Iniciativa brasileira democratiza a Web3 para pessoas surdas

Blockdeaf é responsável por criar uma linguagem universal sobre Web3 e disseminar o conhecimento sobre o setor para pessoas surdas

As ações de impacto envolvendo a Web3 têm ganhado tração no Brasil nos últimos meses. Comunidades são aceleradas pela Meta, a Polygon está apoiando uma iniciativa educacional no Complexo do Chapadão e a Ethereum Brasil anunciou um bootcamp para jovens de periferia no Rio de Janeiro.

Uma das iniciativas buscando incluir mais pessoas na Web3 e impacta-las com as novas tecnologias desse setor é a Blockdeaf. O projeto é responsável por criar uma linguagem universal de sinais para ensinar conceitos da Web3 para surdos.

Web3 inclusiva

A Blockdeaf existe desde 2016, e é organizada pela mesma equipe por trás do jogo Cursed Stone, voltado à Web3. O objetivo do projeto é criar acessibilidade para pessoas surdas embarcarem nesse setor, através de uma linguagem universal de sinais que tenha termos das Web3.

O desenvolvedor e responsável pela área de TI da Blockdeaf, Alan Galeiro, conta ao Cointelegraph Brasil que o objetivo do projeto é permitir que pessoas surdas utilizem essas novas tecnologias para participar do futuro. 

“Não queremos dar acessibilidade para que as pessoas apenas consumam produtos da Web3, mas para que elas se tornem criadoras de seus próprios produtos, para atender suas próprias necessidades, e nós nos tornemos consumidores desses produtos. O nosso foco é profissionalizante.”

Galeiro afirma que durante o desenvolvimento do Cursed Stone, a equipe por trás do jogo teve dificuldades em encontrar mão de obra qualificada. A solução foi contratar e formar pessoas para trabalhar no projeto. “Já que tínhamos que preparar as pessoas, por que não preparar pessoas que não têm oportunidades no mundo corporativo tradicional?”

Foi quando a Blockdeaf ganhou tração como um braço do jogo sendo desenvolvido. O desenvolvedor conta que a comunidade do projeto é construída por pessoas surdas para outras pessoas não-ouvintes. “Nós treinamos embaixadores, e eles ensinam as pessoas que fazem parte da comunidade. Achamos muito mais poderoso quando uma pessoa surda se comunica com outra. Iguais falam com iguais.”

Vocabulário próprio

O termo Bitcoin já existe dentro da linguagem de sinais. Outros termos próprios da Web3, porém, ainda não possuíam um equivalente. Por isso, a Blockdeaf convencionou uma linguagem universal com esses termos, para permitir uma comunicação fácil sobre esse setor dentro da comunidade de pessoas surdas.

“Nas palestras existem intérpretes para pessoas surdas. Mas, por exemplo, se for dita a palavra carteira, sem contexto, a pessoa precisará soletrar com as mãos para que os espectadores surdos entendam. Mesmo assim, eles não conseguirão entender que aquela é uma carteira digital, não vão associar a MetaMask ou SafePal”, explica Alan Galeiro.

Além disso, a Blockdeaf também treinou intérpretes para estes eventos, para que o vocabulário de sinais criado pelo projeto seja usado de forma compreensiva para leigos. “Se a pessoa assistindo à palestra não sabe o que é uma carteira, o intérprete rapidamente consegue explicar.”

Mesmo ponto de partida

A Web3 é avaliada por Alan Galeiro como uma “virada tecnológica histórica”. A importância desse momento para a Blockdeaf, diz ele, é a possibilidade de fazer com que as pessoas, surdas ou não, comecem do mesmo ponto de partida. 

“Conversando com uma integrante da nossa comunidade, ela disse que pessoas surdas sempre se sentem atrasadas. Ela disse que quando surge uma nova tecnologia, os surdos só têm acesso quando tudo que poderia ser extraído já foi. O bonde já passou, as oportunidades já passaram. Ela disse que é a primeira vez que sente começar junto com outras pessoas”, conta Galeiro.

Um dos principais pontos positivos da Web3, na visão do desenvolvedor, é a forma como esse ecossistema não se importa com questões tidas como importantes nas relações tradicionais. 

“Tudo é feito pelo Discord, pelo Twitter. Não importa a orientação sexual, o CEP, a cor. O que importa na Web3 é resultado. Para nós, que somos nativos da internet, é normal conversar anos com uma pessoa por escrito, sem nunca ouvir a voz. Em muitos casos, um contratante nem saberia que um programador é surdo.”

Por isso, além de facilitar a comunicação entre surdos sobre a Web3, a Blockdeaf também democratiza o conhecimento para sua comunidade. “Temos professores de temas do mercado cripto que são surdos. Temos mais de 200 horas de vídeo aulas gravadas, ensinando coisas como entrar no OpenSea e analisar uma coleção de NFTs, converter valores em uma exchange, temos aula de tudo.”

Por fim, Galeiro diz que a Blockdeaf está firmando parcerias na América Latina para levar o vocabulário criado para mais países, e levar os membros da comunidade para participar de hackathons. 

Leia mais:

Você pode gostar...