‘Crise global é uma oportunidade para o Brasil e o papel das criptomoedas será insignificante no futuro’, diz prêmio Nobel Paul Krugman

Autossuficiência energética e produção de commodities são vantagens competitivas para o Brasil diante de um cenário geopolítico instável e da crise econômica global, afirmou o economista norte-americano durante participação na Febraban Tech.

O economista norte-americano vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2008 Paul Krugman afirmou que o Brasil encontra-se em uma posição privilegiada para encarar a crise econômica global que deverá se aprofundar nos próximos meses diante dos fortes indicadores de que os EUA e a Europa devem enfrentar um período de recessão. A declaração foi dada durante um painel da Febraban Tech, conferência sobre tecnologia e inovação no setor financeiro, que acontece em São Paulo, de 9 a 11 de agosto.

A autossuficiência de suas matrizes energéticas e a produção de commodities para exportação contribuem podem minimizar determinadas pressões inflacionárias, enquanto o aumento dos preços das matérias-primas no mercado internacional pode beneficiar a economia brasileira, afirmou o economista.

A alta do dólar, por sua vez, é uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo que favorece os exportadores, pressiona o restante da economia. Como todas as economias periféricas, o Brasil é altamente dependente de importações e o dólar tem um peso determinante sobre a dinâmica interna de produção e consumo do país.

As similaridades entre a economia brasileira e a ucraniana fazem com que o Brasil não sofra diretamente os impactos econômicos da invasão russa ao vizinho do leste europeu, segundo Krugman, e ainda abrem oportunidades que precisam ser exploradas pelos produtores brasileiros.

“O Brasil é um dos emergentes menos vulneráveis em um cenário de crise global, apesar dos problemas domésticos que enfrenta”, afirmou. Embora não tenha sido explícito, Krugman sugeriu que as recorrentes ameaças ao processo democrático podem conter o avanço do país na esfera econômica.

“Nada dá certo se não houver estabilidade política e garantias ao estado de direito”, disse Krugman, acrescentando que é possível traçar “paralelos óbvios” entre as ameaças à democracia no Brasil e nos EUA patrocinadas por Jair Bolsonaro (PL) e a cúpula militar que compõem os altos escalões do seu governo no Brasil, e por Donald Trump e a direita radical nos EUA.

Economia dos EUA

Krugman afirmou que os EUA ainda não entraram em recessão. Apesar de os dois últimos trimestres terem registrado retração da atividade econômica, o mercado de trabalho mantém-se forte. No entanto, parece inevitável que a desaceleração econômica dos EUA se aprofunde nos próximos meses, pois o Fed (Banco Central) precisará manter o aperto monetário, aumentando a taxa de juros e reduzindo o seu balanço de pagamentos.

Conter a inflação é um imperativo para o Banco Central dos EUA, disse o economista. A queda do CPI (Índice de Preços ao Consumidor dos EUA) anualizado em julho, de 9,1% para 8,5% ainda é insuficiente, segundo Krugman. “O Fed pode perder sua credibilidade se não conseguir reduzir a inflação à meta de 2%”, afirmou.

A política monetária restritiva do Fed deve provocar uma crise na economia global, especialmente porque a economia europeia, hoje, está bastante fragilizada em função do embargo à Rússia, disse:

“A Europa cometeu um grande erro, que foi depender demais do gás russo. Os preços explodiram. Muita gente esperava que a Europa adotasse sanções contra a Rússia, mas é a Rússia que está impondo uma espécie de embargo no fornecimento de gás à Europa para minar as resistências contra a invasão da Ucrânia.”

Terceiro pilar da economia global, a China enfrenta problemas domésticos que comprometem o seu crescimento no curto e médio prazo, afirmou:

“A China, com sua importância global em termos de crescimento [econômico], também não está indo muito bem. A política de tolerância zero com a Covid enfraqueceu a economia.”

Sem perspectivas de fim para o conflito no leste europeu, a crise é inevitável. Nada que se assemelhe à severidade da crise de 2008, diz Krugman, “porque [agora] não há disrupção financeira.”

Insignificância das criptomoedas

Crítico contundente do Bitcoin (BTC), Krugman afirmou também que as criptomoedas não têm potencial para apresentarem-se como uma alternativa viável ao atual sistema financeiro. “O Bitcoin já não é um tema tão novo assim no mercado, tendo surgido após a crise financeira de 2008, e, até hoje, ainda não há um uso significativo da criptomoeda para relações comerciais”, acrescentando que as criptomoedas não constituem uma ameaça às moedas oficiais emitidas por bancos centrais.

Enquanto isso, diversos países vêm desenvolvendo projetos de criação de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs), incluindo o Brasil. Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, o Banco Central prometeu iniciar os testes do Real Digital ainda este ano para lançá-lo em 2023.

LEIA MAIS

Você pode gostar...