Marketplace de NFTs lançado por cineasta brasileiro promete ser alternativa para produções audiovisuais

Plataforma Kinobaum vai possibilitar comercialização de produções que vão desde cenas de filmes a séries.

A produção e monetização de conteúdo audiovisual em países como o Brasil, apesar dos avanços dos últimos anos, ainda pode ser considerada um planeta distante para pequenos produtores ou postulantes a ingressar neste mercado. O que muitas vezes faz com que o sonho do tapete vermelho, como o concorrido Festival de Cannes, termine pouco depois da pipoca com refrigerante de uma sala de cinema. Tão difícil como produzir pode ser comercializar, uma vez que “os pequenos” quase sempre passam longe das lentes das grandes distribuidoras, a menos que a sorte resolva entrar em cena. 

Além disso, o país passou por mudanças políticas recentes que chegaram ao setor cultural levando muitos artistas e profissionais do audiovisual a deixarem o Brasil. Foi o caso do cineasta, produtor e distribuidor Marcos Seanor, cidadão europeu com ascendência portuguesa e espanhola, que foi embora com a família em 2020. Morando na França, o cineasta brasileiro aproveitou o Marché du Film, o Mercado do Filme de Cannes,  que terminou no último fim de semana, para lançar a plataforma Kinobaum (Árvore de Cinema, em alemão), um marketplace de tokens não fungíveis (NFTs) audiovisuais. Ideia que foi bem recebida pelo roteirista, professor e sócio coordenador dos cursos da Trama B, Pedro Salomão,  em entrevista ao Cointelegraph Brasil

À CNN, Seanor explicou que o  Kinobaum será um marketplace de arquivos de vídeo, direcionado à venda de cenas de filmes, séries, videoclipes musicais, jogadas de futebol, manobras de skatistas e outras produções afins. Obras que, após tokenizadas, poderão ser vendidas por preços fixos ou em leilão. 

O cineasta deu um exemplo de um filme, cujas cenas, takes ou tomadas podem representar NFTs distintos, na forma de uma coleção. Possibilidade que poderá atrair os holders, que são os investidores que compram e não querem se desfazer, e os investidores que enxergam potencial de ganho na revenda de uma determinada produção, o que, neste caso, rende ao produtor da obra 9% de royalties sobre o valor da negociação, cada vez que o criptoativo trocar de mãos, além do ganho da primeira venda, cujo valor é estipulado pelo produtor da obra. 

Marcos Seanor disse ainda que o marketplace representa uma alternativa de financiamento célere, transparente e descentralizada em relação aos tradicionais editais públicos e aos grandes players de estúdios cinematográficos, canais de TV e plataformas de streaming.

Autor da série Miúdo Graúdo (RTP/Endemol Portugal), Pedro Salomão ressaltou a importância do crescimento audiovisual no Brasil a partir do fim da Embrafilme, em 1990, e com a criação de uma agência reguladora, a Ancine, e de mecanismos recentes de fomento direto. 

“Tivemos um aumento expressivo no número de produtoras e disseminamos a prática audiovisual para além do eixo Rio-São Paulo. Isso é sim muito positivo e só foi possível graças a décadas de empenho governamental. Porém, o audiovisual brasileiro ainda depende muito desses mecanismos públicos de financiamento. Qualquer paralisação das atividades impacta seriamente na renda dos profissionais e suas famílias. A compensação disso tem vindo através dos serviços de streaming, que absorve parte da mão de obra e da produção, as notadamente filmes e séries de maior apelo comercial. Somos um mercado consumidor importante, mas sinto que ainda falta uma visão comercial do negócio por parte dos nossos produtores”, disse o roteirista. 

Em relação à proposta de tokenização da produção audiovisual por meio da plataforma NFT, Pedro Salomão enfatizou que a digitalização das obras barateou a produção e ressaltou que novas possibilidades de monetização são importantes para os produtores deste setor. 

“Tecnologicamente falando, o primeiro grande impacto da digitalização foi na produção das obras. Barateou-se um custo significativo que o cinema tinha com a película e a televisão com as fitas magnéticas. Vemos hoje vários filmes produzidos a partir de celulares ganhando visibilidade nos festivais e apresentando ao mercado novos realizadores. As plataformas de vídeo levam o seu curta-metragem imediatamente aos olhos de um público global. Isso era impensável pouco tempo atrás. Resta o desafio de monetizar o conteúdo a ponto de remunerar esses pequenos (e muitas vezes) jovens realizadores. Qualquer mecanismo que sirva de alternativa para a precificação automática dos algoritmos das plataformas será bem-vinda”, completou.

A transformação de obras cinematográficas em NFT não é nova, embora o mercado não contasse com um marketplace direcionado a este segmento. Em 2021, por exemplo, o cineasta canadense David Cronenberg,  diretor de filmes como A Mosca (1986), Crash (1996) e Existenz (1999), lançou  um curta-metragem intitulado “The Death of David Cronenberg”, um vídeo de um minuto, na forma de NFT, mostrando o diretor enfrentando seu próprio cadáver. Mas o pioneiro do gênero “horror corporal” também resolveu inovar ao leiloar um NFT de 18 pedras extraídas de seus rins, cujo lance mínimo era de US$ 30,5 mil, conforme noticiou o Cointelegraph Brasil.

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