2019, Luiz Phillipe manifestou-se contrariamente à instituição de um marco regulatório para as criptomoedas no Brasil ao afirmar que “a boa regulamentação é aquela que vem da demanda do consumidor de algo pelo qual se sentiu lesado e solicita proteção do Estado.” Não havendo demanda popular, trata-se de “interferência indevida do Estado”, disse ele na ocasião, questionando ainda “a quem interessaria tais regras?”
No entanto, apenas em março de 2022, o herdeiro da realeza portuguesa revelou possuir Bitcoin (BTC). Foi durante uma live transmitida em seu canal no Youtube, na qual reafirmou suas reservas quanto à regulação conforme o projeto de lei em tramitação no Congresso.
Em sua declaração à justiça eleitoral, Luiz Phillipe afirma ter R$ 10.750 em criptomoedas. Aproximadamente o,1061 BTC na cotação de hoje.
A esquerda e as criptomoedas
Apenas dois candidatos do espectro político alinhado à esquerda declararam possuir parte do seu patrimônio em criptomoedas. O candidato a Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) da Paraíba, Marcos Henriques e Silva disse possuir R$ 50.000 em ativos digitais. Apesar de ter recebido 12.449 votos, Marcos não foi eleito.
A outra foi a candidata a vice na chapa do Partido Comunista Brasileiro (PCB) ao governo do estado de Minas Gerais, Tuani Guimarães de Ávila Augusto. A chapa encabeçada por Renata Regina recebeu 12.514 votos, terminando na oitava colocação.
Em sua declaração, Tuani disse possuir R$ 3.031 em criptoativos em uma conta na exchange de criptomoedas Binance.
Espera-se que a Câmara dos Deputados encaminhe a votação e aprove o PL 4401/2021, que estabelece um marco regulatório das criptomoedas no Brasil, ainda este ano, antes do início da nova legislatura.
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