Brasileiros debatem regulamentação cripto em evento internacional do Financial Times

Nicole Dyskant comenta sobre o painel “As criptomoedas são uma solução viável para a inclusão financeira na América Latina?”, totalmente composto por brasileiros

Entre os dias 9 e 10 de março, o Financial Times realizou o evento Crypto and Digital Assets Summit. O evento reuniu grandes nomes do mercado de criptomoedas, e a brasileira Nicole Dyskant, advogada especialista em regulação e compliance para ativos digitais, foi uma das palestrantes. Em sua apresentação, Dyskant abordou o cenário regulatório na América Latina, traçando paralelos com outras regiões do mundo.

Diferentes estágios

O painel “As criptomoedas são uma solução viável para a inclusão financeira na América Latina?” contou com a presença de outros dois brasileiros além de Nicole Dyskant: Fernando Carvalho, CEO da QR Capital, e Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central do Brasil.

Ao Cointelegraph Brasil, a advogada conta que comparou os esforços regulatórios realizados na América Latina com outras regiões, como Europa e Estados Unidos. Ela destaca que, embora haja um movimento amplo de regulamentação entre os países latino-americanos, o tema tem se desenvolvido em ritmos diferentes, algo que foi tratado em sua apresentação. 

“Temos visto uma tendência de regulamentação clara na América Latina, com liderança de países como Brasil, México e Chile, que já passaram uma lei regulamentando os prestadores de ativos digitais”, diz Dyskant sobre sua fala no painel. Ao mesmo tempo, a advogada destaca que existem jurisdições como Peru, Argentina e Colômbia, que têm projetos de regulamentar os prestadores de serviço, mas que ainda não foram aprovados.

Além dessas diferenças, Dyskant também comentou no painel sobre as jurisdições menos favoráveis aos ativos digitais na América Latina. “Do outro lado você tem a Bolívia, que baniu as exchanges do país, e o Equador, que avisou a população que criptomoedas não são moedas aceitas. Estamos vendo uma cooperação cada vez maior a nível internacional, mas ainda não dá para falar de uma regulamentação específica para toda a América Latina.”

Potencial para complementar

Durante o painel, foi levantada a hipótese do mercado cripto substituir o sistema financeiro tradicional. Nicole Dyskant disse não acreditar nessa possibilidade. “Acredito que será uma junção, principalmente após a CBDC brasileira, prevista para funcionar no ano que vem. Será muito mais fácil tokenizar a economia, pois ela conversará com o Real Digital, e os balanços dos bancos poderão ser tokenizados.”

Mesmo não acreditando na substituição do mercado tradicional pela economia digital, Dyskant reconhece que há um problema de acesso ao sistema bancário. “É caro, há necessidade de pontuação de crédito. Fiz um contraponto ao posicionamento da maioria [dos painelistas], de que cripto não serão tão utilizadas para inclusão financeira no Brasil, embora eu entenda que existem facilidades para a população acessar exchanges de forma mais fácil do que bancos.”

EUA perdendo espaço

O evento Crypto and Digital Assets Summit foi permeado por conversas envolvendo um esforço de cooperação internacional para a regulamentação do mercado cripto, conta Nicole Dyskant. Ela destaca como positiva a apresentação de representantes do Reino Unido, que quer se tornar um polo para o mercado de criptomoedas.

Além disso, a situação regulatória dos Estados Unidos não passou despercebida, afirma a advogada. “Houve um contraste [entre Reino Unido e EUA] com alguns representantes dos Estados Unidos, mostrando como o país está atrás e está perdendo espaço no mercado. Muitas empresas americanas estão olhando para Europa, Ásia e até mesmo América Latina, que já tem um cenário regulatório melhor”, conclui Dyskant.

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