Braskem tem terceiro Roberto em quatro anos e esfria chances de venda

A mudança de CEO da petroquímica Braskem, anunciada na manhã desta segunda-feira (4), pegou o mercado de surpresa. E foi entendida como um sinal de que Emílio Odebrecht – controlador da Novonor, principal acionista da Braskem – quer aumentar sua ingerência sobre o rumo da petroquímica. Como consequência, reforça a ideia de que a venda da Braskem não deve acontecer tão cedo.

A Novonor é a acionista majoritária da Braskem, com uma fatia de 38,3% do capital total. Já Petrobras é dona de 36,1% e outros 25,6% estão pulverizados no mercado. Só que, em 2014, a então ex-Odebrecht deu esse lote de ações como garantia de uma dívida contraída junto a cinco bancos – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES. Há anos os bancos tentam vender essa participação como forma de reaver os recursos, estimados hoje em R$ 15 bilhões. O valor da mercado da Braskem, hoje, é de cerca de R$ 13 bilhões.

Em fato relevante, a Braskem informou nesta manhã a troca de Roberto Bischoff, no cargo há menos de dois anos (ele assumiu a cadeira em janeiro do ano passado), por Roberto Paraiso Ramos, que foi vice-presidente da petroquímica em 2002. Trata-se do terceiro Roberto na função de CEO em um período de quase quatro anos: em 2020, Roberto Simões assumiu o cargo, e foi substituído por Bischoff três anos depois. Antes de Simões, o CEO era Fernando Musa, que permaneceu no cargo durante dez anos.

Na visão de fontes próximas à companhia, ouvidas pelo InvestNews, Ramos é um executivo com um perfil “odebrecheriano” – com uma trajetória longa junto a Emílio. E que, portanto, teria muito mais disposição em seguir as orientações do empresário para lidar com os diferentes desafios da empresa. É por isso que o movimento sugere que as movimentações para a venda da Braskem podem ter mesmo voltado à estaca zero.

Ramos, que hoje tem mais de 70 anos, foi vice-presidente da Braskem entre 2002 e 2010, período em que foi implantado o Projeto Etileno XXI no México. Ele também ocupou a cadeira de presidente da Ocyan, antiga Odebrecht Óleo e Gás, vendida em dezembro de 2023 para a americana EIG.

Planta da Braskem em La Porte, Texas (Divulgação)

Assim como Emílio, Ramos também foi investigado pela Operação Lava-Jato. O executivo foi preso em 2016, na 26ª fase da operação, conhecida como “fase Xepa”, que investigava uma divisão na Odebrecht destinada ao controle de pagamentos de propinas. Ele não chegou a sofrer acusação formal.

Troca-troca

As recentes trocas de comando são atribuídas por interlocutores próximos da companhia à piora do desempenho financeiro da companhia. O permanente estado de “à venda” e o ciclo negativo do setor petroquímico global vêm há vários trimestres afetando a empresa.

No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou um prejuízo de R$ 3,736 bilhões, 385% maior ante as perdas de R$ 771 milhões no mesmo período de 2023. O resultado foi pior na comparação com os três meses imediatamente anteriores, quando havia apurado prejuízo de R$ 1,345 bilhão, de acordo com o balanço trimestral divulgado pela empresa.

Ao mesmo tempo, a empresa vem sofrendo com os efeitos do colapso de uma mina de sal-gema em Maceió, em dezembro de 2023, provocando o afundamento de cinco bairros e obrigando mais de 50 mil pessoas a deixarem suas casas. A empresa já pagou mais de R$ 9 bilhões em indenizações.

Venda suspensa?

A troca do comando da Braskem, na visão dos especialistas que acompanham a companhia, é um sintoma dos efeitos negativos que a companhia vem sofrendo por causa da demora na definição da venda da companhia. Mas também pode ser um indício de que o negócio não deve sair tão cedo.

A situação da petroquímica é complexa: embora a Novonor seja a acionista majoritária, a ex-Odebrecht transferiu, em meio à crise deflagrada pela Operação Lava Jato, todas as suas ações nas mãos dos cinco bancos – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES – como garantia de sua dívida, estimada em R$ 15 bilhões. É essa fatia que está, há anos, em discussão.

Grandes companhias, tanto brasileiras como estrangeiras, já manifestaram interesse em comprar o controle da Braskem. Somente em 2023, a companhia recebeu ofertas da petroquímica Unipar, do grupo J&F e da Adnoc, estatal do setor de petróleo dos Emirados Árabes. O que inviabilizou o avanço das conversas foi, segundo fontes, uma certa intransigência por parte dos bancos em relação ao preço oferecido.

Em agosto, conforme o InvestNews noticiou, a Novonor encaminhou um plano para tentar acabar com o imbróglio. A ideia era transformar os bancos credores em co-controladores da Braskem. Ou seja, eles passariam a ser os donos das ações da Braskem que pertencem à Novonor e que foram dadas aos bancos como garantia da dívida.

O problema é que, hoje, a empresa vale menos do que a dívida. Além disso, no plano apresentado, a ideia é que a Novonor permanecesse com uma pequena fatia da Braskem, algo que vem sendo rejeitado pelos bancos. As negociações não avançaram.

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