Ethereum pode ultrapassar o Bitcoin? 5 especialistas comentam sobre esta possibilidade

ETH pode ocupar o lugar do BTC como criptoativo que dita as movimentações do mercado, mas ambos continuarão relevantes, avaliam especialistas

Nos relatórios com previsões para 2023, como os documentos publicados pelo MB Research e a Messari, é normal que o Ethereum (ETH) esteja entre as narrativas consideradas fortes. Não apenas o Ethereum, mas todo o seu ecossistema de soluções em Camada 2 também entra no leque de pontos a serem observados.

O fortalecimento do Ethereum faz com que alguns entusiastas avaliem se é possível que o protocolo seja responsável por desencadear a próxima alta das criptomoedas. Geralmente, o mercado cripto responde aos movimentos do Bitcoin (BTC). O que se imagina agora, porém, é se a segunda maior criptomoeda do mercado será a responsável pela próxima alta.

‘Flippening’ é inevitável

O momento em que o Ethereum passará o Bitcoin como ‘liderança’ do mercado cripto é conhecido como ‘flippening’. Para Rony Szuster, analista do MB Research, o flippening é inevitável. Ele acredita, contudo, que o descolamento da ETH do BTC não ocorrerá no próximo ciclo de alta.

“Há uma grande chance de não acontecer, porque temos o halving do Bitcoin previsto para acontecer em 2024, que dividirá por dois as recompensas. Isso reduz bastante a taxa inflacionária do BTC, que ficará em 0,8% ao ano, enquanto a da ETH é de 0,1%”, diz Szuster.

A probabilidade do flippening daqui duas altas, no entanto, é muito maior, acrescenta o analista. O primeiro motivo por trás do otimismo relacionado ao Ethereum é o “The Merge”. O evento, ocorrido em setembro de 2022, concluiu a migração da rede do modelo de consenso por prova de trabalho para prova de participação. “A retirada das recompensas pagas aos mineradores melhorou muito a dinâmica da ETH.”

Além disso, Szuster aponta a atualização Cancun, prevista para ocorrer em 2023, como mais um ponto de fortalecimento do Ethereum que favorecerá o flippening. Ele afirma que a Cancun implementará melhorias na escalabilidade da rede, reduzindo as taxas e fazendo com que mais projetos se juntem ao ecossistema. 

Felipe Escudero, fundador do canal BitNada e do portal BitNotícias, também acredita que o Ethereum se tornará a blockchain mais relevante nos próximos anos. Ele destaca as soluções de Camada 2, em especial as que envolvem provas de conhecimento zero, como é o caso dos zk-rollups, a diminuição das taxas através das atualizações previstas e o ecossistema DeFi.

“Praticamente tudo que está sendo construído hoje em DeFi, Web3 e outras aplicações que usam contratos inteligentes, está sendo feito na biblioteca do Ethereum (EVM). Desta forma, é muito difícil ver alguma outra blockchain se destacar mais do que Ethereum ou suas soluções de Camada 2 nos próximos anos”, diz Escudero.

Bitcoin continuará relevante

Embora existam maximalistas de Ethereum que defendam a queda do Bitcoin ao ostracismo, aderentes da teoria do Flippening não acreditam necessariamente nisso. A tese defendida é de que a ETH se tornará a criptomoeda mais usada devido à sua utilidade. Para esses entusiastas, isso não significa que o Bitcoin não tenha valor.

Um exemplo é João Zecchin, sócio-fundador da gestora Fuse Capital, que também integra a lista de entusiastas que acreditam que o Ethereum ultrapassará o Bitcoin em influência. Ele destaca que o BTC continuará tendo uma importante função no mercado, assim como o ouro assume o cargo de reserva de valor no mercado tradicional. 

“Aqui na Fuse, acreditamos que o desenvolvimento de aplicações para a Web3 dependem de uma rede como o Ethereum”, completa Zecchin.

Morte dos ‘Ethereum Killers’

Zecchin avalia que o “The Merge” teve um papel importante no fortalecimento do Ethereum. Ao contrário do sistema de prova de trabalho, que causa uma venda dos criptoativos pelos mineradores para custear suas operações, o sistema de prova de participação permite que eles mantenham suas criptomoedas. 

Mais importante do que isso, porém, foi a resiliência do Ethereum perante os projetos criados com propósito de serem mais efetivos no que a rede se propõe, os chamados ‘Ethereum Killers’. 

“Você tem outras redes que competem, mas nenhuma possui a descentralização e a resiliência que o Ethereum tem. No ano passado, surgiram mais redes competidoras do Ethereum, como Solana, Avalanche e outras. Mas essa narrativa morreu, e projetos estão migrando de volta para o Ethereum.”

A prevalência da rede nativa da segunda maior criptomoeda em valor de mercado perante seus concorrentes faz com que mais aplicações sejam desenvolvidas sobre ela.

Outro ponto que pode fazer a ETH superar o BTC na posição de “carro-chefe” do mercado é a liquidez, diz João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex. O mercado cripto costuma acompanhar os movimentos do Bitcoin pois, por ser o ativo mais líquido, o fluxo de investimentos entrando e saindo do mercado passa por ele. 

“É possível que o Ethereum, por ser o segundo maior ativo da classe, atraia a atenção dos investidores e venha a ser o vetor de um novo ciclo de valorização dos criptoativos”, completa Cunha. 

Além disso, o gestor da Hashdex também acredita que a atualização Shanghai, prevista para 2023, ajudará a aumentar o interesse no Ethereum. A atualização libera as ETH em staking, criando uma fonte de rendimento adicional que não compromete a liquidez. Isso deve aumentar a demanda por ETH e reacender a demanda por criptoativos, completa Cunha. 

“Isso, porém, só é provável caso os investidores estejam, minimamente, propensos a se posicionar em ativos de risco, o que, por sua vez, depende das condições macroeconômicas das economias desenvolvidas.”

Ainda há um longo caminho

O analista Marcel Pechman não descarta completamente o Flippening. Ele salienta, contudo, que algumas questões fundamentais do Ethereum precisam ser endereçadas. “Para o Ethereum descolar, seria necessário algum evento que resolvesse as grandes questões de centralização, como o provedor de dados Infura e o serviço de staking Lido, além das altas taxas de validação das transações.”

Pechman menciona ainda o sharding, que fragmenta a rede do Ethereum em 64 frações menores, com o objetivo de melhorar sua escalabilidade. “Nem mesmo os desenvolvedores sabem afirmar o que falta para a versão final”, completa.

Por fim, o analista destaca que é necessário um evento muito relevante para favorecer o Ethereum em detrimento do Bitcoin. Tal evento, no entanto, não deve acontecer nos próximos 12 meses, “dado o histórico de atrasos na entrega deste projeto”, conclui Pechman.

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