Brasileiro abandonou renda fixa em 2020, entrou na Bolsa de Valores e foi em busca de novos ativos como o Bitcoin

Investidor brasileiro se protegeu da inflação e de juros baixos na pandemia, entrou na Bolsa de Valores e buscou investimentos de risco como as criptomoedas.

A crise econômica em consequência da pandemia de coronavírus em 2020 levou os investidores brasileiros a mudarem de comportamento para não ver seu patrimônio em prejuízo.

Entre os vários fatores que levaram à mudança de cenário, houve a forte desvalorização do real, o baixo rendimento da poupança, os menores juros da história brasileira, o crescimento da inflação e um cenário de restrições sociais que levou uma grande parte da população – ou pelo o menos quem pode ter acesso a esse privilégio – ao home office.

Por isso, 2020 foi marcado por uma explosão de entrada de investidores individuais na Bolsa de Valores, a busca por mais risco – e mais rendimento – e a diversificação das carteiras de investimento, incluindo a busca por ativos alternativos – como o mais rentável do ano, o Bitcoin (BTC).

Apesar da diversificação, o brasileiro deixou mais dinheiro parado na poupança – já que o auxílio emergencial foi pago em conta-poupança digital e gastos comuns como bares, restaurantes e casas noturnas foram cortados – o que também levou as contas-poupança a baterem um recorde de R$ 1 trilhão no fim do ano e ter captação líquida de R$ 166 bilhões, maior número desde 1995.

Segundo o Valor Investe, o dinheiro para os investimentos de risco saíram de duas fontes principais: fundos de rendimento conservadores que davam pouco retorno e salários que foram se acumulando devido às restrições da quarentena.

Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama, diz que os juros baixíssimos tornaram a decisão pela diversificação mais fácil para os investidores:

“Ficou fácil tomar decisão financeira com o juro de 2% ao ano. Vimos um movimento de investimento direto em ação, crescimento das pessoas se interessando por usar o home broker. É bacana porque nós, como consultores financeiros, nos acostumamos a ver os investidores fugirem de renda variável na baixa, com medo. E em meio a uma pandemia vimos o movimento contrário, de pessoas entrando”.

Enquanto investidores estrangeiros deixaram o Brasil devido às crises política e econômica, com um déficit de R$ 31 bilhões, o investidor pessoa física levou R$ 51 bilhões em novos aportes à Bolsa de Valores.

Na Bolsa de Valores do Brasil, a B3, o número de CPFs cadastrados passou de 1,68 milhão em 2019 para 3,23 milhões no fim de 2020. O saldo investido por pessoas físicas cresceu 32% no período, passando de R$ 342 milhões para R$ 452 milhões.

Segundo dados da B3, o perfil dos novos investidores é jovem (média de 32 anos), sem filhos (60%), com renda mensal de até R$5 mil (56%) e com trabalho em tempo integral (62%). O crescimento das mulheres, embora sejam ainda grande minoria, também chamou atenção, saltando de 179 mil em 2019 para 809 mil em 2020.

O presidente da XP, Guilherme Benchimol, diz que a Selic fez com que os investidores brasileiros, historicamente cautelosos, abandonassem a renda fixa, onde estavam perdendo dinheiro, e os empurrou para a Bolsa:

“Quando chega no juro de 2% ao ano é natural as pessoas pensarem a longo prazo, diversificarem, assumirem mais risco. A gente está começando esse processo, algo que, quando pensamos em economia mais desenvolvidas, como nos Estados Unidos, a cultura de assumir risco e investir em ações é muito consolidada. Temos ainda aproximadamente 3 milhões de pessoas que investem na bolsa, é muito pouco

O publicitário Sérgio (nome fictício a pedido da fonte) foi ao mercado de criptomoedas em busca de proteção econômica e rendimento, depois de um de seus fundos de investimento despencar até 50% em um mês. Ele diz que optou por ativos atrelados ao dólar:

“Coloquei cerca de metade do dinheiro das vendas das criptos em fundos internacionais de risco alto em dólar, como os de empresas ligadas a ciências médicas e tecnologia e os outros 50% em fundos mais conservadores de renda fixa, pois também quis deixar uma boa parte em algo mais tranquilo, depois de vir da montanha russa das criptos”

O crescimento do mercado cripto se reflete nos números da Receita Federal. Em agosto de 2019, R$ 4,03 bilhões foram declarados investidos em criptomoedas em exchanges nacionais e estrangeiras. Já em novembro de 2020, o volume havia mais que dobrado, chegando a R$ 9,09 bilhões, crescimento de 35% em comparação com dezembro de 2019. Em novembro do ano passado, já eram 164.025 brasileiros que declararam fundos em criptomoedas à Receita, 74% mais do que dezembro de 2019.

O investimento em fundos brasileiros de criptomoedas regulados pela CVM também chamaram atenção. Já são 15 fundos de empresas brasileiras, com três deles, o Hashdex Criptoativos Voyager FIM IE, o BLP Crypto Assets FIM IE e o Hashdex Criptoativos Explorer FIC FIM, foram classificados respectivamente como o primeiro, segundo e terceiro fundos mais rentáveis do Brasil.

Como noticiou o Cointelegraph Brasil, o fundo da Hashdex teve 244,17% de rendimento, seguido pelo da BLP 147,86% e, depois, novamente aparece a Hashdex, com outro fundo da empresa, apresentando 70,82% de rentabilidade.

As exchanges também viram cerca de 351.204 Bitcoins serem negociados no país, o equivalente a mais de R$ 53 trilhões, segundo dados do CoinTraderMonitor. O crescimento exponencial da criptomoeda, que subiu 420% nos 12 meses de 2020, também trouxe mais investidores ao Bitcoin, que atraiu atenção da mídia tradicional ao superar – e dobrar – seu recorde histórico de US$ 20.000 no fim de dezembro. Hoje, a moeda é negociada a R$ 171.297.

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