Canadá, Rússia, Ucrânia e a neutralidade do mercado cripto

Criptos servem a gregos e troianos

Na ‘Crypto Given Tuesday’ de 2021, uma campanha anual coordenada pelo The Giving Block (plataforma de doação em criptomoedas e de arrecadação de fundos para indivíduos e organizações sem fins lucrativos, com sede em Washington, Estados Unidos) recebeu de doadores, em um único dia, mais de US$ 2,4 milhões em cripto destinados a organizações sem fins lucrativos, quebrando o recorde do ano passado com um aumento de 583% em relação ao ano anterior.

No começo de janeiro de 2022, caminhoneiros canadenses bloquearam todas as pontes e os postos de fronteira em várias províncias, num protesto contra as restrições de viagens internacionais impostas pelo governo do Canadá, que exige que todos sejam vacinados contra a COVID-19.

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Como o ‘The Ontario Provincial Police’ e o ‘Royal Canadian Mounted Police’ ordenaram que todas as empresas financeiras regulamentadas impedissem quaisquer doações para o financiamento dos protestos, os simpatizantes à causa dos caminhoneiros passaram a realizar doações via criptomoedas em apoio, como forma de contornar a Lei de Emergência invocada pelo Primeiro Ministro canadense Justin Trudeau.

Na última quinta-feira (24), todos nós assistimos estarrecidos a invasão da Ucrânia pela Rússia, e a imposição de sanções econômicas impostas pelos países integrantes da OTAN.

Um dos primeiros a se manifestar sobre o episódio foi Vitalik Buterin. O cofundador do blockchain Ethereum, nascido na Rússia, fez críticas diretas em sua conta no Twitter ao presidente russo Vladimir Putin, ressalvando, ao final, a neutralidade do mercado cripto:

“Muito chateado com a decisão de Putin de abandonar a possibilidade de uma solução pacífica para a disputa com a Ucrânia e ir para a guerra. Este é um crime contra o povo ucraniano e russo. Quero desejar segurança a todos, embora saiba que não haverá segurança. Glória à Ucrânia.”

E:

”O Ethereum é neutro, mas eu não sou”.

E é esta neutralidade, destacada por Vitalik, que é o mais interessante em todos estes diferentes episódios narrados nos parágrafos anteriores.

No caso da invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo, observe que as criptomoedas podem ser usadas tanto pelos oligarcas bilionários próximos a Vladimir Putin para tentar bloquear os efeitos das referidas sanções, como pelos simpatizantes à Ucrânia que desejam apoiar as forças armadas ucranianas. Até hoje, grupos pró-Ucranianos receberam mais de US$ 4 milhões em cripto, de acordo com os últimos dados da empresa de análise de dados blockchain the Elliptic.

Isto é, a natureza descentralizada das criptomoedas, como bitcoin e ether, permite tanto aos governos quanto às entidades não governamentais o benefício de transações peer-to-peer – independentemente de estarem ou não ligadas aos serviços bancários tradicionais.

Como bem lembrou o gerente de investimentos da VanEck, Matthew Sigel: “Nem ditadores nem ativistas de direitos humanos encontrarão nenhum censor na rede Bitcoin”.

Daí porque criptomoedas agradam a gregos e troianos, mesmo os grupos ou pessoas com ideias divergentes, inclusive aquelas que são rivais.

Criptomoedas são neutras. Elas não tomam partido, nem escolhem uma posição. Elas foram criadas para dar liberdade às pessoas, apoiando e ajudando não importa a quem ou para quê.

De onde vem a neutralidade das criptomoedas

Para compreendermos a neutralidade das criptomoedas, é necessário entender o que é e como surgiu o Bitcoin. Então, vamos voltar no tempo e começar do começo.

Satoshi Nakamoto é o pseudônimo da pessoa que criou o Bitcoin. Ninguém tem ideia de quem é, ou era Satoshi Nakamoto; se Satoshi está vivo ou não; se é uma pessoa, duas, ou mais pessoa. Sejam dez pessoas, homens ou mulheres, ou ambos em um grupo, quem sabe?

Enfim, não sabemos se Satoshi é, ou era, uma pessoa boa ou má. Só podemos dizer que Satoshi Nakamoto, independente de sua identidade, tinha conhecimentos de ciência da computação, criptografia, economia, política e Direito, software de código aberto, princípios matemáticos, teoria dos jogos e teoria monetária, e segurança de ativos físicos e digitais.

E na verdade, não importa quem seja Satoshi Nakamoto, porque ele não controla a rede Bitcoin.

Bitcoin é software, entre outras coisas.

Qualquer um pode baixar pode baixar o software que roda o bitcoin, e executá-lo em seu computador, seja um laptop, seja um desktop. De preferência, em um computador que esteja permanentemente conectado à internet.

O software do bitcoin agora usa bastante de memória RAM e ocupa razoável espaço em disco. Mas, em 2009, quando o Bitcoin começou a funcionar, o software era muito leve. E se você executar este programa de computador na Internet, ele se conectará a outras pessoas que também estão executando este programa, apesar de você não saber quem são estas pessoas.

O software do Bitcoin não escolhe computadores, pessoas ou localização. Ele cria uma rede aleatória, que chamamos de rede ponto a ponto (P2P), onde todos os participantes do sistema são iguais.

Não existe um computador central ou especial que coordena o software do Bitcoin. Os computadores que executam o software estão apenas conversando entre si e criam uma rede.

Então, o software aleatoriamente se conecta a vários outros computadores executando o software Bitcoin e juntos eles criam uma rede, e essa rede é usada para trocar e propagar transações. Tais transações são codificadas em formato digital, e contém informações sobre a transferência de valor e a autorização para transferência desse valor entre os participantes da rede bitcoin.

E este é um conceito importante: ninguém controla a rede bitcoin.

Se você executa um desses computadores, você não controla esta rede. Você apenas executa um software através de seu computador que se conecta a outros computadores da rede bitcoin.

Se seu computador executa o software do Bitcoin, ele apenas se conecta com os outros computadores que estão executando o software Bitcoin, mas ninguém está no controle. Ninguém está no comando, assim como quando você executa um computador que se conecta na Internet e, se comunica com outros computadores na Internet.

Possibilidades

Pois bem, a primeira criptomoeda, e que serve de parâmetro para todas as demais criptos, é um sistema completamente independente de uma autoridade central e é completamente independente das instituições. E isto tem impacto na história do dinheiro, na história da confiança, na história das instituições e de corporações.

Pela primeira vez na história da humanidade, um sistema desenvolve relações de confiança como resultado de colaboração, comunicação e computação por meio de criptografia, sem a necessidade de um validador tradicional de confiança como instituições financeiras, organizações, governos.

E é por isto que quando a corte de justiça de Ontario determinou à carteira Nunchuk que congelasse os Bitcoins de seus usuários, recebeu como resposta que “a Nunchunk é provedor de uma carteira Bitcoin de autocustódia. Nós somos um provedor de software, e não um intermediário financeiro de custódia. Nosso software é de livre utilização. Ele possibilita às pessoas eliminarem um ponto único de falha (…)”.

E você, sabia que criptomoedas não tem pátria, partido e ninguém controla a rede onde elas são transacionadas? Sabia que as criptomoedas, além de serem uma nova classe de ativos, precisam apenas de um aplicativo no seu celular para serem transacionadas? E que elas podem ser transacionadas de e para qualquer lugar onde haja internet?

Reflita sobre isto até nosso próximo encontro. Nos vemos, em breve!

O artigo Canadá, Rússia, Ucrânia e a neutralidade do mercado cripto foi visto pela primeira vez em BeInCrypto Brasil.

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